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A tomada do poder pelo corporativismo no Brasil

Fonte: Folha de Londrina

Pois um dia criamos uma nova casta aristocrática, cujo marco zero foi a chegada de dom João VI (em 1808, a corte foi transferida de Lisboa para o Rio de Janeiro), simbolizada pela frase "O Estado sou eu". 

E agora, no alvorecer do século 21, a sensação é de estarmos enredados e sufocados por esta cultura do privilégio. Eu diria que enfrentamos níveis insuportáveis deste mal. 

Esta casta se utiliza de sofismas como a ideia dos "direitos adquiridos", ou distorce os princípios de garantias constitucionais como a estabilidade de emprego e o direito à greve, para manter seu poder e continuar sugando o Estado. Elabora planos de carreiras, cargos e salários para legitimar abusos inaceitáveis na lógica dos pobres pagadores de impostos. 

Aplica na prática os ensinamentos de Antonio Gramsci, filósofo marxista italiano que pregava a tomada de poder não mais pela força, mas pela hegemonia cultural, a qual orienta como o Estado deve usar as instituições culturais para tomar e conservar o poder, tendo como alvos principais o sistema educacional, as instituições religiosas e os meios de comunicação. 

Essa casta transformou a universidade pública brasileira num grande "quartel-general" dessa metodologia, adotando dentro dessas instituições o "politicamente correto". 

A formação em massa do cidadão "politicamente correto" se converteu em um extenso modelo de dominação, com grandes tentáculos aparelhando grande parte do Estado brasileiro, nas três esferas de poder, sem contar a imprensa e a vida religiosa. 

Como resultado desse processo histórico, político e cultural, criamos um Estado que hoje não cabe mais dentro do PIB, com enormes injustiças no modo como é operado. Os salários dos servidores públicos são, em média, 80% maiores que os do setor privado. As aposentadorias dos servidores são cinco vezes maiores do que o dos brasileiros que vendem sua força de trabalho ao mercado privado. O Legislativo e o Judiciário brasileiros estão, proporcionalmente, entre os mais caros do mundo. 

A pergunta que não cala é: diante deste quadro, devemos realmente resistir às reformas? 

Será que enfrentarmos as distorções e as injustiças criadas por este Estado ineficiente, corrupto, corporativista, patrimonialista e contaminado por toda sorte de privilégios adquiridos é uma posição que ameaça nosso futuro? Não seria o contrário? 

Será que não estamos apenas compactuando com este modelo de Estado quando nos calamos diante dos gritos histéricos das corporações? 

A quem interessa o "deixa tudo como está" senão àqueles que se beneficiam desse monstro devorador de recursos? Será que não precisamos de um contraponto eficaz contra as falsas narrativas que eclodem a cada tentativa de avanço, a cada tentativa de alcançar mais equilíbrio na nossa balança social? 

Será que as ideias e as práticas da corte que desembarcou 200 anos atrás no verão carioca sempre irão prevalecer, ainda que continuem alijando as perspectivas da população, penalizando principalmente as faixas mais indefesas, maiores vítimas do nosso desequilíbrio fiscal e da nossa recessão? 

Já não podemos tolerar as campanhas difamatórias contra qualquer esforço que preze pela austeridade e transparência nos gastos públicos. Este comportamento está nos condenando à imaturidade democrática. 

Não podemos admitir um Estado incapaz de investir em infraestrutura e em ações estratégicas porque destina toda sua energia financeira para acalmar a ala mais ruidosa e radical do funcionalismo. 

Essa gritaria agride nossos ouvidos, nosso bom senso, nosso bolso. Precisamos de menos barulho e mais reflexões honestas sobre qual Estado pretendemos construir. Um novo modelo de poder público, mais enxuto, realista, eficiente e focado nos interesses do contribuinte. 

Enfim, precisamos nos distanciar das ideias e práticas que desembarcaram, se instalaram e se enraizaram no poder público desde os primórdios da nossa autonomia política. Só assim vamos avançar na velocidade que merecemos. 


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