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A moeda nossa de cada dia

Por Ranulfo Pedreiro – Revista Mercado em Foco – ACIL

 

Ele está nos bolsos, cofrinhos, embaixo do colchão, em latas de bolacha, bancos, porta-luvas, pastas executivas, meias, malas, carteiras, moedeiros e chegou ao mundo virtual, transformando bits em valores.

O dinheiro diz muito sobre um povo. Sua circulação revela hábitos, manias, medos, crendices e preconceitos. Especialmente em um país cujo nome foi herdado de sua primeira moeda: o pau-brasil.

Desgastada pelo uso no dia a dia, a moeda esconde a tecnologia na riqueza de detalhes. Basta que o leitor dê uma olhada nos trocados que tem no bolso. A moeda de R$ 1, por exemplo, tem o núcleo de aço inoxidável cercado por anel de cobre, pesa 7 gramas, mede 1,95 milímetros de espessura, 27 milímetros de diâmetro e tem borda serrilhada intermitente. Na frente, traz o valor e a data entre grafismos marajoaras, com o Cruzeiro do Sul representando o Pavilhão Nacional. O verso mostra a efígie da República.

Sim, a moeda circulante – seja metal ou cédula – é uma fonte de informação. Não apenas de valores, mas de história. A efígie da República, por exemplo, está em todas as cédulas do Real. E marca nosso dinheiro desde a proclamação, em 1889.

Mas as moedas passaram a circular no Brasil em grande quantidade com a união das coroas de Portugal e Espanha, em 1580, atraindo o Real espanhol, o Cruzado de ouro de D. João III e o Vintém de prata de D. Manuel I, entre outras.

Aos poucos, substituíram o pau-brasil, nossa primeira moeda-mercadoria, seguida pelo zimbo (espécie de concha), açúcar, pano de algodão e fumo, como ensina a cartilha Dinheiro no Brasil, disponível gratuitamente no site do Banco Central (www.bcb.gov.br).

De lá para cá, o dinheiro acompanhou a evolução histórica do país, sendo alterado, carimbado, fundido, falsificado, desvalorizado, renomeado, manchado, revalorizado e recriado até chegarmos à atualidade, quando o Real permanece razoavelmente estável diante das moedas estrangeiras.

Esta complexa relação da moeda e seu valor passa por três princípios. Primeiro, o dinheiro permite a troca, possibilitando pagamentos e recebimentos. Também, por si só, é uma reserva de valor, embora desvantajosa porque não apresenta os juros dos investimentos – ou seja, dinheiro parado desvaloriza. E, por fim, a moeda é também um padrão, uma unidade para medir o valor de outros bens. Com tantos interesses envolvidos, é comum que o dinheiro flutue sujeito a interferências como crises financeiras, planos de governo, operações de mercado e até mesmo guerras.

 

Com quanto você anda na carteira?

Uma coisa, porém, é certa. O brasileiro sempre anda com um dinheirinho no bolso, mesmo quando afirma o contrário aos vendedores do semáforo. Afinal, 34% da população anda por aí com até R$ 20. Outros 34% carregam de R$ 20 a R$ 50, enquanto 17% têm nos bolsos entre R$ 50 e R$ 100. Bom mesmo é estar entre os 10% que passam por nós com mais de R$ 100 na carteira. Os dados são da pesquisa O brasileiro e sua relação com o dinheiro (2018), publicada pelo Banco Central (BC) em julho.

Muita gente imagina que os cartões de débito e crédito ocuparam de vez o lugar do dinheiro físico. Mas a pesquisa do Banco Central revela o oposto: 96% da população utiliza cédulas e moedas para pagar contas e fazer compras. O cartão de débito vem em segundo lugar, sendo utilizado por 52% da população. Em terceiro está o cartão de crédito, com 46%, seguido pelo débito automático (23%), transferência eletrônica (16%), vale refeição ou alimentação (11%) e outros meios (não especificado), com 7%. A pesquisa leva em conta que uma mesma pessoa utiliza diferentes meios de pagamento.

Quanto às moedas, 54% da população anda com algumas no bolso para fazer pequenas compras e facilitar o troco, mas 26% guardam em casa ou no trabalho, ou deixam no carro (10%). Para outros 4% da população, as moedas simplesmente desaparecem.

Esta é, por sinal, a percepção do comércio. Na prática, o dinheiro parece ter sumido de circulação. “Este ano teve um aumento muito grande do uso do cartão de débito e crédito. Eu não tinha a opção do vale alimentação, e tive que ir atrás porque a procura estava muito grande. Está faltando dinheiro”, revela Kedma Oliveira Carvalho, proprietária do Estação Gente Boa, uma cafeteria no Calçadão de Londrina.

A opinião é compartilhada por Patrícia Santos, funcionária da floricultura Violin, também no Calçadão. “As pessoas estão usando muito o cartão de débito e de crédito”, explica, acrescentando que, quando o pagamento ocorre em dinheiro, faltam moedas para o troco. Não é para menos: 53% dos estabelecimentos comerciais recorrem aos vizinhos para conseguir trocados.

Nem todas as lojas oferecem diversas opções de pagamento. Por exemplo: 99% do comércio aceitam pagamentos em dinheiro; 76% recebem pelo cartão de débito e 74% pelo cartão de crédito. A recepção de vale-alimentação chega a 17% dos estabelecimentos. É maior que a do cheque, aceito hoje em dia por apenas 16% do comércio, segundo a pesquisa do Banco Central.

 

Gato por lebre

Para quem usa o dinheiro físico, o maior temor é receber uma nota falsa. É o que está ocorrendo com 23% da população em 2018, número que em 2013 era maior: 28%. A melhor forma para evitar o problema é aprender como reconhecer uma nota falsa.

Felizmente, nosso dinheiro apresenta uma série de características facilmente identificáveis. Nas cédulas, a marca d’água com a figura do animal e o valor correspondente à nota aparecem contra a luz. As notas de R$ 10, R$ 20, R$ 50 e R$ 100 apresentam um fio de segurança que também é visível contra a luz. A própria tessitura da nota apresenta variações de relevo. É o que mostra o folheto Aprenda a identificar se o seu dinheiro é real, também disponível no site do Banco Central.

Se algum elemento da verificação não bater, a nota é falsa. É importante, então, seguir a orientação do BC: “O cidadão não deve aceitar notas ou moedas metálicas suspeitas de falsificação, pois são produtos de ação criminosa. É importante sempre verificar o dinheiro e seus elementos de segurança e, se não identificar algum elemento de segurança, recuse receber a cédula ou moeda”.

Atenção: se você aceitar dinheiro falso, perderá o valor, pois a nota falsa não pode ser ressarcida. E repassá-la adiante, sabendo que é falsa, configura crime previsto no Artigo 289 do Código Penal, prevendo prisão de seis meses a dois anos, além de multa.

 

Recuse notas manchadas

A onda de assaltos a bancos 24 horas também é motivo de preocupação. Os caixas eletrônicos têm um dispositivo que automaticamente mancha as notas para invalidá-las. A tinta, geralmente rosa, indica que a cédula pode ser fruto de roubo. Essa dica é séria: recuse qualquer nota manchada.

Mas o próprio caixa eletrônico pode, acidentalmente, liberar notas manchadas durante o saque. Aí vale outra recomendação do Banco Central: “Se o cidadão sacou uma cédula manchada de rosa no caixa ou em um terminal de autoatendimento, ele deve procurar qualquer agência do banco do qual é correntista e apresentar a nota manchada. O banco é obrigado a trocar o dinheiro manchado imediatamente”.

Falsificações não são novidade no Brasil. No começo do século XIX, várias casas de fundição fabricavam moedas de cobre, especialmente na Bahia. Lá, para barrar as falsificações, o governo trocou as moedas de cobre por cédulas do Tesouro Nacional. Foram as primeiras cédulas brasileiras.

Cuidar bem das cédulas é, também, economizar dinheiro. Para imprimir mil cédulas de R$ 2, o Banco Central gasta R$ 265,06, na expectativa de que elas durem, em média, apenas 14 meses. Já a de R$ 100 tem um custo de produção de R$ 322, 26 (mil cédulas), com expectativa de vida útil de 36 meses.


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