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A ponta do iceberg

Fonte: O Globo

 

A enxurrada de investimentos estrangeiros diretos (IED) em maio está por trás não só da desvalorização do dólar. Ela se apresenta como a ponta do iceberg da recuperação que se desenha no país após a recessão técnica provocada pela crise global. Motor da desaceleração desde novembro, a indústria encerrou o primeiro quadrimestre recebendo US$ 4,653 bilhões do exterior, valor equivalente aos US$ 4,886 bilhões de igual período de 2008, quando a economia estava em ritmo acelerado.

 

Seis atividades lideram a retomada: veículos; farmacêuticos; informática, eletrônicos e ópticos; máquinas e materiais elétricos; produtos diversos; e edição/edição integrada à impressão. Somados, atraíram US$ 2,476 bilhões (53,2%).

 

Os dados são do Banco Central, que acompanha 22 segmentos industriais.

 

Além do sexteto que apresentou crescimento expressivo, outros quatro segmentos — produtos de fumo; reparação e manutenção de equipamentos de informática; bebidas; e outras indústrias — mantiveram o mesmo nível de investimentos de 2008.

 

O destaque ficou por conta da produção de veículos, que na contramão do que acontece no resto do mundo, viu os ingressos de IED saltarem de US$ 607 milhões de janeiro a abril de 2008 para US$ 1,955 bilhão. O movimento é parte do novo ciclo de investimentos no setor. Segundo o presidente da associação do setor (Anfavea), Jackson Schneider, as montadoras, beneficiadas desde o fim de 2008 com redução do IPI, devem aplicar US$ 20 bilhões de 2008 a 2010: — Isso mostra que as empresas estão fazendo os investimentos previstos e se preparando para uma produção maior de veículos.

 

Especialista: ‘Não houve desistência’

 

Na área farmacêutica, os recursos subiram de US$ 73 milhões entre janeiro e abril de 2008 para US$ 366 milhões. Segundo a federação da indústria (Febrafarma), os investimentos, postergados no fim de 2008, foram retomados. A Novartis, por exemplo, está investindo US$ 200 milhões para erguer uma fábrica em Pernambuco.

 

— As economias avançadas vão mostrar, mesmo superada a crise, período longo de semi-estagnação e crescimento muito baixo do consumo das famílias. Já alguns países, como o Brasil, serão atrativos como mercado de consumo — disse o gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

 

Por isso mesmo, diz, mesmo a retração nos ingressos não pode ser lida só com pessimismo. A queda no setor de metalurgia (de US$ 2,241 bilhões para US$ 1,663 bilhão), avaliou, ocorreu pela retração do mercado externo, não pela demanda doméstica. No setor químico, os investimentos também despencaram, para só US$ 6 milhões.

 

Mas o presidente da associação setorial (Abiquim), Nelson Reis, garante: — Poucos desistiram de investir, os cronogramas foram reajustados.

 

— A perspectiva era que o Brasil voltaria a crescer tão logo a crise fosse superada. Por isso, as empresas não desistiram de investir — corroborou o professor da Unicamp Júlio Gomes de Almeida, para o qual o IED deve ser privilegiado pela política econômica por ser “aliado do crescimento”.

 

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, destacou que a entrada de investimento tende a se espalhar. E lembra que a atração de capital também se dá por compra de ações: — Várias empresas de construção civil, por exemplo, estão voltando a fazer IPOs (abertura de capital na Bolsa). Isso mostra a confiança no Brasil. Se alguma empresa do mercado americano for fazer a mesma coisa, no entanto, vai ter dificuldades.

 

O presidente da Câmara Brasileira da Industria da Construção (Cbic), Paulo Safady, confirma: a queda de IED na construção de edifícios (de US$ 415 milhões para US$ 256 milhões) aconteceu só no ajuste de estoques, que está no fim. Segundo ele, os financiamentos imobiliários cresceram 10% desde janeiro e as construtoras já estão retomando investimentos, de olho no programa Minha Casa Minha Vida.

 

Mas o setor de serviços, onde está a construção, demonstra fôlego fraco, com queda de 44,1% nos ingressos.

 

Os investimentos em serviços financeiros, por exemplo, caíram de US$ 1,7 bilhão para US$ 206 milhões.

 

— Com a crise, os bancos foram os mais afetados. Mas a retomada pode ser antecipada no Brasil devido à posição sólida dos nossos bancos — afirmou o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardemberg.

 

 


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