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Analistas questionam poder dos Brics no cenário mundial

Fonte: O Estado de São Paulo

 

 

RIO – Brasil, Rússia, Índia e China, os Brics, têm interesses divergentes, dificuldades de formar uma agenda comum e sua capacidade para influir na regulação do sistema financeiro mundial como grupo é limitada. Mas os quatro países, individualmente, são economias cada vez mais fortes, que devem ganhar espaço na governança mundial. A opinião é de especialistas ouvidos pela Agência Estado.

 

"Os países que compõem os Brics têm um papel cada vez maior no mundo, mas não sei se terão coesão e organicidade para atuar como bloco", disse o ex-chanceler e presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luiz Felipe Lampreia. Ele também tem dúvidas se o G-20 financeiro – onde os Brics atuariam em conjunto – vai continuar no nível presidencial depois da crise global. "Acho que vamos evoluir para uma ampliação do G-8 (os sete países desenvolvidos mais a Rússia) com a entrada de Brasil, China e Índia."

 

O diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas e ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, e o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências, Maílson da Nóbrega, também veem mais chances de ampliação do G-8 para G-11, com a entrada de Brasil,China e Índia. Também acham que esses países vão ganhar mais espaço em organizações multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o BIS, conhecido como o banco central dos bancos centrais.

 

"Acabou a época de os Estados Unidos indicarem o presidente do Banco Mundial e a Europa o diretor-gerente do FMI e não tem sentido a Bélgica ter mais força que a China no FMI", diz o ex-ministro da Fazenda.

 

Roberto Abdenur, que foi embaixador brasileiro nos Estados Unidos, na China e na Alemanha, entre outros países, também tem dúvidas da sustentação do G-20 ou de uma ampliação do G-8, mas acredita que os Brics estarão no grupo de maior influência, não necessariamente agindo em conjunto. "A Rússia é um anexo do G-7 e o G-7, se não está morto, foi desautorizado pela elevação do G-20, que era um grupo de ministros, para encontros presidenciais. Mas não sei até que ponto o G-20 sobreviverá assim após a crise", disse Abdenur.

Para o presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-ministro de Indústria e Comércio, José Botafogo Gonçalves, "a multiplicação de Gs é um sinal claro de que o mundo saiu da preponderância anglo-saxã, mas ainda não se sabe como ficará".

 

Botafogo acha positivo os encontros de chefes de Estado e de governo dos Brics, mas observa, como os demais, que os países têm interesses muito diferentes e, em alguns casos, divergentes. Para ele, os Brics não têm poder de influir no sistema financeiro mundial, "mas a China tem". Ele observa, porém, que "a China não quer saber de desvalorizar o dólar porque seria um tiro no pé".

 

A falta de interesse da China em tomar medidas que possam desvalorizar o dólar é consenso. "Não só desvalorizaria as reservas internacionais da China, como dificultaria as exportações chinesas aos Estados Unidos, que são o principal mercado", disse Maílson.

 

Maílson considera que o grupo não tem capacidade de influir decisivamente no ordenamento do sistema financeiro mundial. Para Langoni, essa capacidade "é muito limitada, até porque os sistemas financeiros desses países são muito limitados também".


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