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Aporte em infraestrutura é caminho para sair da crise

O debate sobre as formas para sair da crise alcançou importante perspectiva: o padrão de desenvolvimento do Brasil contribuiu para criar condições melhores para atravessar a crise. Como apontou um economista da Universidade de Campinas (Unicamp), até setembro os investimentos cresceram em níveis tão bons que superaram a evolução do Produto Interno Bruto por treze trimestres seguidos. Por essa razão, essa linha de pensamento estima que os projetos de infraestrutura devem sustentar parte considerável da atividade econômica no curto e médio prazo.

 

Esse ponto é, de fato, essencial para a retomada econômica: o papel da infraestrutura. É certo que os fornecedores industriais voltados a esses projetos de infraestrutura sairão do processo de desaceleração primeiro. Por outro lado, o setor de bens de capital vai se arrastar por mais tempo, segundo a análise desses economistas da Unicamp, insistindo em que a produção de máquinas irá enfrentar dificuldades. Para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), será "drástica". Tomando como referência os meses de dezembro de 2008 e janeiro deste ano, a queda sazonal de 10%, tradicionalmente enfrentada pelo setor, transformou-se em um recuo de 38%, retração acompanhada do corte de 8 mil empregos. No setor, se a tendência não for revertida, a estimativa é de perda de 50 mil empregos diretos apenas no primeiro semestre.

 

É verdade que, nas contas da Abimaq, o consumo aparente do setor, que soma produção interna mais importação, descontada a exportação, mostrou um recuo consecutivo de 16% em novembro, de 10% em dezembro e de outros 10% em janeiro. A explicação dessa queda está no forte recuo das exportações de máquinas e equipamentos e na desaceleração do mercado interno. É fato também que a indústria e a construção civil aproveitaram a defasagem do real em relação ao dólar para renovar o parque industrial desses setores, com fortes importações, que aumentaram a produção e derrubaram custos. A indústria nacional de máquinas e equipamentos também tirou proveito desse surto de modernização, com boa procura por maquinário novo.

 

Esse ciclo, no entanto, entrou em forte desaceleração. Já está longe da visão dos empresários o terceiro trimestre de 2008, quando o índice de investimentos ultrapassou em 17,3% a taxa obtida no mesmo período de 2007, abrindo excelentes possibilidades para a conquista de mercado à indústria nacional. Esse quadro foi substituído pela grave mudança de expectativas agora registrada, por exemplo, pela Abimaq.

 

A reversão dessa desaceleração acentuada exige um choque anticíclico com fortes investimentos em infraestrutura. O cenário na economia brasileira, no entanto, não é esse, em especial no que diz respeito aos aportes do governo. Vale lembrar que na última semana de janeiro o Ministério do Planejamento anunciou bloqueio de R$ 37,2 bilhões em despesas deste ano, correspondendo a 25% dos gastos orçamentários previstos. Se nessa conta não forem considerados os investimentos que não estão previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), esse congelamento ultrapassaria 30%. Apesar de o Ministério do Planejamento repetir que a medida foi "prudencial" frente à perda de receita pela desaceleração econômica, o corte provocou preocupação especialmente pela tesoura atingir as verbas destinadas à infraestrutura, vitimando toda a cadeia produtiva a ela ligada.

 

Esses cortes não impedem que em intervalos regulares o governo divulgue balanços sobre o andamento de mais de 2 mil ações do PAC. Nessas avaliações, sempre mais de 80% das obras do programa ganham um selo de aprovação, demonstrando que caminham em ritmo adequado, isto é, serão entregues no prazo acordado em contrato. Nessa prestação de contas oficial apenas 8% do PAC enfrenta problemas.

 

A realidade, no entanto, é um pouco diferente dessa apuração oficial. Basta lembrar o atraso na construção da nova avenida de acesso ao porto de Santos, considerada fundamental para resolver gargalos de infraestrutura, ou a usina de Dardanelos, que será a maior hidrelétrica do Mato Grosso, ou a perfuração de sete poços de gás na área de Mexilhão, todas obras com execução atrasada, mas que continuam consideradas em ritmo adequado no balanço do PAC.

 

O volume de recursos alocados nos projetos do PAC é significativo, mas a execução real desses orçamentos é muito instável. Desse modo, o incentivo à infraestrutura e a toda a cadeia produtiva que ela estimula é muito modesto. Ou esse quadro muda, ou a crise levará muito mais tempo para ser superada no País.

 

Fonte: Gazeta Mercantil


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