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As pequenas locomotivas de uma grande composição

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL -​ Por Samara Rosenberger

Sempre que uma novidade chega nas araras, Francielle faz stories no Instagram, manda mensagem para as clientes e amigas no WhatsApp e coloca as peças da antiga coleção em promoção, em um espaço especial destinado na frente da loja. Antes, ela trabalhava sozinha, agora, tem uma funcionária fixa que a ajuda a revezar nas folgas dos fins de semana. Na última ação de marketing que ela mesma elaborou, no Dia das Mães, clientes e amigas elogiaram a boa música ao vivo e o coquetel com brigadeiros e champanhe: mimos que toda cliente gosta. Um pequeno negócio que sustenta toda a família, composta pela mãe e filho de cinco anos, e ainda faz girar a engrenagem da economia.

A loja de roupas da Francielle é uma entre tantas que contribuiram para a criação das 54,9 mil vagas formais no País, geradas exclusivamente pelas pequenas empresas em abril. O número representa 90% do total de empregos abertos em carteira assinada. Em contrapartida, as médias e grandes empresas criaram apenas 5 mil postos de trabalho.

“A micro e pequena empresa têm um papel preponderante, principalmente neste momento econômico com a taxa de desemprego bastante elevada”, explica o consultor econômico da ACIL Marcos Rambalducci. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de desempregados no Brasil, nos três primeiros meses de 2018, foi de 13,7 milhões de pessoas. “Este é o papel do pequeno empreendedor, de absorver a força de trabalho de quem não conseguiu encontrar um emprego formal, considerando a vantagem de aceitar mão de obra que não precisa ser tão bem qualificada”, completa.

Outra vantagem é o perfil adaptável de sobrevivência diante da crise. “A constituição dos pequenos negócios é mais rápida e tem preferências tributárias que ajudam na velocidade de inserção de mão de obra”, diz. Diante disso, a flexibilidade aparece como atributo essencial para o reposicionamento e remodelamento, características ausentes das grandes e médias empresas.

Em Londrina, os dados também são animadores. Segundo o Sebrae, das 81 mil empresas em pleno funcionamento, 61 mil estão nas categorias micro e pequenas, as quais criaram 82 postos de trabalho em março e permanecem com sua trajetória positiva. Na outra ponta, os grandes assinaram 229 contratos de rescisão.

“Os profissionais desligados buscam novas oportunidades. Umas delas, é direcionada a empreender. Fazendo isso, os novos empresários buscam a contratação de mais pessoas. Isso tudo gera e contribui para os dados acima citados”, explica Fabrício Pires Bianchi, gerente da Regional Norte do Sebrae-PR. O estado acompanha a onda positiva, tendo apresentado pelo terceiro mês consecutivo mais de 2,4 mil postos de trabalho.

As precursoras startups

Na opinião do gerente do Sebrae, as startups foram as principais responsáveis pelo novo modelo de negócio. “Elas acabaram ganhando força e vigor nos últimos anos, no máximo de uma década para cá, especialmente devido à popularidade dos smartphones, que possibilitaram a criação de aplicativos”, cita. Para ele, o novo mindset – que em português pode ser traduzido como “atitude mental” – do pequeno empresário é a peça-chave para o sucesso.

“Essa mudança vem influenciando o comportamento do empreendedor e de quem deseja empreender. As pessoas veem novas oportunidades no que já existe ou enxergam algo que pode fazer a diferença e fugir do modelo tradicional. O foco no mindset facilita novos negócios”, analisa Bianchi ao mencionar que as empresas tradicionais se viram obrigadas a repensar suas estratégias diante da proliferação dos criativos de plantão.

Recém-formados e profissionais estreantes também têm apostado na inovação e aberto suas empresas, em desabalada fuga do mercado de trabalho. “Há um movimento forte de alunos saindo e montando seu próprio negócio. Como eles sabem que carteira assinada é um problema, entram na lógica empreendedora, entendendo o que o mercado precisa e entregando um produto com valor agregado”, destaca Marcos Rambalducci.

Evite errar

É preciso ter expertise para aproveitar o cenário facilitador, comportamento que nem sempre acontece. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Sebrae e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), um terço dos negócios no Brasil naufraga em apenas dois anos.

Entretanto, isso não significa que o potencial empreendedor deve desistir e abandonar o barco definitivamente. “Não estar capacitado não quer dizer que você não pode se preparar. Ou seja, enquanto a pessoa está formando sua empresa e tentando colocar seu produto, deve aprender conceitos de marca, precificação e buscar conhecimento agregado. É um processo de aprendizagem”, recomenda o consultor econômico.

Para evitar que isso aconteça, é importante um treinamento. Um excelente profissional nem sempre será um ótimo empresário. “Este é um dos erros mais recorrentes. A pessoa pode ter conhecimentos completos na área em que atua, mas tem dificuldades em gerir um negócio”, pontua Fabrício Bianchi.

Algumas armadilhas elencadas por ele são: não ter a política correta de contratação de funcionários, não entender o perfil do cliente, ansiedade combinada com ausência de planejamento e confundir afinidade com desejo de trabalhar no setor escolhido.

“A seguinte situação acontece de forma frequente. Um potencial empresário diz: ‘Adoro esportes e, por isso, vou abrir uma loja de artigos esportivos’. É diferente gostar e querer trabalhar nesse nicho. É necessário o mínimo de expertise ou pelo menos se aproximar de pessoas que estão nesse mercado”, acrescenta.

Desconhecer a demanda do cliente e os detalhes dos produtos e serviços também significa empreender de maneira equivocada. “Muitos empreendedores olham só para o que o concorrente faz, enquanto deveriam estudar e apresentar um diferencial para oferecer algo melhor”, aconselha Bianchi.

Para Marcos Rambalducci, a discussão é ainda mais profunda. “A educação brasileira trabalhou na formação de empregados por décadas a fio. Desde os anos 1970, o sonho dos pais era de que o filhos trabalhassem em empresas públicas. Ainda há resquícios dessa época. Há necessidade de uma ginástica no que diz respeito ao comportamento e educação. Nas culturas anglo-saxônicas, a exemplo dos EUA, as crianças são educadas para o empreendedorismo. Nós, latinos, ainda temos o comportamento de deixar os filhos sob nossas asas, o que não favorece o deslanchar dos novos negócios”.

ACIL x Pequeno empresário

Visando auxiliar na capacitação e treinamento do micro e pequeno empreendedor, a ACIL tem atuado em duas frentes importantes. A primeira consiste na participação no Comitê Geral da Lei da Micro e Pequena Empresa, em parceria com o Sebrae e o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon).

“O trabalho principal é a desburocratização dos processos necessários para a abertura de empresas, como o esclarecimento das regras que compõem o Plano Diretor e a emissão de alvarás, por exemplo”, explica Ricardo Beraldi Rodrigues, diretor de Micro e Pequeno Empresário da ACIL.

A segunda é voltada ao Programa Compra Londrina, cujo objetivo é incentivar empresas locais a participar de processos licitatórios da Prefeitura. “Ainda existe uma crença errônea de que não há credibilidade nos órgãos públicos. Atuamos na desconstrução dessa ideia e no esclarecimento dos fatos. O resultado é positivo para todos. O município ajuda uma empresa local, que reverte seus ganhos para a própria cidade e contribui para o aumento do PIB, geração de empregos, arrecadação de impostos e fomento da economia local”, conclui.

Inflação e juros em queda: isso é passageiro?

Por Marcos Rambalducci

“Temo que não dure muito tempo. Temos um panorama bastante adverso em relação a quem vai assumir o Governo Federal. Se as ideias vencedoras da eleição não propiciarem uma reforma econômica, e falo especialmente da Reforma da Previdência, teremos um processo de endividamento acentuado, fazendo com que o governo aumente a taxa de juros para financiar o seu deficit, que hoje beira a 80% da nossa dívida pública geral, municípios, estados e federação”.

Sendo assim, o eventual aumento de juros traria diversas implicações como, por exemplo, a elevação de custos. E nós estamos em cima de outra bomba, a taxa de câmbio, que tem mostrado uma sobrevalorização do dólar frente ao real, com alto potencial de trazer inflação. Isso porque aumenta os preços dos produtos que estão sendo exportados e, consequentemente, também eleva o preço dos que são vendidos no mercado interno.

Existe um potencial para que esse cenário permaneça por mais prazo, mas ao mesmo tempo, há uma espada sobre a nossa cabeça em relação ao próximo governo, cujas políticas podem implicar no encurtamento do controle da inflação de juros baixos.

A baixa taxa de juros incentiva o investimento a médio e longo prazo, mas fica difícil tomar uma decisão neste momento. Por um lado, temos boas oportunidades. Em contrapartida, a insegurança que serve de amarra e impede que investidores peguem crédito e invistam em bens de capital para aumentar produção e gerar empregos e demanda”.


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