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Brics buscam regulação financeira conjunta

Fonte: O Estado de São Paulo

 

As quatro maiores economias emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (os Brics), vão atuar de forma coordenada na reforma do sistema financeiro e exigem mais poderes para os países em desenvolvimento nas instituições financeiras internacionais e na Organização das Nações Unidas (ONU). A decisão foi tomada na noite de ontem, ao término da primeira cúpula dos Brics, em Ecaterimburgo, na Rússia.

 

O objetivo da estratégia é reforçar a posição dos quatro países, em especial para a próxima reunião do G-20 (grupo dos 20 países mais industrializados), marcada para Pittsburgh, nos Estados Unidos, em setembro. Antes, será aplicada no encontro dos sete países mais ricos e a Rússia (G-8), no mês que vem, na Itália.

 

O anúncio da cooperação foi formalizado na declaração oficial do evento e reafirmado em entrevistas dos líderes políticos do bloco. O texto, com 16 itens, é conclusivo sobre as pretensões dos Brics em relação aos parceiros industrializados. "As economias emergentes e em desenvolvimento devem ter mais voz e representação nas instituições financeiras internacionais e seus líderes e diretores devem ser designados por meio de processos seletivos abertos, transparentes e baseados no mérito."

 

Nos demais tópicos, os Brics pedem uma arquitetura econômica amparada na democracia, em bases sólidas e reguladas e clamam pela reabertura das negociações da Rodada Doha. Pedem, ainda, apoio aos países pobres e o suporte às energias renováveis. Em declaração anexa sobre segurança alimentar, os Brics defenderam a transferência de tecnologia para a produção de biocombustíveis e o desenvolvimento técnico da produção agrícola.

 

A ênfase, contudo, foi voltada para a cooperação para a reforma do sistema financeiro. O documento, porém, deixou de fora duas importantes iniciativas de Moscou: um papel menor para o dólar e uma moeda supranacional como reserva de valor .

 

Ao término do evento, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, explicitou a intenção de organizar uma estratégia comum. "Vamos coordenar o nosso trabalho e discutir os parâmetros de uma nova arquitetura financeira", afirmou o chefe de Estado.

 

Segundo Medvedev, os presidentes dos bancos centrais e os ministros de Finanças, de Energia e de Agricultura dos quatro países farão encontros periódicos para organizar as estratégias comuns. E, em 2010, uma nova cúpula deverá ser realizada no Brasil. "Vamos incumbir os presidentes de bancos centrais e os ministros de Finanças de prepararem ideias e sugestões vitais para elevar a cooperação ao nível mais alto."

 

Horas antes, em encontro com Medvedev, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma declaração no mesmo tom. "Esta crise exige um pouco mais de ousadia para que discutamos o papel das organizações internacionais e dos Brics."

Lula ainda pediu mais interação e mais reuniões entre Brasil e Rússia. O presidente afirmou, com a aprovação do colega russo, que a crise atual "recupera o papel do Estado".

 

Encerrado o evento, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, deu mais detalhes sobre a cúpula, que também teve a participação do presidente da China, Hu Jintao, e do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.

 

"Os Brics poderão agir de forma conjunta, sobretudo em termos financeiros", ratificou Amorim. "Não significa que em tudo vamos ter posições comuns. Mas em reuniões do G-20, em encontros sobre temas econômicos e financeiros certamente haverá um esforço para continuar e aprofundar o esforço feito hoje."

 

Analistas afirmam que a semelhança entre os quatro países do Bric praticamente se resume ao robusto crescimento econômico dos últimos anos. Suas posições políticas e prioridades globais diferem muito e diplomatas se perguntam se o fórum poderia impulsionar posições fortes e unidas.

 

FRAQUEZA

 

A cúpula dos Brics também confirmou a preocupação crescente dos emergentes em traduzir sua força econômica em influência política, lançando-se como contrapeso às posições dos sete países mais ricos. Amorim afirmou que o presidente Lula manifestou aos colegas preocupação com o suposto esvaziamento do G-20.

 

Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, discordara de Amorim ao dizer que o "G-8 não morreu", que a cooperação é crescente e "o G-5 será um parceiro integral do G-8". Mas demonstrou sintonia sobre a falta de força dos emergentes entre as maiores economias.


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