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Brics, G20 e FMI

FONTE: Folha de São Paulo

 

 

OS LÍDERES dos Brics (Brasil, Rússia, China e Índia) reuniram-se anteontem na Sibéria. A próxima cúpula será no Brasil, em 2010.

 

Como o leitor pode imaginar, muitos encontros internacionais são de uma inutilidade total. Não creio que tenha sido o caso dessa reunião. O ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, observou que o fortalecimento da posição internacional do Brasil passa pela aliança estratégica com Rússia, China e Índia. Essa aliança, disse ele, tem potencial para redefinir o cenário geopolítico.

 

O Itamaraty e o Ministério da Fazenda também estão conscientes da importância desses entendimentos.

 

A minha experiência no FMI e no âmbito do G20, nos últimos dois anos, sugere que o formato Bric tende a tornar-se um elemento central da atuação internacional do Brasil.

 

A composição do grupo não é acidental. Outros países em desenvolvimento importantes -México e África do Sul, por exemplo- não têm autonomia para contrapor-se à agenda dos desenvolvidos. Brasil, Rússia, China e Índia estão entre os dez maiores países do mundo em extensão territorial, população e PIB. Os Brics respondem por 20% do PIB mundial (pelo critério de paridade de poder de compra).

 

Os Brics estão também entre os maiores detentores de reservas internacionais. Por isso, foram instados a contribuir para o esforço de aumentar em US$ 500 bilhões os recursos à disposição do FMI, como acordado na cúpula do G20 em Londres. Desse total, uma boa parcela virá dos Brics. A China pretende entrar com US$ 50 bilhões; o Brasil e a Rússia, com US$ 10 bilhões cada um.

 

A Índia deve anunciar em breve o valor do seu empréstimo.

 

Aqui no FMI, a coordenação entre os diretores dos Brics vem se intensificando desde o ano passado. Existem, é claro, divergências, mas não tem sido difícil chegar a posições comuns. Na preparação da cúpula do G20 em Londres, os diretores dos Brics, juntamente com o da Argentina, trabalharam em estreita cooperação, o que nos beneficiou nos embates com os defensores do "status quo" internacional, entre quais se destacam os europeus.

 

Uma das grandes questões é a sub-representação dos Brics no Fundo e no Banco Mundial. No FMI, os Brics têm apenas cerca de 10% dos votos totais, aproximadamente metade do seu peso no PIB mundial.

 

No comunicado de anteontem, os líderes dos Brics fizeram referência a essa questão. Querem promover a democratização das instituições financeiras internacionais. Indicaram, além disso, que os Brics vão trabalhar em conjunto na preparação da próxima cúpula do G20, que se realizará em Pittsburgh, nos EUA, em setembro.

 

Na cúpula do G20 em Londres, o progresso foi limitado em matéria de democratização do FMI e outras instituições internacionais. Para que Pittsburgh seja diferente, será preciso provavelmente corrigir os problemas de governança do G20.

 

Em Londres, as minutas dos comunicados -os documentos que registram as decisões tomadas por consenso- foram apresentadas com pouca antecedência, dificultando a preparação dos países. Adotou-se também o artifício de manter os líderes relativamente isolados, dificultando o acesso das equipes às reuniões em que foram finalizados os comunicados. Além disso, surgiram propostas de última hora sobre temas controvertidos, o que levou a decisões apressadas, não amparadas em discussões preparatórias.

 

As velhas potências podem estar decadentes, mas continuam cheias de truques, manobras e manhas


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