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Conheça as transformações do líder em tempos de pandemia

Fonte: Assessoria da ACIL

Os novos tempos que vieram com a pandemia provocada pelo coronavírus exigem novas posturas dos líderes corporativos. Para entender melhor este desafio, a ACIL conversou com Sonja Lemos, integrante do Núcleo Profissionais de Coaching de Londrina, que integra o Programa Empreender da ACIL. O bate-papo foi realizado na sexta-feira (29) e está disponível em nosso Instagram (@acillondrina). Confira a íntegra:

Quais foram as mudanças que ocorreram neste cenário, que pegou todo mundo de surpresa. Como os líderes foram afetados por essa pandemia?

SONJA LEMOS – Foi um impacto muito grande no mundo todo. Nós não acreditamos que chegaria até nós, e por isso a gente não se preparou. A primeira coisa que aconteceu dentro das organizações foi em relação à dinâmica do trabalho efetivamente. Tivemos que parar, ir para casa, nossa dinâmica mudou completamente. As pessoas tiveram que buscar novos hábitos e novas formas de trabalhar. Mexeu com todo mundo e, nesse momento, nosso maior aliado foi a tecnologia. A tecnologia veio, de certa forma, garantir que nós conseguíssemos nos reinventar. Mas nem todo mundo tem facilidade com a tecnologia. Nem todas as empresas estavam preparadas tecnologicamente. Muita coisa foi feita de forma caseira, usando o celular e a internet. Isso foi uma facilidade, mas também um dificultador. Todo mundo teve que correr atrás dessa tecnologia para que ela pudesse realmente facilitar a vida. Muitas empresas tinham um modelo de gestão mais centralizador, não estavam acostumadas a ter seus colaboradores longe, e tiveram que partir para uma gestão mais descentralizada. Isso também é bastante desafiador para quem gosta de ter o controle. A comunicação é uma grande aliada. Como eu faço para me comunicar com as pessoas que estão longe? Como explicar o que eu preciso? Como eu transmito clareza e assertividade? A comunicação é o maior dos nossos problemas. As pessoas também tiveram que aprender a falar, a se comunicar. Acredito que a gente ainda está nesse processo, tentando fazer isso. E as respostas tinham que ser rápidas, então eu tive que sair daquilo que eu estava acostumado, que eu fazia todo dia, que dava certo, para reinventar o meu modo de viver. E não é todo mundo que tem facilidade em sair da zona de conforto, daquilo que já conhece, daquilo que já sabe. Então as empresas e seus líderes foram extremamente afetados com tudo isso.

A equipe espera muito do líder e depende muito da capacidade do líder em motivar. O próprio líder teve que se reinventar. De que forma esse líder pode se capacitar para continuar a desempenhar seu papel frente às equipes?

É preciso manter a calma e a mente aberta. E aceitar que este é um momento de incerteza e que ele não tem controle sobre tudo. Tem que baixar o nível de ansiedade, entrar em contato com as suas emoções, para poder lidar com as equipes. As pessoas estão passando pelo mesmo processo. Vivendo o momento com muitos medos e muitas incertezas. Eu acredito em ter uma postura de humildade, de saber que sozinho eu não vou conseguir. Este é um momento novo para todo mundo. É preciso buscar ajuda dos seus pares, de outros profissionais, em outras empresas, em outros segmentos, buscar compreender o que está acontecendo com as pessoas, como elas estão lidando com isso. E, principalmente, buscar a ajuda da sua equipe. Porque são eles que estão na linha de frente, eles conhecem o dia a dia, eles conhecem bem o processo. A equipe pode ajudar muito a liderança, trazendo ideias e sugestões. Buscar fazer uma gestão mais compartilhada. Sair do isolamento de líder e buscar ajuda onde conseguir. É por aí que ele pode começar a se reinventar. 

A comunicação é importante até para conseguir se aproximar da equipe. 

O líder precisa ajudar a equipe a se adaptar a este novo cenário usando uma comunicação mais clara, mais transparente, mais honesta. Este não é o momento de amenizar o que está acontecendo, mas de buscar alternativas junto à equipe para passar por este momento, que é de sacrifícios para todos. E ele não pode perder o foco do resultado que ele precisa atingir. Ele precisa dar resultado para a empresa mesmo neste momento. Mas não pode esquecer também que é um momento de muita fragilidade, que mexe com a questão da saúde, da segurança. As pessoas ficam mais resistentes, o medo aumenta muito. Ele precisa se fazer presente. Como se fazer presente quando se está à distância? As pessoas precisam perceber a presença da liderança. Perceber que ele está ali por elas justamente tendo essa clareza e essa honestidade frente a este cenário que está acontecendo. Não é uma tarefa fácil, exige muito, porque tem que trabalhar com as suas próprias dores, os seus próprios medos, a sua própria ansiedade, para transmitir um pouco mais de segurança para a equipe. Ela só vai conseguir andar com mais firmeza quando sentir que o líder está junto.  

Resiliência seria uma palavra para este momento? Como o líder pode ajudar a encontrar um equilíbrio? Como provocar essa resiliência nas pessoas? 

É uma tarefa extremamente desafiadora. O líder precisa entender e gostar de pessoas. Como é que eu vou motivar as pessoas neste momento de tantas incertezas? Ele precisa olhar para suas fraquezas para poder lidar com as fraquezas dos outros. Eu não sei tudo, não tenho todas as respostas, mas vamos caminhar juntos para achar o melhor caminho. A zona de conforto já não existe mais. É preciso experimentar coisas novas, não posso mais ficar pensando em como eu fazia. Este novo normal exige novas posturas e novas descobertas. E essas descobertas vão ser feitas junto com a sua equipe. Vamos aprender juntos como passar por este momento. Mas o líder é aquele que vai à frente, que vai comandar, que vai abrindo os caminhos junto com a equipe. Não existe uma receita. A liderança precisa estar muito atenta ao estilo de cada membro da sua equipe. Existem aqueles que vão estar mais disponíveis, mais corajosos. Ele precisa ter aliados e estar muito atento a isso. A gente fala em home office, mas na verdade a gente adquiriu um estilo de trabalho remoto. A gente ainda não foi para aquele modelo de home office que se espera. E o que é esse trabalhar de casa? É a família, todo mundo no mesmo espaço, filhos em casa, sem ir para a escola, afazeres domésticos ao mesmo tempo, marido e mulher dentro de casa trabalhando no mesmo espaço, tendo que cuidar das crianças, do almoço, do jantar, e as empresas demandando muito trabalho. Esse não é o melhor modelo porque mistura o trabalho e a vida familiar. E a liderança está muitas vezes cobrando o trabalho e esquecendo da vida familiar. Mas o colaborador não tem como esquecer da sua vida familiar. As empresas precisam ter uma compreensão maior neste sentido. É preciso ter horário, regras e dar maior autonomia.

Qual a maneira mais eficaz para o líder conseguir a produtividade de uma equipe que está trabalhando de forma remota?

Ter uma organização é bastante importante. Ter horários para fazer reuniões tanto individuais quanto em equipe. Se eu não combino e chamo a qualquer hora, eu também estou prejudicando quem está em casa tentando fazer o seu trabalho e cuidando dos seus afazeres. Ter uma programação para tocar o trabalho é extremamente importante. Ter uma pauta do que nós vamos fazer. O feedback imediato é bastante importante. Não deve esperar muito tempo para dizer o que está indo bem e o que não está. Essa organização precisa acontecer. É preciso se organizar até mais para esse trabalho remoto, porque eu vou estar invadindo a vida familiar do outro se eu não tiver essa organização.

Mesmo à distância é possível manter a equipe engajada?

É um desafio muito grande. Mas eu posso conseguir esse engajamento durante uma reunião online com toda a equipe. Falar sobre o que está acontecendo e os progressos que estamos fazendo, as dificuldades que estamos tendo, dar mais autonomia para as pessoas darem opiniões, sugestões. Isso é muito importante. Dar ao trabalhador a oportunidade de contribuir, e não ficar o tempo todo cobrando. Cobrar por entrega, não por tarefa. Essa autonomia dá uma responsabilidade maior e um engajamento maior. 

A confiança é um elo importante entre o líder e a equipe para a produtividade neste momento especial.

É a maior arma do líder. Se ele tem uma equipe que confia nele, o líder vai ter mais sucesso para atingir os objetivos e as metas. 

Como seria uma rotina ideal do líder com sua equipe neste momento?

Eu não acredito em um ideal… Cada segmento, cada empresa, cada organização tem uma realidade. Eu preciso manter o contato com essas pessoas para falar sobre o que está acontecendo. O contato, tanto à distância quanto presencial, é extremamente importante. Mas não adianta ter este contato se o outro não me perceber presente de verdade. Nós não temos mais como voltar atrás. Não há como ter um modelo de gestão como eu tinha antigamente. A gente precisa de uma liderança para formar pessoas. Porque em outros momentos de crise ou de incerteza, eu preciso ter pessoas preparadas, com senso crítico, que olhem para o que está acontecendo. Aquele líder que se acha dono da situação, que só ele sabe, que só ele manda e os outros obedecem, não tem mais espaço. Esse líder já morreu, vamos dizer assim. É um líder que precisa ser criativo, inovador, e dar possibilidade para as pessoas criarem e inovarem. E as pessoas só vão criar e inovar se elas forem preparadas para isso. É preciso investir no desenvolvimento da equipe tanto na questão técnica quanto na questão comportamental. Mexer com as pessoas para elas buscarem soluções. Acreditar que as pessoas podem dar o melhor de si se elas forem estimuladas. Eu preciso demonstrar que este movimento de pensar e procurar alternativas é importante para a empresa como um todo. É o momento de não perder talentos. As equipes ficaram mais enxutas em muitos lugares e a gente precisa ter a preocupação de não perder talentos. São esses talentos que vão nos ajudar a continuar.

E aquele líder que está com a equipe desmotivada, como reverter o jogo num momento em que todo o cenário mudou?

Primeiro, ele precisa entender por que está perdendo a equipe. O que está acontecendo? Por que as pessoas estão desmotivadas? Ele pode estar perdendo o controle porque deixou de prestar atenção no que estava acontecendo com a equipe. Ele precisa falar sobre isso, sobre esses momentos. A conversa sincera sobre o que está acontecendo é muito importante. Eu não posso ficar focado apenas nas metas e nos objetivos da empresa, eu preciso também estar focado nas pessoas. A gente precisa das pessoas para que as coisas possam acontecer.

E se a gente pensar em um cenário pós-pandemia, em que a pandemia passa, mas as empresas estão diferentes e as pessoas estão diferentes, o mercado está diferente… Como seria o líder no cenário pós-pandemia?

Aquilo que a gente esperava da liderança neste mundo de hoje, a gente continua esperando. O líder acomodado já não tem mais espaço. Ele precisa buscar renovação, criatividade, novas oportunidades, olhar para o cenário, se reinventar, estar atento ao que está acontecendo em volta dele, em volta do negócio da sua empresa. Aquele líder que só olhava para o seu quadradinho, também já não tem muito espaço. Ele precisa olhar para o todo. Ele precisa compreender outras pessoas, buscar ajuda de especialistas, de outros profissionais. Ele precisa trabalhar a sua inteligência emocional porque as crises aparecem o tempo todo, afetam as pessoas e a gente precisa lidar com pessoas. São elas que nos ajudam a buscar as soluções. Ele, sozinho, não vai conseguir grandes feitos. Buscar se desenvolver e desenvolver pessoas. Este líder precisa pensar no seu desenvolvimento o tempo todo. Ele precisa olhar quais são as exigências que este mundo novo fez e ele não estava preparado, e ver como se preparar. Ele não pode só ficar esperando que a empresa dê isso a ele. Ele também precisa investir na sua carreira.

Como seria a abordagem da equipe que está desmotivada com seu líder?

A equipe precisa estar muito coesa para ter este movimento. Às vezes um colaborador acaba tendo essa iniciativa, mas se a equipe toda puder conversar com a liderança, falar dos seus sentimentos, buscar uma mudança junto à liderança para este momento. E o líder precisa estar aberto para receber este pedido de ajuda. Às vezes o líder está tão desesperançoso que a equipe acaba fazendo esse movimento para trazê-lo para perto.

O diálogo com o líder seria melhor no coletivo ou no individual?

Depende. Às vezes a pessoa precisa ter uma conversa sozinha com o líder e muitas vezes é um assunto que envolve a equipe toda. Precisa fazer esta avaliação. É uma coisa individual? Então vou buscar a liderança individualmente. É algo que está afetando a equipe como um todo? Então podemos conversar juntos.

Como o líder deve abordar os colaboradores no caso de demissões ou possíveis afastamentos?

Com transparência e honestidade, dizendo claramente o que está acontecendo.

Você indicaria, no dia a dia, uma atividade para o líder cuidar de sua saúde mental?

Buscar ter seus momentos de lazer. O que ele gosta de fazer? Não deixar de lado. Escolher um bom livro, assistir um filme…

O nosso lazer ficou muito mais restrito agora… 

E às vezes a telinha do computador ou do celular cansa. Eu perdi a vontade de assistir séries, uma coisa que eu adoro, porque estou sem paciência. Eu vou mais para o lado da leitura. O exercício físico, mesmo dentro de casa, é importante. Busque fazer coisas que te agradam. Eu também posso buscar ajuda fora, com outros profissionais, e aí a gente tem os profissionais de coaching, que podem ajudar a repensar minha carreira, minha vida profissional. Tem os psicólogos, que podem ajudar a passar por momentos emocionais mais complicados… Buscar aliviar a mente de tantas informações, e aí tem a meditação que é superbacana. E temos várias pessoas nos ajudando na internet com essas atividades. Mas, principalmente, não esquecer que sou um ser humano e preciso cuidar de mim. A empresa precisa de mim, preciso dar resultado, mas eu não posso esquecer da minha saúde mental. Nós passamos por um momento que está afetando a nossa saúde física, e agora está afetando a nossa saúde emocional, nós não podemos perder isso de vista. Precisamos encontrar alternativas para os negócios, mas não podemos esquecer que somos pessoas que temos emoções e precisamos cuidar dessas emoções.


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