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Contratações temporárias crescem em meio à pandemia

Fonte: Folha de Londrina

Contrariando as expectativas mais pessimistas, o mercado de trabalho temporário teve um salto nos últimos meses no País. O cenário de crise e retração econômica que se previa, resultante do longo período de quarentena e restrições impostas ao comércio e à indústria pela pandemia, não se confirmou até agora e o que se vê é uma atividade industrial a pleno vapor e ofertas de trabalho temporário em ascensão. Com os estoques abastecidos, as atenções se voltam agora para o comércio e o setor de serviços, que embora tenham experimentado uma recuperação mais lenta, também devem abrir vagas temporárias.  

Os dados são da Asserttem (Associação Brasileira do Trabalho Temporário), que projeta alta de 28% no número de contratações temporárias neste ano na comparação com 2019. No ano passado, 1.485.877 trabalhadores foram empregados por essa modalidade. Para 2020, espera-se um total de 1.900.783. As estimativas consideram o bom resultado do primeiro trimestre deste ano, quando o setor agrícola impulsionou as vagas temporárias. “Até março, tivemos uma performance muito boa, com a criação de 200 mil vagas por mês, em média. Em abril, veio a pandemia e fomos lá para baixo. Em maio, houve um pequeno aquecimento, mas em julho, agosto e setembro a indústria começou a contratar e 65% das vagas temporárias foram para este setor, enquanto 28% das contratações foram para serviços e 7% para o comércio”, disse o presidente da associação, Marcos de Abreu. “As indústrias estavam sem estoque. Em agosto, começou a correria não só para o trabalho temporário, mas para os efetivos também. Já eram encomendas para o Natal.”

Os segmentos industriais que mais buscaram reforços para o seu quadro de funcionários foram alimentos (35%), farmacêutico (19%), embalagens (15%), metalurgia (11%), mineração (8%), automobilístico (8%) e agronegócio (4%). O Paraná foi o terceiro estado que mais contratou, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro. Pará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Maranhão também se destacaram na geração de vagas temporárias. 

A retomada rápida da indústria foi uma surpresa. Iniciada em julho e atingindo o pico das operações em agosto, acreditava-se que haveria uma queda, ainda que modesta, em setembro e outubro, mas não é isso o que está acontecendo. “A indústria está mantendo a mesma proporção de agosto, com alongamento dos contratos de trabalho temporário. Estávamos acostumados com prazos menores de contratos e a indústria está levando para 90 dias”, destacou o presidente da Asserttem. 

De novembro em diante, o setor produtivo deve reduzir o ritmo e vagas temporárias devem começar a surgir com mais força no comércio e serviços. “Esse ano, o serviço para pessoa física chama atenção porque tem sofrido muito e a expectativa é que haja uma retomada. Na retomada, pode não atingir o pico anterior, mas ele vem”, afirmou Abreu. 

As projeções da Asserttem contrariam as da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) que, na semana passada, estimou o menor número de contratações temporárias pelo setor desde 2015. A entidade espera a abertura de 70,7 mil vagas – 19,7% a menos do que as 88 mil contratações de 2019. Mesmo com o crescimento expressivo do comércio eletrônico, que tem contribuído para a recuperação gradual do varejo nos últimos meses e deverá ser um dos impulsionadores das vendas de Natal, o setor varejista ainda sente os efeitos das condições de consumo em meio à pandemia, afirmou o presidente da confederação, José Roberto Tadros. “Apesar de o comércio eletrônico ter crescido bastante, as vendas em shopping centers vêm registrando retração, e isso impacta diretamente no número de temporários contratados, em especial os vendedores”, disse ele. “Acho que a CNC vai se surpreender porque eles não cruzaram os dados do comércio com os da indústria”, analisou Abreu. 

O economista Marcos Rambalducci avalia que quando a indústria consegue incrementar o mercado de trabalho temporário, automaticamente cria as condições para o comércio superar a crise. “A indústria tendo demanda grande por temporários, acima até da média, superando 2019, significa que o setor está criando condições para as pessoas consumirem e vai haver um aporte por parte do varejista para contratar os temporários.” 

Por enquanto, o setor do comércio ainda está muito contido, lembrou o economista, mas ele acredita em um cenário não tão sombrio quanto o que se previa no início da pandemia. “No mínimo, teremos os mesmos indicadores do ano passado.” Com a expansão do e-commerce, Rambalducci acredita que poderá haver um deslocamento das contratações, das lojas físicas para as virtuais.(Com Agência Brasil)    

 

Associação aponta alta de salários e falta de mão de obra 

Além da expansão no número de vagas para temporários, a Asserttem observou também o aumento da média salarial oferecida a esses trabalhadores. No primeiro semestre, os vencimentos médios eram em torno de R$ 1.350 no setor industrial e agora, a média subiu para R$ 1.500.  

O presidente da entidade, Marcos de Abreu, atribui essa alta de 11% à dificuldade de encontrar mão de obra qualificada no mercado. “Há algumas regiões do País onde a indústria está com dificuldade de contratar temporários.” 

Responsável pelas operações da consultoria de recursos humanos Luandre no Sul do País, Angelina Vinci não percebeu inflação salarial nem escassez de mão de obra, mas confirmou o aumento da procura por temporários pelas empresas. “Estamos com um acréscimo significativo para a Black Friday”, comentou. Um dos setores em maior expansão e oferta de vagas, segundo ela, é o de logística, em razão do aumento do volume de vendas pelo e-commerce. Esse setor absorve 35% a 40% das contratações temporárias. “As demandas já estão chegando e temos uma previsão de quatro mil vagas para a sazonalidade do Natal. Vemos uma movimentação agressiva e positiva de setembro para cá.” 

Para a Black Friday, que neste ano acontece em 27 de novembro, a abertura de vagas temporárias já teve um crescimento de 12% em relação ao ano passado. “Muitas empresas fecharam durante a quarentena, muita gente perdeu o emprego e houve necessidade de achar alternativas. Acho que é esse olhar para o novo que está favorecendo o crescimento, o que é bem positivo.” 

Vinci, no entanto, é cautelosa nas projeções para novembro e dezembro. “As pessoas estão começando a voltar as suas vidas ao normal mesmo sem a pandemia acabar. A cultura do brasileiro é de sair e comprar presentes. As vagas no varejo estão chegando, mas se houver uma segunda onda (do coronavírus), o cenário vai ser diferenciado”, ponderou.  

Índice de efetivações deve crescer 

O presidente da Asserttem, Marcos de Abreu, projeta um aumento na efetivação dos temporários neste ano. Até o momento, o número de trabalhadores temporários incorporados ao quadro de funcionários da empresa saltou para 20%. “Nossa média histórica era de 15%”, comparou.  

O economista Marcos Rambalducci acredita que essa tendência deva se confirmar caso a economia se recupere. “Os trabalhadores temporários terão as condições de serem absorvidos pela indústria, varejo ou serviços. A efetivação deve ser maior ou mais expressiva (em relação ao ano anterior), não em número absoluto, mas na proporção”, disse. “Mas a gente tem que lembrar que a base com a qual estamos trabalhando está muito deprimida. Então, qualquer recuperação se mostra bastante significativa.” 

Durante a pandemia, o Carrefour afastou os funcionários classificados no grupo de risco para Covid-19 e contratou trabalhadores para substituí-los. Em meio à crise sanitária, foram cinco mil vagas abertas, sendo três mil vagas efetivas e duas mil temporárias. Outras quatro mil vagas serão ofertadas até dezembro. Para Londrina, onde a loja passa por uma reestruturação e será reinaugurada em breve, foram abertas 45 vagas efetivas para suprir a demanda da Black Friday e do Natal e há a possibilidade de oferta de outras 15 a 20 vagas temporárias. “Como o setor de supermercados é atividade essencial e não fechou, tivemos uma procura maior do que nos anos anteriores. Prevemos nesse ano uma demanda alta, mas vai depender de como a economia reage”, disse o Gerente de Atração de Talentos Operações do Carrefour, Sílvio Xavier. 

Entre os dois mil trabalhadores temporários contratados pelo grupo em todo o País, 70% foram efetivadas e os outros 30% foram dispensados por não apresentarem bom desempenho. “Teríamos como absorver todos os temporários”, afirmou Xavier.  

No Catuaí Shopping Londrina, foram abertas 120 novas vagas para a Black Friday e Natal, boa parte delas, para temporários. O número é cerca de 50% menor do que o registrado na mesma época do ano passado, mas segundo o superintendente do empreendimento, Diego Peralta, foi definido no final de setembro e reflete um comportamento de insegurança por parte dos lojistas na época. "A gente ainda estava em recuperação. Não tínhamos o sábado liberado."

Com base nos resultados registrados em outubro, Peralta acredita que novas vagas devam ser abertas. "A gente vem em uma recuperação de vendas muito boa. Em outubro vai chegar em 80% a 90% do que vendeu em outubro do ano passado e isso porque não temos a abertura aos domingos e nem as crianças. E tem mais oito lojas vindo para o shopping. Vamos evoluir bastante esse número de vagas ainda. Devemos fechar o ano em par de igualdade com o ano passado do ponto de vista de vendas e de empregos."


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