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Crise faz calçadista brasileiro ‘mascatear’ na Europa

Laura Naime – Do G1, em Milão – A jornalista viajou a convite do Instituto Italiano para o Comércio Exterior

 

Em 2008, cerca de 20% da produção brasileira de calçados foi destinada ao exterior. Com tamanha dependência, os efeitos da
crise econômica mundial sobre o setor vieram pesados.

 

“Estamos sentindo a crise. De outubro para cá tive redução dos
embarques, tivemos pedidos que foram cancelados”, lamenta Werner
Arthur Müller Junior, da Werner Calçados, do Rio Grande do Sul.

Com o mercado cada vez mais restrito, os
brasileiros estão correndo atrás. “Como o mercado encolheu,
temos que ir até ele. É a filosofia do mascate”, diz Abdala
Jamil Abdala, presidente da Francal.

A Francal é uma das duas feiras brasileiras
presentes à Micam, a maior feira de calçados do mundo, que
acontece até sábado em Milão, na Itália. Junto com a Couromoda,
Abdala tenta atrair compradores para os eventos brasileiros.
“Nosso objetivo aqui não é vender espaço na feira, é levar o
comprador até lá, captar novos importadores”, diz Abdala.

 

“Este ano, viemos para a Micam com um trabalho de cooperação. A
idéia é aumentar nossa presença na União Européia e a importação
do produto italiano pelo Brasil”, explica Francisco Santos,
presidente da Couromoda. 

Com essa estratégia, os dois acreditam em uma recuperação do
setor. “Em 2009, tenho confiança de que vamos recuperar o que já
exportamos no passado”, diz Abdala. “O Brasil vai sair melhor
que todos dessa crise”, confia Santos.

 

Ainda fica a dever

Os últimos anos viram o calçado brasileiro crescer em qualidade e
ocupar um espaço no mercado antes dominado pelos importados.
Mas, apesar da melhora, ainda ficam a dever aos sapatos
italianos, considerados os melhores do mundo, admitem os
dirigentes do setor.

“Temos uma produção que compete com a italiana,
mas calçado de alta gama italiano nós não temos. A partir de 300
euros na vitrine, não chegamos a competir com eles. O Brasil vai
bem até quase 200 euros. Mas nossa grande venda ainda é abaixo
de 100 euros”, diz Francisco Santos.

Segundo Abdala, da Francal, o câmbio prejudicial
às exportações acabou por contribuir para a qualidade do produto brasileiro.

 

“Há um ano, a posição do sapato brasileiro era desconfortável. O
preço aumentou demais por causa do dólar. Para poder justificar
o preço, melhoramos muito a qualidade, a apresentação, o design.
Acabou ajudando a melhorar nossos produtos”, explica Abdala.

 

Segundo Sérgio Rahal, diretor da Dilli, fabricante gaúcha de
calçados que expõe na Micam com o apoio da Apex Brasil (agência
de promoção das exportações), o mercado brasileiro ainda não é
capaz de absorver uma produção de luxo.

 

A empresa, que exporta 80% de sua produção, diferencia o produto
enviado ao exterior daquele que é vendido no Brasil. “No país,
nós vendemos o mesmo
design, mas uma versão de
adequação de preço. Trocamos o material da sola, coisas assim”,
diz ele.

Para a Via Uno, uma das maiores exportadoras de
calçados nacionais, o foco é o mercado “B”. 

 

“O Brasil foca num produto de bom valor agregado, mas para um
público médio. Nossa estrutura fabril não está preparada para o
alto luxo ainda”, diz Jadir Bergonsi, diretor da companhia.

 

Da produção da empresa, cerca de 50% são exportados para mais de
cem países – Europa e Estados Unidos ficam com 40% desse volume.

 

“Nós temos poucas indústrias da chamada moda de luxo. Temos
sapato de preço médio, médio alto, nesse segmento somos muito
competitivos. Mas o comprador que se dispõe a pagar US$ 1 mil
por um sapato quer um ”made in Italy”. Não há nenhum
demérito ao calçado brasileiro nisso”, diz Francisco Santos.

 

Designers

“Eu vim sabendo que não era o momento de vir”, diz o designer
brasileiro de sapatos Fernando Pires sobre sua presença na
Micam. Pires participa de um dos espaços mais exclusivos da
feira, reservado para designers convidados.

Com a crise financeira, a feira não está gerando
negócios para o profissional. Mas, segundo ele, está servindo
como vitrine.


“Estou podendo mostrar meu trabalho para russos,
japoneses, para um público mais seleto e diferente daquele que
vai para o Brasil”, diz ele.

 

Na mesa ao lado, Cristiano Bronzatto, da Louloux, também lamenta
a situação, mas não se entrega. “Eu vim por amor à camiseta,
porque depois essa situação (de crise) vai mudar”, acredita.

 

Bronzatto também se queixa da situação do mercado no Brasil. “Eu
vendo em 180 pontos no Brasil. Na Europa tenho menos clientes,
são 14 ou 15, em sete países, mas é muito mais visto. Então, o
caminho para a gente é esse mesmo, é vir para cá”.

 

Fonte: G1


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