Fonte: Folha de Londrina
Curitiba – A crise financeira que assolou a economia mundial a partir do final de setembro de 2008 vai manter os seus efeitos sobre o Brasil durante este ano todo. A previsão de vários setores consultados pela Folha é que a fase mais crítica está sendo superada, mas a recuperação deve começar só em 2010. Os mais pessimistas acreditam em resultados positivos só a partir de junho do próximo ano. Em 2009, deve haver crescimento de emprego, mas em patamares menores que em 2008. O comércio e a indústria também esperam retração na produção e nas vendas. A previsão do Banco Central é que o PIB (Produto Interno Bruto) encerre o ano com queda de -1%. Os juros básicos da economia devem cair um pouco mais, no entanto, não encerram 2008 menores que 8% ao ano.
A previsão do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) é que em 2009 sejam geradas 50% a 60% dos empregos de 2008. A indústria deve ter queda na produção. ””A economia está passando lentamente os momentos mais críticos””, disse. De janeiro a abril, o Estado criou 30% menos vagas que no mesmo período de 2008, mas em maio gerou 70% dos empregos do mesmo mês do ano passado. Ele prevê que a economia tenha um crescimento de 3% no último trimestre do ano.
Há três hipóteses de formato para a crise. Em forma de ””V”” representaria uma queda e uma recuperação rápida. Em ””L”” seria uma queda e a continuidade desta situação por um longo tempo. E em ””W”” representaria uma queda, reação, uma nova queda e uma última recuperação. A estimativa dele é que a economia brasileira comece a esboçar uma reação no último trimestre do ano.
Em fevereiro, houve um início da recuperação do emprego, mas ainda está muito concentrado nos setores que o governo federal concedeu incentivos como a indústria automobilística e a construção civil. ””A partir de 2010 a economia mundial deve ter sinais de recuperação mais nítidos””, disse o coordenador do curso de Economia da FAE, Gilmar Mendes Lourenço.
Segundo ele, há três pontos que estão conspirando para que não haja uma recuperação tão imediata. O primeiro é o salário. Com a crise, as empresas estão mais resistentes a oferecer reajustes acima da inflação nos acordos coletivos. ””O trabalhador está perdendo renda. As pessoas não pressionam por reajustes maiores porque preferem preservar o emprego””, disse.
Outro ponto que contribuiu para que a crise permaneça por mais tempo são os índices de inadimplência que vêm batendo recordes. Com as contas que não estão em dia, o consumidor compra menos. E os bancos continuam receosos em fazer empréstimos. Além disso, a própria crise externa influencia o Brasil.
Lourenço prevê que as vendas do comércio, a produção industrial e os empregos fechem o ano em patamares menores que 2008. No ano passado, o PIB teve um crescimento de 5,1%. Neste ano, a previsão do Banco Central é de queda de -1%. Caso esse resultado seja confirmado, será o primeiro ano negativo depois da ””era Collor””. Ele lembrou que o BC já sinalizou que os juros não têm muito espaço para cair. O percentual de 8% seria um cenário otimista para o fim do ano, avalia. Lembrou ainda que o problema são os juros cobrados pelos bancos que chegam a 150% ao ano enquanto a taxa Selic está em 9,25% ao ano.
””Em 2009 ainda haverá um cenário desfavorável. Se tudo correr bem, começa a recuperação em 2010””, disse. Ele acredita que o desemprego ainda vai continuar elevado, o que pode levar a um aumento da informalidade. Desde o início da crise, foram fechados 500 mil postos de trabalho no Brasil. No entanto, ele afirmou que ””o pior já passou””.
No Brasil, Lourenço diz que a crise só não atingiu proporções maiores porque a inflação está controlada, o endividamento é menor e o País acumulou reservas internacionais.
No comércio, o desempenho de abril e maio foi melhor do que o primeiro trimestre do ano devido à queda dos impostos para veículos e para a linha branca, aliado ao bom desempenho do setor de hiper e supermercados. O consultor econômico da Fecomércio-PR, Vamberto Santana, acredita que para o segundo semestre as condições serão melhores que nos primeiros seis meses do ano. ””A fase mais crítica da crise está sendo superada””, disse.
De janeiro a abril, as vendas do comércio cresceram 2% e o emprego ficou estável. Ele prevê que estes dois indicadores tenham crescimento neste ano, mas em níveis menores que em 2008. A estimativa dele é que a crise vá diminuindo gradativamente, mas que seja dizimada só a partir do segundo semestre de 2010.
Segundo Santana, as linhas de crédito estão equivalentes às de 2008. Hoje, 50% das vendas do comércio acontecem a prazo, principalmente, em veículos e eletrodomésticos.
Andréa Bertoldi para Folha de Londrina.
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