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Crise financeira cria nova ordem automotiva mundial




Fonte: UOL Notícias.

 

Se algum entusiasta da indústria automobilística mundial tivesse entrado em coma há três anos e acordasse agora levaria um susto. A outrora gigante General Motors entra em concordata e é parcialmente "estatizada". A China desbanca os Estados Unidos e assume o posto de maior produtor mundial de veículos. Jaguar e Land Rover nas mãos de um grupo indiano. A Opel vendida para canadenses e russos. A alemã Volkswagen perto de roubar da japonesa Toyota o título de maior vendedora de carros no mundo. A italiana Fiat querendo comprar parte das ações da Chrysler para voltar ao mercado norte-americano. A marca de jipões ultra-americanos Hummer nas mãos de chineses. E, no meio do turbilhão financeiro, o mercado brasileiro navega sereno nas marolas da crise. O novo mapa-múndi da indústria aponta para a ascensão de marcas que não dependem tanto dos mercado americano e europeu, fortalecimento da posição do Brasil, mudanças no processo produtivo e foco em inovação tecnológica.

 

As japonesas foram as que mais sentiram o golpe com o recuo do mercado norte-americano. Em maio, Honda, Toyota e Nissan venderam, respectivamente, 41,5%, 40,7% e 33,1% a menos que o mesmo mês do ano passado. Com isso, a liderança mundial da Toyota, alcançada em 2008, já está ameaçada. No primeiro trimestre deste ano, as vendas globais da montadora nipônica recuaram 27%. A consultoria automotiva RL Polk apontou, em abril, que a Volks vai ultrapassar a GM e assumir a vice-liderança. Mas analistas europeus já apostam que o grupo alemão pode ameaçar o primeiro lugar da Toyota ainda em 2009. "As empresas que dependem menos de Europa e Estados Unidos e têm uma boa situação nos chamados emergentes, atravessam melhor a crise e podem ser mais competitivas, como Fiat e Volkswagen", explica o consultor Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Autolatina.

 

NOVO SETOR

Quem tem uma estratégia mais pulverizada perdeu menos. O Grupo Volkswagen, por exemplo, teve queda nas vendas, mas de "apenas" 11,4% no primeiro trimestre. Curiosamente, a empresa tem forte participação na Alemanha, Brasil e China, países onde os governos concederam incentivos para manter o ritmo de vendas. A Fiat, por sua vez, recuou 17,7% nas vendas no três primeiros meses. Mas vale lembrar que 30% de suas vendas globais e de seus lucros são provenientes do mercado brasileiro, que até maio registrou vendas similares às de 2008, ano recorde da indústria automobilística do Brasil. "O cenário brasileiro é estável, enquanto o mundial é sombrio. O Brasil tem sido bem rentável para as empresas", ressalta Francisco Barone, professor de Administração Pública e de Empresas, da FGV.

 

Nesta era de turbulência, o avanço tecnológico pode fazer a diferença. "Vai ser um novo setor. Quando os mercados começarem a se recuperar, sai na frente quem conseguiu capitalização, bons produtos, boa produtividade e inovação tecnológica", acredita Julio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). Desta forma, a chamada sinergia se fará ainda mais necessária. Ou seja, estruturas enxutas, logísticas ainda mais otimizadas e plataformas compartilhadas serão vitais. O que promete fortalecer as parcerias. A Renault-Nissan prevê para 2009 uma economia de 1,5 bilhão de euros com a parceria em chassis, logística e manufatura, entre outros. Outra francesa, a PSA Peugeot Citroën, adota a estratégia de alianças pontuais. A montadora francesa tem acordos com BMW, Mitsubishi, Ford e Fiat. "A PSA deve se tornar um grupo mais global e ser referência em matéria de eficiência operacional", defendeu Philippe Varin, CEO do grupo francês em assembleia geral dos acionistas.

 

Enquanto alguns aproveitam o momento e o caixa para ir às compras — como a indiana Tata, com as britânicas Land Rover e Jaguar, e a Fiat, com a Chrysler *, a estratégia global das montadoras passa obrigatoriamente pelos chamados países emergentes. Com os mercados europeu, japonês e norte-americano saturados, o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pode se tornar a salvação para a indústria. Em janeiro, por exemplo, a China já tinha registrado vendas de veículos superiores às dos Estados Unidos. "São os países do Bric que vão garantir a venda dos grandes grupos. Brasil e China, principalmente, não foram afetados pela crise", avisa Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.

 

POSIÇÃO ESTRATÉGICA

A crise financeira global pode gerar não só novas caras e líderes entre as montadoras de automóveis, como também mercados mais competitivos. O discurso uníssono aponta que o chamado Bric será o oásis em meio ao caos. E, ufanismos à parte, o Brasil pode-se destacar ainda mais graças ao know-how que desenvolveu em dois aspectos singulares do setor. Afinal, analistas e especialistas do setor apostam que os modelos menores e mais eficientes são a tendência do universo automotivo. E a indústria brasileira é focada justamente em automóveis compactos e motorização flex. "O Brasil tem mais oportunidades dentro do Bric. Aqui existe uma inteligência automotiva já cristalizada e demanda reprimida", defende Luiz Carlos Mello, consultor da CEA.

 

A exportação de know-how brasileiro já acontece. Há modelos com motores flex já rodando na Europa e a GM norte-americana trabalha com tecnologia e engenheiros brasileiros para desenvolver veículos a etanol nos Estados Unidos. "Acredito que vamos exportar muita tecnologia através de motores flex, como experiência de carros compactos", enaltece Garbossa.

 

Mas alguns especialistas advertem que os Estados Unidos não vão passar a produzir e comprar modelos compactos de uma hora para outra. A cultura de modelos grandalhões e beberrões ainda é forte no mercado norte-americano e só mesmo legislações que obriguem consumos mais moderados forçarão a mudança de hábito, como a medida que estabelece que os veículos a partir de 2015 terão de fazer uma média de 15 km/l. "Isso vai ser alcançado não pelo desenvolvimento dos carros grandes, mas pela chegada de novos carros compactos nos Estados Unidos", acredita Luiz Carlos, do CEA.

Fernando Miragaya para Auto Press.

 

 


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