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Crise intensifica concentração no setor financeiro brasileiro

São Paulo, 3 de Abril de 2009 – As principais instituições financeiras do País conquistaram no ano passado uma fatia mais robusta do mercado doméstico de crédito e de depósitos. Isso mostra avanço no movimento de concentração do setor, que se acirrou na década de 1990 com o processo de consolidação e se fortaleceu com o recrudescimento da crise financeira mundial a partir de setembro de 2008. Juntos, os cinco maiores bancos do País em ativos (Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal) finalizaram 2008 com carteira de crédito de R$ 714,09 bilhões, ou 77,23% de participação no estoque total das 50 maiores instituições brasileiras em ativos, de R$ 924,59 bilhões, mostra levantamento da Gazeta Mercantil, baseado em dados do Banco Central (BC). A fatia de 2008 representou um avanço de quase 14 pontos percentuais comparativamente ao ano anterior, quando os cinco maiores (BB, Itaú, Bradesco, Caixa e ABN Amro) somaram juntos carteira de crédito de R$ 457,34 bilhões, ou 63,53% do saldo total de R$ 719,93 bilhões dos 50 maiores.

 

Em depósitos (à vista, poupança, interfinanceiro e a prazo), o volume dos cinco maiores atingiu R$ 950,53 bilhões, ou uma participação de 79,57% do total depositado nas 50 maiores instituições no ano passado, de R$ 1,19 trilhão. Na comparação com 2007, a evolução também ultrapassa os 13 pontos percentuais. Em 2007, os cinco maiores registraram juntos depósitos de R$ 566,95 bilhões, ou 66,12% do volume total de R$ 857,44 bilhões.

 

Se avaliados o desempenho das dez maiores instituições financeiras do País em ativos, observa-se também ganhos de participações. No segmento de crédito, o grupo passou de uma fatia de 86,43% (R$ 622,24 bilhões) para 88,97% (R$ 822,61 bilhões), na mesma base comparativa. Já em depósitos, a participação pulou de 86,99% (R$ 745,89 bilhões) para 92,28% (R$ 1,1 trilhão) no ano passado.

 

A concentração sempre esteve presente no setor bancário nacional e sempre foi considerada elevada diante dos padrões internacionais, afirma Fernando Blumenschein, coordenador da FGV Projetos. “No início dos anos 1990, somente os bancos públicos concentravam cerca de 50% dos depósitos e do crédito. Volume que caiu um pouco no final daquela década, com a privatização de bancos estaduais, e com uma maior atuação de instituições estrangeiras no País”, diz Blumenschein.

 

Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da Austin Rating, observa que é preciso analisar os dados sob duas vertentes. A primeira é esse movimento histórico de concentração em torno dos maiores. Fato acentuado nesta década, principalmente, pela maior ocorrência de aquisições e fusões, que prosseguem e podem até se fortalecer agora. “A segunda é a crise financeira que, notadamente, aumentou a concentração”, ressalta Santacreu.

 

Voo de qualidade

 

O aumento do volume de depósitos nos maiores bancos ilustra o fenômeno denominado de voo da qualidade que ocorre em momentos de crise, no qual os investidores migram das instituições menores para as de grande porte, explica Santacreu. Com a escassez da liquidez externa, os grandes ofereceram aos investidores um retorno mais atrativo, acima do usual, captando uma parte expressiva dos depósitos dos bancos menores para os seus certificados de depósitos bancários (CDB), prossegue o economista.

 

Na comparação do encerramento de setembro, quando a crise se acirrou, ao final de dezembro de 2008 o volume dos cinco maiores bancos passou de uma participação de 72,16% (ou R$ 775,07 bilhões) do total dos depósitos dos 50 maiores (R$ 1,07 trilhão) para 79,57%. Por isso, e para manter a liquidez, as instituições menores cortaram a oferta de crédito, aumentando ainda mais a concentração. Aliado a isso, os menores tiveram também de vender carteiras de crédito para captar recursos afim de alimentar a base de funding, afirmam os especialistas. Carteiras que foram compradas pelos maiores, em especial pelos bancos públicos, leia-se Caixa e BB, que ganham cada vez mais participação no segmento.

 

Renato Martins Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), afirma que todas as instituições, independente do tamanho, reduziram as concessões de crédito após setembro para preservar a liquidez. O que diferencia o desempenho das maiores comparativamente às menores é que as primeiras tiveram de socorrer as grandes empresas, que não conseguiam mais captar recursos diretamente no exterior por conta da crise, diz. “Foram os grandes bancos que emprestaram para as grandes empresas e foram volumes significativos, o que explica em grande parte esse ganho de participação, mas não significa que distribuíram crédito como antes”, diz.

 

Oliva ressalta também que ajudaram a engordar as fatias dos cinco maiores no ano passado, aumentando assim a concentração, a fusão entre o Banco Itaú Holding Financeira e o Unibanco e a incorporação pelo Santander do Banco Real, que pertencia ao ABN Amro antes de ser comprado pelo grupo espanhol. Lista também as compras realizadas pelo BB, como a do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) – não entram nas contas a aquisição pelo BB de 50% do Banco Votorantim e do controle do Banco Nossa Caixa, efetivadas neste ano.

 

Analisando as movimentações mais importantes, em dezembro de 2007 o Unibanco estava na sexta colocação do ranking do BC em ativos (o Itaú estava em segundo) e o Santander figurava na sétima posição (o ABN era o quinto colocado). Se somadas as carteiras de crédito em 2007 do Unibanco (R$ 50,25 bilhões) e do Santander (R$ 39,35 bilhões) ao volume dos cinco maiores bancos, a participação desse conjunto – agora de sete bancos – no total dos 50 maiores sobe para 75,97% no ano. Quando relacionada a fatia de 77,23% de 2008 dos cinco maiores observa-se também um crescimento, mas o universo de instituições é menor, mesmo que elas estejam mais robustas pelas aquisições e fusões.

 

Em depósitos, a fatia de 72,16% de setembro – quando apenas Santander e Real já operavam conjuntamente – dos cinco principais bancos mostra também que esse conjunto já vinha ganhando pedaços importantes do volume total de depósitos ao longo do ano, já que ao final de 2007 ela era de 66,12%. Se analisados os dez maiores, a fatia pulou de 89,97% para 92,28% em apenas três meses.

 

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 1)(Iolanda Nascimento)

 

Fonte: Gazeta Mercantil


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