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Crise política eleva juros para o consumidor

Fonte: Folha de Londrina

Antes do escândalo da JBS, que veio a público na última quarta-feira (17), os juros para o consumidor brasileiro vinham em queda lenta, mas constante. Bastou a delação do empresário Joesley Batista tornar-se conhecida para os bancos informarem, em pesquisa do Banco Central, o aumento de algumas taxas. O Banco do Brasil, por exemplo, subiu o crédito consignado de 2,47% ao mês para 2,49% ao mês. A Caixa elevou de 1,98% para 2,01% a taxa para aquisição de veículos. O Bradesco aumentou de 2,61% para 2,93% os juros para a compra de "outros bens". 

As expectativas de um fim de ano com juros mais camaradas foram deixadas de lado. O diretor de Economia da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel Ribeiro de Oliveira, diz que o brasileiro não deve esperar taxas muito melhores. Mesmo que o Copom (Conselho de Política Monetária) mantenha a trajetória de queda da taxa básica da economia, a Selic, hoje em 11,25% ao ano. 

Oliveira diz que o mercado esperava uma postura mais agressiva do Copom na reunião da próxima semana (dias 30 e 31), com corte de 1,5 ponto porcentual da Selic. "Mas diante do novo cenário, com incertezas sobre a aprovação das reformas, com o aumento do dólar, não há mais essa expectativa", conta. Otimista, ele aposta no corte de 1 ponto, como nas reuniões anteriores. "Não vejo motivos para o corte ser menor do que isso porque a inflação está baixa. A menos que aconteça algo mais grave nos próximos dias", ressalva. 

Mas não é só a Selic que conta na formação da taxa dos consumidores. Inadimplência, câmbio, risco país, tudo isso tem seu peso. A Anefac calcula que o juro médio hoje seja de 7,87%. E que, se a crise for resolvida e o governo conseguir chegar ao fim do ano com Selic de 8,5% ao ano, a taxa média ao consumidor estará em 7,75% ao mês. 

Questionado se as taxas ainda não serão muito altas com a Selic neste patamar, ele responde: "Se temos desemprego, famílias endividadas, empresas em recuperação judicial, o banco vai cobrar mais spread (parte da taxa que remunera o serviço do agente financeiro), devido ao risco maior", avisa. 

Pré-crise 
De acordo com o diretor, antes da crise, em 2013, a taxa média de juros para o consumidor calculada pela entidade era de 5,4% ao mês. Hoje, está em 7,8%. E, caso o governo consiga levar a Selic a 8,5% no final de 2017, cairá para 7,75% (ver quadro). Ou seja, para os juros voltarem ao patamar de 2013, além de baixar a Selic, o governo terá de resgatar todos os fundamentos da economia, cenário que está muito longe de se concretizar. 

O economista chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, vai na mesma linha. Ele acredita que o Copom seguirá baixando os juros até o final do ano para não fragilizar ainda mais a economia. "A atividade econômica está muito fraca. As incertezas políticas atuais a fragilizam mais ainda. Então, não dá para imaginar que o Copom interrompa a trajetória de queda." 

Apesar disso, ele também não acha provável que os juros para o consumidor baixem na mesma proporção. "Esse é um cenário que deixa os banqueiros muito cautelosos. Todos os estudos mostram que, quando aumentam os riscos de crédito, aumentam também os spreads bancários", declara. 
 

Menor impacto para os veículos 
Cesar Lançoni dos Santos, vice-presidente da Assovepar (Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Paraná), diz que o mercado já sentiu uma leve alta nas taxas de financiamento de automóveis. O aumento seria em torno de 2%. "Numa parcela de R$ 1 mil, representa uns R$ 20 a mais. As pessoas não deixam de comprar carro por causa disso", minimiza. 

Mesmo assim, ele acredita que se trata de um "movimento preventivo" dos bancos. E que, nas próximas semanas, os juros voltem para o patamar de antes do escândalo da JBS. Segundo Santos, no caso específico de veículos, as taxas têm poucas variações porque há muita competição entre bancos e financeiras. "Num cenário de inflação até 6% ao ano, as taxas para automóveis sempre giram em torno de 1,5%." Ele não acredita que a crise vai se aprofundar e pensa que, até o final do ano, os juros para aquisição de carros cheguem a 1,2%.

Economistas preveem cautela do Copom 
O economista, professor da UTFPR (Universidade Federal Tecnológica do Paraná) e consultor da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina) Marcos Rambalducci acredita que o Copom tende a ser mais cauteloso a partir de agora. Principalmente por causa do risco Brasil e do câmbio. "O dólar subiu muito com o caso JBS. E vai gerar inflação", justifica. 

Ele explica por que a baixa na Selic demora tanto a chegar à vida real. "O Copom baixa a Selic, o empresário decide investir. Ele compra uma máquina que demora a chegar. Quando a máquina chega, ele vai contratar o funcionário. E esse funcionário que ganhou o emprego só vai começar a ter renda 30 dias depois", relata. O processo leva mais de seis meses. 

Já o economista e professor da Faccar (Faculdade Paranaense) Mauro Massaro acredita que o Copom vai pisar no freio. "Pelo menos até que as coisas se definam um pouco mais. A incerteza hoje é muito grande. Antes, a preocupação era sobre o que vai acontecer com o Brasil em 2018. Hoje, é com o que vai acontecer amanhã." 


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