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É hora de voltar a crescer

Fonte: Marco Feltrin- Revista Mercado em Foco/ACIL

Os reflexos do baque sofrido pela economia mundial por conta da pandemia do Coronavírus ainda serão sentidos por muito tempo. Se em 2020 nem a mais pessimista das projeções apontava que o Brasil viveria um corte severo na geração de empregos formais, disparada no preço dos alimentos e mais de 200 mil mortes provocadas pela Covid-19, o ano de 2021 se apresentou com a chegada da vacina e a expectativa de retomada da economia.

As projeções mais otimistas falam em 4% de alta do PIB neste ano, puxada principalmente pelo setor industrial, o primeiro a apresentar sinais de reação ainda no ano passado. Segundo dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), o estado correu atrás do prejuízo no segundo semestre, fechando o mês de novembro, por exemplo, com alta de 14% na produção industrial na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

“A indústria apresenta uma trajetória de recuperação consistente. Em Londrina e região, é a indústria quem robustece a economia como um todo. Vende para fora do estado, do país, traz dinheiro novo e movimenta um ciclo. Quando você empobrece a economia, isso aflige o comércio e a prestação de serviços. Quando começa a haver migração de dinheiro de fora pela indústria, passa a ter uma dinâmica que vai impulsionar tanto o setor de comércio quanto o de serviços”, analisa o consultor econômico da ACIL, Marcos Rambalducci.

Para o economista Sidnei Pereira, a capacidade plena das atividades industriais será o sinal mais claro de que a economia brasileira está voltando aos trilhos. “As expectativas são boas. Com a indústria a pleno vapor, deve faltar menos produtos, estabilizar os preços e puxar os demais setores. É otimismo e monitoramento. A indústria precisa ficar alerta para não pagar um preço alto lá na frente, porque tem a questão da renda das pessoas, importantíssima para manutenção do poder de compra. Como o cenário ainda é incerto, pode não haver uma injeção de dinheiro extra na economia para fazer a máquina girar e os negócios acontecerem”, alerta.

Parte desta incerteza está ligada ao consumo. Com o fim do auxílio emergencial e a transferência de renda por parte do governo federal, a classe mais baixa perde poder de compra. Entre abril e agosto, o benefício era de 600 reais para quase 70 milhões de brasileiros, injeção mensal de R$ 42 bilhões na economia. Entre setembro e dezembro, o valor caiu pela metade. Segundo o governo, 44% dos beneficiários tinham o auxílio emergencial como única fonte de renda.

Na outra ponta, parte da classe mais alta conseguiu poupar durante a pandemia, e agora vê a oportunidade de fazer investimentos. Para Marcos Rambalducci, não será o suficiente para equilibrar a balança. “A classe alta não vai dar conta de fazer o consumo que vinha sendo feito pelas classes de baixa renda que receberam o auxílio. Poderão até continuar consumindo produtos de maior valor, mas as classes média e média alta vão manter o consumo normal”.

A opinião é compartilhada por Sidnei Pereira. “A classe média que não perdeu emprego ou renda, não necessariamente vai aumentar o consumo, porque já tem um nível satisfatório. Há uma perda, um impacto grande no mercado, das pessoas que perderam o emprego e não terão mais o auxílio. Esse reequilíbrio vai demorar, não é imediato. A economia precisa retomar condições de mais segurança, que é a esperança que a gente tem com a vacina, para o mercado responder mais rapidamente”.

Outro termômetro que indica recuperação da economia é a geração de empregos. O ano pandêmico terminou com 14 milhões de brasileiros desempregados. Porém, a criação de postos de trabalho na região de Londrina, que chegou a registrar saldo negativo de 3,9 mil empregos em abril, apresentou resultado positivo durante todo o segundo semestre.

Marcos Rambalducci aposta na indústria para comandar a geração de empregos neste ano, acompanhada da construção civil, impulsionada pela ampliação de crédito e juros baixos no mercado imobiliário. “A construção civil vai dar as melhores respostas neste momento. No final do primeiro trimestre devemos ter uma recuperação acentuada também na indústria, levando de arrasto o comércio e a prestação de serviços. São salários relativamente baixos, com qualificação menor, mas é um sinal de recuperação”.

Situação fiscal

O bom andamento da economia brasileira em 2021 está ligado à atuação do governo na situação fiscal. O Congresso Nacional deve se debruçar sobre assuntos como teto de gastos e as reformas emergenciais, temas que, para Pereira, ainda estão longe de um cenário ideal.

“Este atraso tem prejudicado o sistema produtivo brasileiro. A guerra política que foi estabelecida no país não permite uma agenda de reformas como a tributária, mesmo que ela seja de extrema necessidade. Quanto antes o governo fizer a reforma, antes vamos ter um país pronto para deslanchar e responder mais rapidamente às demandas. Por enquanto ainda estamos no tapa-buraco. Uma minirreforma aqui, outra ali, e vai tocando. Precisamos de uma estrutura fiscal diferenciada, para que possa fazer o país crescer”.

Um cenário traçado pelo Ministério da Economia prevê um acúmulo de 13 anos em rombos sucessivos nas contas públicas. As despesas maiores que as receitas persistem desde 2014 e, nesta perspectiva, o país só deve voltar ao azul em 2027.

Emerson Zuan Esteves, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina, prevê um processo doloroso na discussão das reformas, com a pressão fiscal sendo intensificada para cima do governo, que precisará mexer no teto de gastos. “Cresce a pressão para aumentar o orçamento de programas como o Bolsa Família, nos moldes atuais ou como um novo programa social. O governo tem sinalizado claramente que este movimento só pode acontecer se for acomodado dentro do teto de gastos, ou seja, reduzindo algum outro gasto”.

Para o economista Azenil Staviski, o cenário se complica pelo fato de o Brasil sempre antecipar as disputas presidenciais, com eleições marcadas para 2022. Apesar disso, cabe ao empresariado focar na sua atividade. “Tem que isolar a briga política, planejar e procurar fazer o melhor. Não quer dizer ignorar, obviamente, os cuidados sanitários com a pandemia. Porque as pessoas precisam usar máscara, se cuidar, mas precisam de transporte, alimentação, vestuário. Por isso o empresário tem que se reinventar em termos de redução de custo, buscar uma eficiência administrativa para passar por essa fase. Tem setores como o agropecuário e a construção civil se recuperando bem, com linhas de crédito e taxas de juros baixas, então as perspectivas são boas. Basta ao empresário isolar o pessimismo e focar na sua atividade”, aconselha.

A crise econômica provocada pelo Coronavírus provocou efeitos em todo o mundo, e o processo de retomada aqui no Brasil também depende do cenário internacional. Na perspectiva otimista, o dólar alto joga a favor do agronegócio. “Nosso PIB tem um impacto forte com as commodities, exportando ferro, soja, milho e carne. O setor do agronegócio continuará expressivo e Londrina entra de carona nesse processo. Nós produzimos e este dinheiro entra para a nossa economia”, projeta Marcos Rambalducci.

Já Staviski faz uma ressalva para os reflexos que este cenário pode causar no mercado interno. “A perspectiva de vender para fora aumenta os preços aqui dentro. Esse desequilíbrio é persistente no mercado em qualquer situação, mas em uma situação de crise como enfrentamos, aflora um pouco mais e pode tirar a inflação do controle”.

Emerson Esteves acredita no agronegócio potencializando a retomada econômica, e tem uma perspectiva otimista até o fim deste ano. “O Brasil é um grande provedor de alimentos, e o dinheiro dessa exportação vai retornar para a nossa economia, que vai superar esse momento da pandemia. Hoje já temos uma ideia clara de como tem que se comportar em relação ao que a gente vive. Tendo a possibilidade da vacinação, a gente poderá voltar muito próximo do que vivia antes da pandemia.”


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