Fonte: Folha Online
A retração do PIB (Produto Interno Bruto) nos dois últimos trimestres fez a economia brasileira retornar ao nível observado no segundo trimestre de 2007, disse nesta terça-feira a gerente de Contas Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Rebeca Palis.
Para ela, o resultado do PIB no primeiro trimestre foi ainda pior do que o observado nos três meses imediatamente anteriores. "Se olhar a taxa trimestral do PIB contra o mesmo trimestre do ano anterior, realmente nota-se uma queda que não ocorria há muito tempo, desde o quarto trimestre de 2001. E se olharmos o nível de produção, retrocedemos ao mesmo nível do segundo trimestre de 2007", afirmou.
A economia brasileira teve retração de 1,8% no primeiro trimestre de 2009 ante igual período do ano passado, e de 0,8% na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No quarto trimestre, o PIB havia caído 3,6% frente ao terceiro trimestre de 2008.
As duas quedas consecutivas indicam um quadro de recessão técnica, a primeira desde 2003. O coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto, evitou classificar que o país está em recessão, alegando que não há uma definição estatística oficial para que se faça tal definição.
"Recessão é um conceito teórico que envolve a redução da atividade econômica com va”rios fatores como a renda, emprego, comércio e o próprio PIB. A gente acha que todas essas variáveis têm que ser analisadas num período de tempo mais longo. Mas vários economistas usam no mundo todo, embora não seja um conceito firmado", observou.
A queda do PIB brasileiro no primeiro trimestre ficou abaixo do esperado por analistas. Mas comparado a outros países em desenvolvimento que já divulgaram o desempenho de suas economias no primeiro trimestre, o Brasil ficou atrás. O PIB chinês cresceu 6,1% na comparação com o primeiro trimestre de 2008. Já a economia indiana teve incremento de 5,8% na mesma base de comparação.
Ainda nesta relação, o PIB brasileiro caiu menos do que os de economias desenvolvidas, como Japão (-9,1%), estados Unidos (-2,5%) e Reino Unido (-2,4%).
Resultados ruins
O PIB, que mostra o comportamento de uma economia, é a soma das riquezas produzidas por um país –é formado pela indústria, agropecuária e serviços. O PIB também pode ser analisado a partir do consumo, ou seja, pelo ponto de vista de quem se apropriou do que foi produzido. Neste caso, é dividido pelo consumo das famílias, pelo consumo do governo, pelos investimentos feitos pelo governo e empresas privadas e pelas exportações.
Ao todo, a economia movimentou R$ 684,6 bilhões de janeiro a março. A taxa acumulada dos últimos 12 meses (encerrados em março) indica alta de 3,1% do PIB em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores –todos os setores têm resultados positivos nesta base de comparação.
O investimento, medido pela chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), caiu 14% no primeiro trimestre, se comparado a igual período no ano anterior. Na comparação com o quarto trimestre, houve retração de 12,6%. Nas duas bases de comparação, trata-se da maior queda desde o início do cálculo da série pelo IBGE, em 1996.
O setor industrial despencou 9,3% em relação ao primeiro trimestre de 2008, a maior queda da série histórica. Na comparação com o quarto trimestre, a indústria teve alta de 3,1%, e nos últimos 12 meses, acumula expansão de 0,4%.
Já o setor de serviços registrou incremento de 1,7% frente ao primeiro trimestre de 2008. Em relação ao quarto trimestre, o segmento cresceu 0,8%, e nos últimos 12 meses, tem alta de 3,9%.
O setor agropecuário, por sua vez, caiu 1,6% na comparação com o período de janeiro a março do ano passado. Em relação ao quarto trimestre de 2008, a agropecuária teve retração de 0,5%, e nos últimos 12 meses, acumula incremento de 4,3%.
O consumo das famílias teve aumento de 1,3% no primeiro trimestre. Em relação ao quarto trimestre, constatou-se crescimento de 0,7%, e nos últimos 12 meses, acumula incremento de 4,1%.
O consumo do governo registrou alta de 2,7% no primeiro trimestre. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, o consumo do governo cresceu 0,6%, e nos últimos 12 meses, acumula expansão de 4,7%.
Pelo lado do setor externo, tanto as exportações de bens e serviços (-16,0%) como as importações de bens e serviços (-16,8%) apresentaram quedas em relação ao último trimestre de 2008.
Cirilo Junior, para Folha Online
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