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Especialistas de Londrina apontam as transformações pós-pandemia

Fonte: Folha de Londrina

O mundo vivenciou muitos períodos críticos, mas poucos mudaram tanto a rotina do brasileiro como esse causado pela pandemia do novo coronavírus. Enfrentar a crise gera reflexões profundas sobre quem somos enquanto sociedade e pode gerar transformações. O padre Valdecir Ferreira, antropólogo e professor da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), de Londrina, indica alguns pontos que poderão influenciar nosso comportamento no pós-pandemia. 

Para que as mudanças perdurem e continuem mesmo após o conflito, é preciso ter proximidade e sentir de perto suas consequências. “Enquanto não tocam muito proximamente de nós, daquilo que vivemos ou passamos, não nos convencemos do processo de mudança”, explica o professor. Como exemplo, o antropólogo cita outra epidemia em Londrina. “Nós temos um surto de dengue, mas enquanto a gente não perde alguém próximo de nós ou ligado a nós, não nos convencemos de que é um perigo", afirma.  

IMPOSIÇÃO OU CONVENCIMENTO  

Isso porque as alterações de comportamento podem ocorrer por imposição ou convencimento. “Quando vem pela imposição, não traz um processo de adesão. Sempre a imposição é bastante cruel, porque chega por uma normativa sem diálogo. Se for por um processo de convencimento, gera adesão, que pode ser gradual ou abrupta se nós formos tocados de maneira imediata e irreversível. Muitas pessoas agora dizem que o isolamento é necessário, porque fazem isso pela perda de entes queridos”, indica.  

O novo coronavírus trouxe muitas imposições em nome da saúde e, por não estarem convencidas, muitas pessoas sentem dificuldade no isolamento. Diferente da higienização das mãos, costume que o antropólogo acredita perdurar mesmo após a crise da doença. Com ela, outros comportamentos também serão implementados, isso porque estamos passando pelos conflitos que nos atingem diretamente ou impactam pessoas muito próximas. 

TRABALHO  

"Temos a valorização do trabalho, porque muitas pessoas tiveram redução salarial, redução de carga", comenta. Além do desemprego, que leva as pessoas a buscarem alternativas. Ainda no âmbito do trabalho, Ferreira cita a adoção mais firme do trabalho remoto. "Uma tendência que vinha a passos lentos e agora vem de maneira impositiva, fazendo com que muitos se adaptem", cita. A pandemia impôs a agilidade na resolução dos problemas que impediam o modelo de atuação, como dificuldade de internet. 

RELAÇÕES HUMANAS 

O professor também cita a valorização das relações humanas. O distanciamento e impossibilidade de estar junto destaca a importância de estarmos mais presentes. “Vem a valorização dos encontros, saudade do abraço, do beijo, de ir para a escola, para a faculdade, coisa que em outros momentos não teríamos”, afirma. 

Ficar mais em casa e isolados, obrigou que as pessoas encontrassem também formas de apreciarem o momento sozinhas, como gera também, a longo prazo, um distanciamento pelo medo. “Pode causar um distanciamento que permanece. Pessoas com medo de abraçar, cumprimentar com as mãos, onde nada pode”, aponta.  

 EQUILÍBRIO EMOCIONAL  

Outra demanda que a pandemia intensificou é a do equilíbrio emocional. A ansiedade antes já muito presente se potencializou para quem está enclausurado esperando notícias de fora. “Se antes tínhamos as pernas inquietas, nós passamos a ter a crise das mãos inquietas, não conseguimos ficar mais que três minutos sem pegar no celular para ver se alguém mandou mensagem, comentou, curtiu, compartilhou”, comenta. 

O antropólogo também cita as angústias do isolamento no contexto pessoal, como mulheres que vivem sob ameaça de violência e convivem com o agressor, pessoas inseguras sobre as consequências da pandemia, grande demanda de trabalho, instabilidade, entre outros processos emocionais.  

LIÇÕES  

Ferreira acredita que ficarão algumas lições da pandemia e que com elas a possibilidade de mudança de comportamento. “A valorização da vida e, dentro disso, a valorização dos relacionamentos. Externos e também os internos, nós somos companhias boas de nós mesmos e, com isso, a compreensão de que o ambiente deve ser transformado por nós”, aponta. 

Além da lição desse processo de reconhecimento das alterações diante da crise. “Não podemos ser aquilo que nós éramos antes. Há um marco de mudança antropológica. Se não mudarmos, todo esse desempenho não criou raízes. Todos os gestos vêm carregados de consequências, podemos ficar apegados à consequência trágica ou podemos utilizar esse momento de vazio existencial em que há possibilidade de mudança naquilo que não tínhamos coragem de mudar.” 


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