Notícias

|

Esperança à vista

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Celso Felizardo

Após dois anos de grave recessão, a economia brasileira deve voltar a crescer, ainda que em ritmo lento, neste ano. O Ministério da Fazenda trabalha com a projeção de crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), com maior desempenho no segundo semestre. Para os especialistas consultados pela Mercado em Foco, as projeções estão longe de apontar um cenário animador, mas podem significar o início da recuperação econômica.

Ex-presidente do Banco Central e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Gustavo Loyola se diz "moderadamente otimista" em relação à economia brasileira. Segundo ele, alguns fatores são determinantes para que as projeções se confirmem. A maioria deles no campo político. "A confiança com o antigo governo estava muito baixa. Hoje já vemos maior capacidade de ação política voltada à economia. Porém, para uma recuperação, é preciso que medidas de ajustes fiscais e a reforma da previdência sejam aprovadas", afirma.

Loyola destaca que o governo deve seguir com a tendência de queda nos juros. "Provavelmente teremos um processo lento e gradual da taxa Selic, uma vez que a inflação foi reduzida. Este é um dos sinais favoráveis para o empresariado", aponta. O especialista pondera que a reação deve ser mais tímida no primeiro semestre. "Neste período, as famílias e as empresas estarão se recuperando do endividamento. Já na segunda metade do ano, os reflexos positivos começam a ser sentidos", antecipa.

O economista sócio-diretor da empresa paulistana Tendências Consultoria Integrada ressalta que regiões com vocação ao agronegócio, como Londrina, sofreram menos os impactos da crise. "O ano de 2016 teve alguns fatores negativos no campo, como a frustração da safra pelo clima, mas, no geral, o agronegócio foi o setor que impediu uma retração ainda maior da economia no país", analisa.

Indústria

No setor industrial, as perspectivas também são positivas. O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Ary Sudan, reconhece as dificuldades, mas se diz otimista. "Sempre acredito que é possível fazer um ano melhor. Sei das dificuldades que o país enfrenta e sei também que não vai ser possível resolver tudo a curto prazo", diz. "Acredito que o setor industrial vai melhorar um pouco, mas essa melhora vai ocorrer mais nos produtos que são imprescindíveis e que sua compra vem sendo adiada, mas não cancelada", acrescenta.

Para Sudan, é preciso criar um ambiente seguro para o empreendedorismo e a economia de mercado. "Hoje temos uma burocracia excessiva que atrapalha muito o desenvolvimento. A falta de interação entre os diversos setores e a falta de compreensão por parte das autoridades de que a economia precisa de agilidade também prejudicam", opina.

"Recentemente vi um vídeo do presidente Obama dizendo que discordava de uma série de posições do presidente eleito Donald Trump, mas que faria o possível para que tudo desse certo, pois afinal fazia parte do mesmo time. Ele estava dizendo que os dois são americanos e devem lutar a favor do país. Isso mostra que eles pensam bem diferente de nós. Nós temos muita gente empurrando para a frente, mas temos outro tanto segurando ou fazendo força contrária", compara.

Questionado se a eleição de Trump, com sua política protecionista, poderá afetar a indústria brasileira, Sudan minimiza os efeitos. "Eu acredito que não haverá nenhuma interferência que possa abalar nossa indústria. O Brasil conta com a presença de muitas empresas americanas e os Estados Unidos são um importante parceiro do Brasil. O que pode acontecer é um efeito indireto causado por alguma barreira imposta a China", analisa. "O risco é de invasão de produtos chineses a custo baixo, por falta de mercado, levando nosso parque industrial a reviver uma situação já ocorrida no passado que dizimou parte da nossa indústria, principalmente na área da confecção", completa.

O vice-presidente da Fiep vê boas condições para a indústria paranaense se recuperar. "A indústria paranaense deverá recuperar aos poucos a condição anterior. O setor agroindustrial é muito forte e tem presença importante no mercado externo, sendo, portanto, menos vulnerável a nossa crise interna. O Paraná conta com um empresariado dinâmico, resiliente e muito atualizado, o que favorece bastante nos momentos de recuperação".

Londrina

Sudan também comentou sobre a baixa industrialização de Londrina. Para ele, a cidade não tem recebido indústrias como deveria. "O cenário atual não é bom, temos muitas barreiras impeditivas para atração de empresas industriais. Ainda continuamos com uma infraestrutura muito precária para esse segmento econômico. Percebemos muita vontade por parte dos últimos administradores municipais, mas isso ainda não se traduziu em resultados concretos", lamenta.

A saída, segundo ele, é dotar o município de instrumentos para a atração de novos investimentos. "É preciso trabalhar a questão da desburocratização, da interligação dos setores envolvidos na atração e instalação de novos empreendimentos ou mesmo do fortalecimento daqueles empreendimentos já existentes que querem expandir sua atuação ou se instalarem em locais mais apropriados", argumenta.

Os efeitos negativos da baixa industrialização podem ser comprovados nos números. Sudan cita que enquanto Londrina arrecada R$ 286 por habitante ao ano de ICMS – apenas da indústria -, cidades como Uberlândia, Ribeirão Preto, Sorocaba e Joinville arrecadam aproximadamente R$ 600. Os dados são de 2014. "A indústria paga bons salários, abre espaço para profissionais de nível superior e técnico, retém talentos e irriga a economia local com a demanda de serviços de toda natureza, inclusive os mais especializados e mais bem remunerados. Basta fazer uma análise para ver que cidades onde a indústria tem uma boa presença, os índices de desenvolvimento são sempre melhores", pontua.

O empresário faz questão de esclarecer que Londrina não precisa se tornar uma cidade industrial, mas que a participação do setor precisa ser maior. "Se a indústria for responsável por 30% do PIB já é o suficiente para que a cidade tenha ganhos expressivos no seu orçamento e possa realizar muitas coisas que precisamos e não temos por falta de recurso do município". Hoje, a participação da indústria no PIB do município é de apenas 13%.

Comércio

Em estudo recente, a Organização Mundial do Comércio (OMC) baixou de 2,8% para 1,7% o crescimento do volume de comércio global em 2016. As projeções feitas no primeiro semestre no ano passado não se confirmaram em grande parte por desaceleração na China e no Brasil, além da redução das importações pelos Estados Unidos. Fernando de Moraes, vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL), analisa que, após um 2015 desolador, os empresários brasileiros começaram a se recompor no ano passado. Para ele, 2017 vai ser o ano para colocar a casa em ordem.

"O comércio teve um desempenho muito ruim em 2015, afetado em cheio pela crise. Então, 2016 foi um ano de ajustes. Foi preciso reduzir o quadro de funcionários e adotar medidas de contenção de despesas para evitar o endividamento", lembra. De acordo com Moraes, quem conseguiu fazer os ajustes necessários, já está colhendo resultados. "Muitos lojistas não resistiram à crise, principalmente aqueles que não tinham reservas para fazer os ajustes. Quem resistiu está hoje com uma maior fatia do mercado, com menos concorrência", relata.

Moraes revela que há um cenário de otimismo entre os empresários de Londrina. "Se compararmos com outras regiões do País, nossa situação é favorável, principalmente pela força do agronegócio. As mudanças de rumo nas políticas econômicas dão mais esperança para a retomada do crescimento", acredita. Apesar do otimismo, Moraes faz ponderações. "É claro que esse crescimento não se dará de uma hora para outra, então ainda não há espaço para exageros. É preciso ter cautela", aconselha.

Serviços

Atingido diretamente pela recessão, o setor de serviços acumula quedas nos indicadores. Em setembro de 2016, o volume do setor recuou 4,9% em relação ao mesmo mês de 2015. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa foi a maior queda para o mês desde o início da série histórica do indicador, em janeiro de 2012.

A professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Katy Maia, explica que o setor é impactado diretamente pelos baixos desempenhos das outras áreas da economia. "Em épocas de crise, com queda no número de empregos, o setor de serviços absorvia a mão de obra. No entanto, com a gravidade da crise atual, esse quadro não se confirmou", diz.

A projeção isolada do setor de serviços, segundo Katy, é difícil de ser feita, mas no geral, não são tão animadoras. "O desempenho recente do setor de serviços reflete as dificuldades que a economia brasileira vem enfrentando para retomar o crescimento do país. Na economia não há milagres, a retomada do crescimento exigirá tanto do governo como da população alguns sacrifícios e muita determinação", observa.


Compartilhe com o universo

Compartilhar Esperança à vista no Facebook Compartilhar Esperança à vista no Twitter Compartilhar Esperança à vista no Linkedin

Deixe seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *