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Negócios de impacto social ganham força entre empresas e investidores

Fonte: DCI

O ano de 2017 foi positivo para os negócios de impacto social, que buscam resolver problemas da população de baixa renda e ao mesmo tempo proporcionar lucro. O balanço é de alguns dos principais agentes desse segmento no Brasil: a gestora de fundos de investimento Vox Capital, as aceleradoras de negócios Artemisia e Yunus e o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), que reúne investidores e empresários.

Para eles, o interesse de investidores e de grandes empresas por esse tipo de iniciativa é crescente, o que sugere uma tendência igualmente positiva para 2018. Algumas pistas reforçam essa visão. O número de projetos apresentados a esses players aumentou, assim como os programas de apoio específicos. E algumas startups apoiadas decolaram em 2017, reforçando um movimento mais amplo do mercado iniciado poucos anos antes.

De acordo com uma pesquisa da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), organização internacional que monitora negócios de impacto social, entre 2014 e 2016 o número de investidores com esse foco subiu de 22 para 29 no Brasil. O estudo considera que há mais de US$ 2 bilhões disponíveis para investimento nessa área na América Latina.

Diferente de ONGs e filantropia, que dependem de doações, espera-se que startups de impacto social sejam sustentáveis e deem retorno financeiro, mesmo que seja para reinvestir no negócio. Para isso e para atender a grande população de baixa renda, as novatas precisam de escala, algo que também está no radar das grandes empresas.

Seja para atrair o público jovem, os millennials, que preferem adquirir produtos de marcas com propósito, ou por motivações genuínas, gigantes de diferentes segmentos, como Ambev, Facebook e Ford, fazem programas de aproximação com startups que tenham o impacto social como finalidade.

Veja abaixo qual foi a avaliação de cada um dos entrevistados:

Vox Capital

 

A Vox é uma das primeiras investidoras em negócios de impacto social no Brasil. Fundada em 2009 por Ermirio de Moraes Neto e Daniel Izzo, a gestora de fundos de investimento atua em três setores: educação, saúde e serviços financeiros.

Izzo diz que, embora o segmento ainda seja pequeno em números, o interesse pelo tema por parte das empresas cresceu muito em 2017. “Os grandes players, como bancos, também já estão começando a pensar nas formas de entrada no setor”, afirma.

Para ele, a crise econômica foi um catalisador para a qualidade dos empreendedores. “Há muita gente boa que não está mais nos antigos empregos e está empreendendo ou entrando em startups”, explica.

Segundo Izzo, das seis companhias ativas no portfólio, cinco dobraram de faturamento e a expectativa é que quatro dobrem novamente no próximo ano. Para ele, o fato de o mercado brasileiro ser muito grande nos três setores de atuação da gestora ameniza o impacto da crise econômica do País, já que ainda há muitas oportunidades.

O maior case do ano é a startup que concede micro crédito Avante. Com atuação em mais de cem cidades, predominantemente no nordeste, a fintech já distribuiu quase R$ 150 milhões para trinta mil pessoas e recebeu um aporte de R$ 38 milhões da maior instituição de micro crédito da América Latina, o Comportamos.

A Vox Capital conta com dois fundos, somando mais de R$ 200 milhões. Os valores foram aportados por pessoas físicas, geralmente por meio de family offices e também por órgãos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no fundo 2, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) Finep no fundo 1 e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O primeiro fundo, de cerca de R$ 85 milhões, já não está captando novas startups. Com 10 investidas inicialmente, o portfolio mantém seis. Das quatro saídas, apenas uma deu retorno.

O segundo fundo, com R$ 120 milhões de reais para realizar aportes, está procurando por empresas nascentes. O primeiro investimento foi feito em 2017, na startup Aondê. Para 2018, a Vox deve investir em mais duas ou três novatas.

O valor total do fundo, porém, não é investido no primeiro aporte. Inicialmente a Vox troca o investimento por 20% a 35% de participação e depois separa cerca de 30% do valor do fundo para realizar futuros aportes nos mesmos empreendedores, como foi o caso da Avante.

Na Artemisia, mais demanda

 

Uma das principais aceleradoras em negócios de impacto, a Artemisia é uma organização sem fins lucrativos. A gerente de Relações Institucionais da Artemisia, Priscila Martins, também avalia que o ano de 2017 foi positivo. O maior número de empresas procurando a organização foi um dos pilares de crescimento.

A aceleradora analisou quase mil startups neste ano. Além do programa “interno”, a Artemisia foi procurada por grandes companhias que desejavam se aproximar de empreendedores com foco no impacto social.

Em 2017 houve acelerações com um foco específico como Inovação e Mobilidade, juntamente com a Ford Fund; Saúde e Bem Estar, com o Instituto Sabin e ainda Educação Financeira e Serviços Financeiros, com o apoio da Caixa.

Além das iniciativas em conjunto com essas empresas, ainda há outras gigantes que apoiaram a Artemisia neste ano, como o Instituto AES e Fundação Cargill.

Outro projeto, com o Facebook como parceiro, vai acelerar dez startups que no primeiro semestre de 2018.

Nos últimos seis anos de aceleração, foram apoiados mais de 100 negócios. Desse montante, mais da metade das empresas receberam investimentos, na somando cerca de R$ 80 milhões. O programa oferece apenas mentorias, não aporte recursos.

Outro indicador que a Artemisia utiliza para monitorar seu sucesso é o número de pessoas que já foram impactadas pelos negócios que passaram por suas iniciativas. Ao todo, mais de 30 milhões de pessoas foram impactadas.

Para 2018, Priscila avalia que a aceleradora continuará crescendo, principalmente pelo aumento de demanda das corporações. “As empresas sinalizaram que querem continuar com a gente.” Segundo ela, é comum apenas a área filantrópica ou social de uma companhia iniciar o programa, mas depois funcionários de outros setores se interessam e passam a integrar a iniciativa.

Na Yunus, maior alcance

O conceito Yunus é diferente do adotado por outras aceleradoras. O empreendedor ou investidor pode recuperar seu capital investido, mas o lucro do negócio precisa ser reinvestido na operação. O sucesso do negócio não é medido pelo lucro gerado, mas sim pelo impacto criado para as pessoas ou para o meio ambiente.

Esse modelo surgiu na década de 70 em Bangladesh. O professor Muhammad Yunus observou que muitos moradores viviam em um ciclo de miséria, por pegar dinheiro emprestado e devolver com juros altos a agiotas.

O professor criou então o Grameen Bank, com a proposta de conceder microcrédito para pessoas que não teriam acesso a capital em bancos tradicionais. Com juros muito menores, o experimento foi um sucesso e milhares de pessoas saíram da pobreza ao pagar suas dívidas e começar pequenos negócios. Em 2006, Muhammad Yunus foi laureado com o Nobel da Paz.

A Yunus tem duas frentes de atuação no Brasil. Uma delas é financiar empreendedores. A outra é prestar consultoria para o desenvolvimento de negócios sociais em grandes empresas.

Nos últimos dois anos foram quatro startups investidas. Uma ainda não foi divulgada neste ano. Houve dois investimentos na Moradigna, que já realizou mais de 200 reformas a um preço acessível em casas com condições insalubres na periferia de São Paulo. Outro foi destinado à Assobio, que presta serviços de reflorestamento. O Instituto Muda faz gestão de resíduos e também recebeu aporte neste ano.

Diferentemente dos investimentos tradicionais, a Yunus não fica com uma participação nas empresas e usa o modelo de empréstimo, oferecendo dois anos de carência e juros competitivos aos empreendedores.

De acordo com o gestor da Yunus, Luciano Gurgel, o ano de 2017 foi positivo. O indicador que ele utiliza é o número de pessoas impactadas pelos negócios apoiados. Em 2016 foram mil; em 2017, 14 mil. Para 2018, a perspectiva é de um novo crescimento, para 50 mil.

Em relação às grandes empresas, a Yunus promoveu a segunda edição do programa Corporate Action Tank, que contou com cinco delas: Johnson & Johnson, Caixa Econômica, Fenae, Natura e Nestlé. O objetivo é auxiliar essas companhias a criar algum serviço ou produto com viés de impacto social.

O primeiro grande projeto que saiu dessa iniciativa foi a água Ama. A Ambev, participante da primeira turma do Corporate Action Tank, desenvolveu esse produto com a finalidade de reverter todo o lucro (mais de R$ 1,1 milhão até o momento) para projetos de água potável.

Além de praticamente triplicar o número de pessoas impactadas para 50 mil em 2018, Gurgel aponta para novas iniciativas que podem surgir. “Além do terceiro ciclo do Corporate Action Tank, pode acontecer o lançamento de um projeto social das turmas anteriores.” O gestor da Yunus diz ainda que estão projetados cinco investimentos em startups.

No ICE, articulação para disseminar o tema 

Com atuação tanto no investimento de impacto social como também na filantropia está o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), que surgiu em 2009 com o objetivo de reunir empresários e investidores em torno de inovações sociais.

Uma das ações do Instituto é fomentar o tema em incubadoras e aceleradoras, para que elas  incluam esse viés em seus programas. O programa é realizado em parceria com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e com o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Desde 2015 essa iniciativa capacitou mais de 40 incubadoras e aceleradoras. O processo de formação conta com cursos presenciais de seis meses. Ao final, as empresas participantes entregam um plano de ação para mostrar como pretendem colocar os negócios de impacto na sua aceleração.

O ICE desenvolveu um programa neste ano para realizar aportes em startups. Assim como na Yunus, a modalidade é em forma de empréstimo. Os empreendedores recebem entre R$ 150 mil a R$ 250 mil. As incubadoras ou aceleradoras que apoiaram esses empreendedores recebem um prêmio por isso, no valor de 17,65% do aporte.

De acordo com o analista de programas Samir Hamra, além de dar sequência aos programas deste ano, para 2018 o Instituto também espera avanços com os órgãos governamentais. Uma das ações é um decreto que deve ser assinado pelo presidente Michel Temer em breve. 

Elaborado juntamente com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), o texto foi desenvolvido para fomentar o impacto social, diz Hamra. “É uma estratégia nacional, que é ampla e trabalha com esse tema em quatro eixos.”

Os eixos citados pelo analista vão desde a necessidade de aportar mais recursos para esse campo, tanto públicos como privados, até um ambiente regulatório favorável ao tema, considerando tanto o lado do investidor como o do empreendedor. 


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