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O novo berço para o ‘Made in Londrina’

Por Janaína Ávila – Revista Mercado em Foco – ACIL

 

Se a matemática não é uma opinião, os números da industrialização na Cidade mostram uma amarga realidade. De acordo com dados levantados pela própria Prefeitura, Londrina passou por um processo de “desindustrialização”, com uma queda de 15% de participação no PIB (Produto Interno Bruto) do Município, perdendo mais de 500 indústrias e 5,5 mil empregos, isso só entre 2010 e 2015, ano também da estréia da Cilon, a nova Cidade Industrial na Zona Norte, projeto que ganhou um fôlego novo com o anúncio de investimento milionário do grupo J.Macêdo, em abril deste ano.

Passada a empolgação com a notícia, a administração municipal precisou readequar todo o projeto original aos desejos da empresa que vai inaugurar o novo parque industrial e, com isso, a Cilon só deve se transformar em realidade em 2020.

Nem mesmo o lançamento da pedra fundamental das obras do complexo – anunciado para o segundo semestre – vai acontecer em 2019. De acordo com Bruno Ubiratan, presidente da Codel, o Instituto de Desenvolvimento de Londrina, não se trata de um atraso e, sim, de um novo prazo para atender toda a complexidade do projeto. “No segundo semestre, vamos terminar os textos do projeto de lei a ser enviado aos vereadores para que a doação do terreno seja aprovada até o fim do ano”, diz.

O novo projeto de loteamento já está praticamente pronto, informa Ubiratan, e em breve deve ser enviado ao Governo do Estado que, através do Paraná Cidades, vai autorizar a abertura das licitações para as vendas dos lotes.

Venda na planta

“Já temos uma lista de mais de 75 empresas interessadas em se instalarem na Cidade Industrial, com lotes de dois a seis mil metros quadrados. Precisamos também começar a fomentar um novo modelo de negócios, subsidiado pela Prefeitura. Ainda temos esperanças de começar a venda dos lotes ‘na planta’ ainda em 2019”, completa.

Além da viabilização do novo Condomínio Industrial, Ubiratan revela a intenção da atual administração em simplificar a legislação, criando um cenário mais atraente ao empresário que escolhe Londrina para instalar a sua atividade. “Isso tornará a cidade mais competitiva, com uma lei industrial moderna, criando facilidades e com respeito ao meio ambiente”, afirma.

A iminente concretização do novo Parque Industrial traz à tona uma velha discussão: a vocação econômica do município. Se nos últimos anos, a prestação de serviços e os investimentos na área de tecnologia se tornaram protagonistas da pauta econômica, o que uma guinada industrial poderia trazer de novo ao panorama local? “O setor industrial vem caindo ao longo dos anos. Perdemos muito”, continua Ubiratan. “Não podemos mais perder oportunidades, dispensar empresas porque o foco seria tecnologia ou serviços, não podemos focar apenas em um segmento. Acredito que temos que buscar empresas que precisem de mão de obra pesada, existe mercado para isso e Londrina não vai se tornar uma ‘cidade operária’, mas sim uma cidade que tem emprego, que gera renda. O que estamos fazendo é trazer oportunidades. Quando uma indústria de grande porte se instala aqui, atrai outras, desperta a curiosidade de investidores, instiga. Trabalho é geração de renda para a cidade, é geração de bem-estar social”, completa.

Uma política de industrialização mais reativa é a grande esperança de entidades ligadas ao setor. Na opinião de Ary Sudan, representante da FIEP em Londrina, o tema não ganhou atenção especial nos últimos anos embora sempre tenha marcado presença nos discursos. “É como se tivéssemos consciência da importância da indústria para o nosso desenvolvimento, no entanto, falamos muito e agimos pouco”, diz. Ele reconhece o esforço da administração atual para mudar o cenário: “A atração de indústrias exige, além do desejo, atitudes”, diz.

Para o empresário, uma Cidade Industrial não bastará se a intenção for atrair novos investimentos, é preciso criar outras áreas dedicadas. “A indústria é quem agrega valor, oferece bons salários e irriga a economia como um todo. Londrina tem tudo para ser um grande polo industrial, mesmo que não se torne uma cidade industrial, com uma boa contribuição da indústria na sua formação do PIB. Nós podemos fazer isso com inteligência. Temos uma diversificação grande e a sorte de contar com uma indústria que agrega valor e emprega muitos profissionais com salários elevados, como a da tecnologia da informação. Não termos uma indústria concentrada em um único setor é importante para nos proteger de crises de um setor específico. Londrina nunca vai ser uma cidade industrial, afinal, sua economia está muito influenciada pelo setor de serviços. Isso é muito bom porque reduz o risco de crise na cidade”, diz. 

Anos de espera

A opinião é compartilhada pelo diretor industrial da ACIL, Marcus Gimenes. Segundo o empresário, Londrina é vista como polo regional de serviços e comércio e, para se tornar um polo industrial, precisa desburocratizar radicalmente os processos e facilitar a instalação de novas indústrias. “Temos casos de empresas aguardando a liberação de áreas doadas pela Prefeitura há anos, por exemplo. Algumas iniciativas estão sendo tomadas como a Lei de Uso e Ocupação do Solo, recentemente aprovada. Mas isso é só o começo. A cidade precisa de várias ações conjuntas, como, por exemplo, um Plano Diretor coerente, infraestrutura logística, fomento adequado e uma agência de desenvolvimento”, afirma. “Após removermos este ‘lixo burocrático’ devemos estabelecer marcos regulatórios com fundamentos legais sólidos para oferecermos uma ‘segurança jurídica’ ao investimento industrial que considero o pilar magno de sustentabilidade de um regime econômico sadio”, completa.

Indicadores econômicos recentes não desautorizam os muito otimistas. O setor industrial brasileiro vem sofrendo bastante com a crise e até existe uma expectativa de retomada do desenvolvimento nos próximos anos para suprir uma demanda reprimida. “As empresas estão cheias de dívidas, assim como as famílias. A taxa de desemprego é alarmante e tudo isso atrapalha o crescimento do PIB já que falta capital de giro para as empresas e diminuiu o poder aquisitivo do consumidor”, analisa Marcus Gimenes. É no baixo crescimento do PIB – revisado para 2019 em 1,5% – que o setor industrial sente a crise. “Alguns setores acabam sofrendo mais que outros em função das flutuações do câmbio e outras particularidades, como aquelas ligadas à indústria da construção civil, que tiveram problemas de distratos e altos estoques de imóveis”.

O nível de ociosidade da indústria também preocupa. Segundo um recente levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), de 15 segmentos que compõem a indústria de transformação, no Brasil, 12 operam com capacidade de produção abaixo da média histórica no primeiro trimestre de 2019. Um nível elevado de ociosidade no setor industrial provoca atraso em planos de investimento, o que dificulta a criação de vagas de emprego e, consequentemente, compromete uma eventual retomada do crescimento. “Como se não bastasse, o índice de confiança do empresariado vem caindo com a demora na aprovação das reformas, em especial a da previdência. O momento é de esperança sim, mas sem investimentos de curto prazo”, diz Gimenes.

A médio prazo, continua o diretor da ACIL, a tendência é diminuir a ociosidade, e no longo prazo ganhar competitividade – com ferramentas de Indústria 4.0, por exemplo. “Algumas iniciativas estão sendo feitas, como as novas regras de contratações, desoneração de cadeias e redução da burocracia para exportar. Isto tem uma janela de oportunidade para Londrina também, mas a cidade tem que estar preparada para saber aproveitar as oportunidades que virão”.

Quanto à Cilon, Gimenes ressalta a necessidade de acelerar o projeto. “O quanto antes for inaugurada e os lotes disponibilizados para a aquisição por parte de empresas interessadas, melhor. Isso vai facilitar a instalação de empresas. O risco é que algumas delas que hoje estão dispostas a investir, desistam em função dos cenários. Ainda assim, a Cidade Industrial é um ativo importante para Londrina”, completa. Sem abandonar a vocação para serviços e comércio, Gimenes vê no novo Condomínio Industrial uma possiblidade de mudança no imaginário do londrinense médio que ainda enxerga a cidade como prestadora de serviços e forte no comércio. “A indústria pode passar a fazer parte do imaginário do cidadão a partir do momento que ele vê na instalação de novas indústrias, uma oportunidade de trabalho e melhoria da sua qualidade de vida dentro da cidade”, afirma.


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