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Para economistas, Brasil vai sair da crise global em posição vantajosa

 

O seminário "Comércio e Finanças: os Desafios da Crise Mundial", promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Banco Mundial, com o apoio do Valor e da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), mostrou economistas ainda divididos quanto aos rumos da crise mundial, embora a maioria concorde que o Brasil está em posição vantajosa. Na abertura, o economista Carlos Geraldo Langoni, coordenador do evento, deixou no ar a pergunta se aquele era o último seminário da crise e o primeiro do pós-crise.

 

Não houve concordância entre brasileiros e estrangeiros que participaram do encontro, mas o lado brasileiro, começando pelo próprio Langoni, revelou-se mais otimista. "Nos últimos 60 dias a percepção mudou muito", disse o ex-presidente do Banco Central (1980-1983), citando a evolução favorável dos indicadores de confiança nos Estados Unidos, Europa e até no mais combalido Japão.

 

"A verdade é que a economia mundial dá sinais de uma lenta recuperação", disse Langoni, para quem os últimos sinais desmentem a chamada teoria do "L", segundo a qual após a queda provocada pela crise a economia marcharia em linha horizontal, sem retomar o crescimento por muito tempo. Ele agora enxerga um movimento mais próximo do clássico "U", ainda que possa ser um "U" assimétrico, com a perna da retomada não alcançando a mesma altura do lado da queda.

 

O economista da FGV foi ainda mais otimista quanto ao Brasil. "O Brasil passou muito bem pelo teste de estresse da economia mundial", disse, ressaltando as diferenças em relação a crises passadas: "Não houve crise cambial, não houve fuga de capitais. Foi o teste definitivo para o regime de câmbio flutuante e foi o primeiro choque externo que não empurrou o Brasil para uma espiral inflacionária", relacionou. Langoni disse que o Brasil operou bem até na parte fiscal, agindo para compensar os desinvestimentos privados, mesmo considerando que este é um aspecto que preocupa para o futuro.

 

O economista Sebastian Edwards, da Universidade da Califórnia (Ucla) mostrou expectativa oposta, ao menos no tocante à situação mundial. "É o primeiro seminário pós-crise? Eu gostaria que fosse verdade, mas não acho, acho que a crise ainda está conosco e que ainda estaremos no fundo do poço por algum tempo", disse. Para Edwards, o máximo que pode estar ocorrendo é "o crescimento de algumas plantinhas em meio a ervas daninhas".

 

O máximo que o economista da Ucla aceita é que a economia mundial parou de cair. Mas ele avalia que ainda há muita coisa ruim, gerando risco de contaminação. Ele citou o caso da Espanha, país que, segundo ele, pode vir a precisar de uma deflação de até 30% para se reestruturar. Falou também da possibilidade de os Estados Unidos enfrentarem uma inflação, fruto da explosão monetária para cobrir o socorro do Estado à economia.

 

Há ainda, no cenário de Edwards, a hipótese de os Estados Unidos terem uma segunda recessão, como ocorreu em 1937 após a primeira fase de recuperação pós-depressão de 1929. O risco de nova recessão agora seria representado pela possibilidade de o governo do presidente Barack Obama ter que aumentar impostos em busca de equilíbrio fiscal para realizar seus programas na área social.

 

O economista admite que a América Latina, especialmente o Brasil, reagiu melhor à crise do que no passado, mas adverte que no após-crise, a recuperação do atraso segue por fazer, desde o combate à pobreza até o esforço educacional, "uma vergonha na América Latina". Defendeu mais foco em inovação, produtividade e competitividade na região. A ênfase na educação e na competitividade foram também as receitas para a região e para o Brasil dadas por Makhtar Diop, diretor do Bird para o Brasil, que encerrou o evento.

 

O economista-chefe do banco UBS Pactual, Eduardo Loyo, ex-diretor do Banco Central, preferiu concentrar sua análise no caso brasileiro. Para ele, o Brasil está, ao mesmo tempo, experimentando uma situação de crise e de pós-crise. "Estamos, de fato, experimentando um pouquinho de um amanhecer, seja ele verdadeiro ou não", disse Loyo.

 

Ele contou que em recente viagem à Ásia viu expostas em várias lojas de varejo de produtos financeiros de Tóquio ofertas de opções para investir no Brasil, ao mesmo tempo que o governo americano ia à China tranquilizar quanto ao seu compromisso com a manutenção do dólar forte. "Eu me senti em uma situação inversa (ao representante americano)", contou.

 

Segundo Loyo, embora boa parte da recente apreciação do real possa ser explicada como contrapartida ao aumento dos preços das commodities, mas, como a apreciação da moeda brasileira é maior do que a alta dos produtos, resta uma diferença que, para Loyo, só pode ser explicada pela melhora de humor em relação aos ativos brasileiros.

 

Na parte do seminário que discutiu o comércio mundial, a tônica dos palestrantes foi de advertências quanto aos riscos de um recrudescimento protecionista e quanto à necessidade de retomada das negociações comerciais, especialmente da conclusão da Rodada de Doha de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Gary Hufbauer, do Peterson Institute for International Economics, disse que a conclusão de Doha poderia render ao Brasil mais US$ 2 bilhões em exportações.

Fonte: Valor Econômicoc


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