Fonte: Folha de Londrina
São Paulo – O consumo deve responder por 100% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo semestre deste ano. Da expansão de 2,2% prevista para o período, em relação ao segundo semestre de 2008, o consumo das famílias deverá representar 1,4 ponto porcentual, aponta a MB Associados. O restante (0,8 ponto porcentual) virá do consumo do governo.
””Antes, essa composição era mais variada, mesmo em outras recessões, como a de 2001 ou a de 2003””, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB. ””Isso é importante para mostrar que os investimentos e as exportações devem continuar sofrendo por causa da crise internacional.””
O economista ressalta que a estrutura de consumo hoje tem mais canais de crescimento do que no passado. ””A renda e o crédito estão muito mais equilibrados hoje.”” Segundo ele, a renda não depende tanto da classe média, que foi a que mais perdeu na crise, e o crédito teve desenvolvimentos importantes nos últimos anos, como a queda da taxa de juros para níveis historicamente baixos e a expansão do crédito consignado.
””Há uma forte relação inversa entre a taxa de juros real e as vendas do comércio varejista, ou seja, quanto menor a taxa de juros real, maiores as vendas do comércio””, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores.
Borges ressalta que os juros menores não significam apenas redução do custo do crediário, mas também estimulam os bancos a ampliar os prazos de financiamento e a direcionar mais recursos para o crédito, em vez de simplesmente aplicá-los em títulos públicos.
As taxas de juros reais, que no fim do primeiro trimestre estavam em torno de 7,8% ao ano, deverão chegar em dezembro perto de 5% ao ano, supondo que a Selic caia para 9,25% até lá, conforme estimativa da LCA.
Eletrodomésticos
Não é por menos que a LCA projeta um desempenho no segundo semestre mais favorável para os setores do varejo mais sensíveis ao crédito e à confiança. Móveis e eletrodomésticos, por exemplo, devem ter crescimento de 1% em relação ao mesmo período de 2008, depois de uma queda estimada em 0,5% no primeiro semestre.
Nas lojas de automóveis e veículos comerciais leves, o crescimento deverá ser de 19,6%. Já nos depósitos de materiais de construção, cuja queda prevista de vendas do primeiro semestre chega a 5,9%, deverá ocorrer expansão de 2,3%.
Os fabricantes de eletrodomésticos da chamada linha branca (fogões, geladeiras e lavadoras) e as montadoras de automóveis atribuem o bom desempenho das vendas ao corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). ””Se o corte de IPI para os eletrodomésticos for renovado em julho, a perspectiva é fechar 2009 repetindo os números de 2008””, diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, entidade que reúne os fabricantes de produtos eletroeletrônicos instalados no País. Ele diz que o corte de impostos conseguiu reverter a queda nas vendas em relação ao mês anterior e estancar as demissões.
O varejo confirma a reação nas vendas. Atraídos pelo preço menor, os consumidores voltaram a comprar eletrodomésticos em maior escala. Na Lojas Cem, por exemplo, o corte no IPI respondeu por dois pontos porcentuais do crescimento de 9% registrado em maio. ””A redução de preço teve efeito psicológico muito grande””, diz o diretor de Relações com o Mercado, Valdemir Colleone. O executivo ressalta que o consumidor está mais confiante com o emprego e menos reticente na hora de comprar.
A Sondagem do Consumidor da FGV de maio revela, por exemplo, que, pela primeira vez desde setembro de 2008, a confiança na situação presente da economia cresceu em relação ao mês anterior, apontando uma virada no indicador. Pesquisa com 2 mil consumidores em todo o País, feita pela CNT/Sensus, confirma que a preocupação com o risco de desemprego diminuiu. Em maio, 39,1% dos entrevistados informaram que tinham receio de perder o emprego, ante 44,8% em março.
Marcelo Rehder e Márcia De Chiara para Agência Estado
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