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Perspectivas econômicas após um ano pandêmico

Fonte: Susan Naime – Revista Mercado em Foco/ACIL 

Se as cicatrizes provocadas pela pandemia da Covid-19 não passaram despercebidas no setor financeiro, uma análise do mercado macroeconômico poderá reacender a luz verde dentro das empresas, que passaram mais de oito meses ofuscadas por um cenário cheio de incertezas.

Para quem buscava uma luz no fim do túnel, as reflexões otimistas provocadas por Guilherme Abbud chegam como um presente de fim de ano. Sócio fundador e CIO da Persevera Asset Management, um fundo de destaque na XP Investimentos, Abbud se baseia em sua experiência de mais de 25 anos no mercado financeiro, com passagens pelo ING, HSBC e Bradesco, para avaliar indicadores considerados por ele históricos para o Brasil, e projeta um novo cenário econômico para os próximos anos. O especialista também integrou o time de palestrantes do Lidere 2020.

Confira a seguir os principais insigths da entrevista da Mercado em Foco com Abbud.

A economia antes da pandemia

“Na Persevera, tínhamos uma visão que era bem diferente da média do mercado, e sob esta perspectiva eu diria que as coisas não mudaram tanto assim. Claro, tivemos mudanças com o coronavírus, mas o norte que o Brasil e o mundo estavam seguindo não mudou tanto assim. A gente via o mundo, primeiro, e depois o Brasil, de uma forma muito similar. Achamos que o mundo, já há muitos anos, e provavelmente, há muitos por vir, está em um certo equilíbrio entre crescimento decente, mais fraco do que era antes, mas decente. Por outro lado, com inflação mais baixa, portanto, com juros bem mais baixos. Então, há um equilíbrio novo que, necessariamente, não é ruim. Na Persevera, temos defendido que o país, a partir de 2015 e 2016, passaria muitos anos trilhando o mesmo caminho que os outros países trilharam. Seriam muitos anos de decepção com a atividade econômica e com o emprego, porque realmente demora para retomar quando está todo mundo endividado e desempregado. Mas, pela primeira vez na vida, o Brasil iria se surpreender com uma inflação incrivelmente baixa. Ou seja, tem uma parte ruim, já que será um processo longo para voltar as atividades, os empregos e a renda, mas pela primeira vez na vida não teremos problemas com o nosso principal inimigo, que é a inflação. Então uma coisa muito interessante vai acontecer no Brasil, e que já tinha acontecido em outros países, que é a taxa de juros caindo muito mais do que qualquer pessoa possa imaginar.”

A economia após a pandemia

“Quando veio o coronavírus, avaliamos que o novo cenário somente reforçou esta nossa visão. Ou seja, vai demorar um pouco para a recuperação de empregos e atividades, mas a inflação vai ficar mais baixa ainda. Então, estamos indo para o caminho certo. O Brasil está plantando sementes muito boas para o futuro, talvez, as melhores que já plantou. Estamos nos livrando do pior inimigo que já tivemos, que era essa taxa de juros que nos sufocou a vida inteira – o Brasil sempre foi o país que mais pagou taxas de juros no mundo. Por isso, acreditamos que esta mudança de taxa de juros em um país que sempre foi viciado em taxas altas é transformacional. O Brasil vai se transformar de uma maneira muito mais forte do que as pessoas estão imaginando. Iremos virar um país normal, como os outros países. Mas precisaremos ter um pouco mais de paciência. A economia irá retomar, mas será aos poucos, talvez teremos mais bons dois anos retomando aos pouquinhos, sem aquele crescimento de 3%, 4% que a gente gostaria.”

Perspectivas e projeções

“De fato, uma quarentena tão longa, num país onde as empresas têm pouca reserva de caixa, e quando têm acesso ao sistema financeiro, é a partir de taxas muito altas, a coisa demora um pouco mais mesmo do que em relação a outros países. Por isso acreditamos que não há risco de nenhuma inflação no curto prazo, e nem de subir os juros. Por mais que a gente tenha as nossas bagunças fiscais, isso não vai virar inflação. E, não virando inflação, os juros não vão subir. Se os juros não vão subir, o fiscal não desarranja. Nesse processo, dá tempo dessa queda de juros, aos poucos, ir chegando aos empresários e às pessoas para que a gente possa voltar a respirar, voltar a contratar, voltar a vender, voltar a gerar empregos. E aí vem a parte mais importante dessa equação toda. Pela primeira vez na vida, vai começar a chegar a possibilidade de empréstimos baratos para pequenas e médias empresas, e para as pessoas físicas também, coisa que nunca aconteceu no Brasil. Não é instantâneo e nem se trata de um passe de mágicas, mas com o tempo isso irá mudar o Brasil. Acho que em mais um ano e meio, ou dois, de digestão do excesso de endividamento com os juros altos do passado, teremos pela frente 10 anos incríveis no Brasil, de bastante geração de renda, bastante geração de emprego, bastante crescimento, e um crescimento contínuo, não inflacionário, pela primeira vez.”

E a moeda brasileira?

“Hoje, o Brasil é um dos países mais baratos do mundo. Se você olhar a moeda brasileira, é a moeda que neste ano mais desvalorizou no mundo, a não ser por alguns países menores. De um lado, é bom. É que a gente tem trauma com câmbio, então quando desvaloriza muito aqui, ficamos assustados. Mas o câmbio já está desvalorizado há quatro anos, não gerou inflação, nem alta de juros, nenhuma empresa quebrou devido ao endividamento cambial excessivo, não quebrou o país como quebrava no passado, então sobrou a parte boa da desvalorização que é deixar os produtos brasileiros muito mais competitivos para o exterior.”

Investimentos versus pandemia

“Nós gostamos muito da bolsa brasileira. Se por um lado, na atividade econômica, ainda ficaremos patinando um pouco, por outro, as grandes empresas listadas na bolsa, conseguiram se reinventar nos últimos cinco ou seis anos. Elas demitiram excesso de pessoal, venderam partes menos lucrativas do negócio, controlaram mais custos, usaram a queda de juros para se desalavancar e se desendividar, por isso chegaram no coronavírus muito saudáveis e muito sanadas. Essas empresas grandes de capital aberto, diferente das pequenas e médias que ainda estão lutando muito, aguentam o tranco e já estão voltando à lucratividade. Então, as ações das boas empresas na bolsa, nos próximos anos, vão dobrar e triplicar de valor, para refletir este novo Brasil, finalmente com taxas de juros mais civilizadas. Mas, claro que brasileiro não é americano, e a gente vê muito brasileiro, que nunca teve bolsa, de repente, querendo ter 80% do patrimônio ali, e aí não aguenta mesmo porque vem uma crise, a bolsa cai 30%, 40%, a pessoa fica em pânico e vende tudo no pior momento. Vejo que os brasileiros precisam passar por uma autoanálise, uma redescoberta, onde cada um vai ter que ir aos poucos aumentando a exposição na bolsa e descobrir o que cabe em seu próprio estômago. No longo prazo, o preço da bolsa vai para onde a lucratividade das empresas for. E a gente acha que a lucratividade das empresas brasileiras, primeiro as grandes de capital aberto, e depois as pequenas e médias, vai subir muito nos próximos anos, principalmente nessa realidade de inflação e juros contidos, então somos muito otimistas em relação à bolsa.”


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