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Rumo à industrialização

Fonte: Marco Feltrin – Revista Mercado em Foco/ACIL

Primeiro prefeito eleito nascido em Londrina. O primeiro eleito e reeleito em primeiro turno. Marcelo Belinati inicia 2021 no comando da cidade depois de conquistar a preferência de sete de cada dez londrinenses que foram para as urnas em 15 de novembro. Semelhante ao tamanho da vitória política é o desafio que ele tem pela frente nos próximos quatro anos, assuntos que serão tratados nesta entrevista para a Mercado em Foco

Mercado em Foco: O senhor foi reeleito prefeito de Londrina com quase 70% de votos. O quanto isso traz de tranquilidade ou de pressão para o segundo mandato?

Marcelo Belinati: Aumenta minha gratidão, porque mostra a confiança das pessoas. E também me traz responsabilidade, que vou retribuir com muita organização, planejamento, seriedade na administração e muito trabalho, pra trazer mais qualidade de vida para a população.

MF: O que o prefeito reeleito Marcelo Belinati gostaria que o “ex-prefeito Marcelo Belinati” não tivesse deixado pra trás no fim do mandato?

MB: Eu vou ser muito franco: nada. Está tudo caminhando. Quando assumimos em 2017, tínhamos várias âncoras que seguravam o desenvolvimento da cidade. Algumas foram trabalhadas e concluídas e outras foram trabalhadas e estão em processo de resolução. Planta de valores, a Sercomtel, reestruturação administrativa da prefeitura, a reforma da Previdência, que já fizemos metade. Muito se caminhou. Você não consegue mudar coisas históricas do dia para a noite. Quando eu olho hoje para a cidade, os desafios são muito mais tranquilos do que quando eu entrei. Ainda temos muitos desafios, mas estamos caminhando.

MF: Existe uma grande expectativa em torno da Cidade Industrial de Londrina, na zona norte. O que temos de concreto até agora e como o senhor vislumbra os próximos quatro anos de industrialização da cidade?

MB: A primeira coisa que eu vejo é que aquele papo de que Londrina não tinha vocação para indústria era uma grande falácia. O que precisava era a prefeitura dotar a cidade de condições para receber essas empresas e isso está visível agora. Estamos recebendo a J.Macêdo, investimento de R$ 1 bilhão, 6 mil empregos. Tem a Sadia/Perdigão, a Tata, segundo maior empresa de TI do mundo, que tem a promessa de transformar Londrina no segundo polo mundial da empresa, com 8 mil empregos. Sobre a Cidade Industrial, são 90 lotes vendidos e não doados, e a boa notícia é que todos os 90 já estão comercializados. Tem fila de espera de empresas para se instalarem lá, de fora e também da cidade que estão se expandindo.

MF: A logística é apontada como grande entrave para o desenvolvimento industrial da nossa cidade. O que o senhor, como prefeito, pode fazer para reverter isso?

MB: Primeiro que essa visão é equivocada. Se não, por que o centro de distribuição da Magazine Luiza estaria em Londrina? Por um motivo muito simples: aqui estamos em um raio de 600 quilômetros de 70% do PIB nacional. Estamos perto de grandes centros. O que precisa é dar condições, que nós estamos trabalhando também junto com a sociedade organizada, governo do estado, para que tenhamos acesso em pista dupla tanto para São Paulo quanto para Curitiba, porque são estradas inclusive pedagiadas, então isso já deveria ter sido entregue.

MF: A burocratização do setor empresarial também é alvo de críticas. Houve avanço, na questão de emissão de alvarás, mas ainda é preciso avançar mais. O que ainda é possível fazer?

MB: Os processos de desburocratização que fizemos tiveram reflexos importantes na economia da cidade. Em plena pandemia, segundo a Junta Comercial, tivemos a abertura de mais de 5 mil empresas na cidade. Mas nós temos um porém: resolver a questão do Plano Diretor. Em 2015, quando a prefeitura fez a lei de zoneamento, nós tínhamos 193 eixos comerciais em Londrina. Isso foi reduzido à metade e criou distorções inaceitáveis como, por exemplo, o fato de na Avenida Bandeirantes, onde só tem clínica médica, o plano proibir isso no local. Quando a pessoa vai abrir um comércio, uma prestação de serviço, tem que fazer uma consulta prévia ao Ippul para saber se o zoneamento permite. Com esse plano de 2015, 80% das consultas dão negativo para abertura da empresa. Nós temos que corrigir isso. Pensar a cidade de forma planejada, que valorize a vocação empreendedora do londrinense. Plano Diretor não é problema, é solução.

MF: Estamos há mais de 9 meses enfrentando a pandemia do novo coronavírus. Como o senhor avalia as decisões tomadas até agora? Principalmente as mais criticadas, como o fechamento do comércio?

MB: Cada um tem uma visão do que deveria ser feito. Londrina está entre os menores índices de letalidade, o que nos faz entender que as medidas aqui tomadas foram adequadas. É algo novo, o mundo não sabia lidar. Mas os resultados nos fazem crer que foram decisões corretas, no sentido de preservar a saúde e vida das pessoas, buscando equilíbrio para que as atividades econômicas, ainda que com restrições, pudessem funcionar. A mensagem que eu passo é: vamos nos cuidar. Só vai acabar a hora que tiver vacina. E, sendo bem objetivo, não existe mais espaço para lockdown. A gente precisa aprender a conviver com isso.

MF: O senhor tem um pepino para descascar este ano, que é a situação da Caapsml. As alíquotas aumentaram, mas o déficit segue em R$ 2 milhões por mês. O que fazer para o caixa não quebrar?

MB: Tem mais pepinos. De quando nós assumimos, tinha mais. Olha a Sercomtel: R$ 700 milhões de dívidas, e olha no que transformamos. Um grande grupo empresarial assumiu o controle acionário, assumiu a dívida, vai investir R$ 500 milhões na cidade, comprou a Copel Telecom. O que tinha um potencial para quebrar a cidade se transformou em um catalisador de desenvolvimento. Tem dois grandes problemas hoje. Um é a Caapsml. O outro, ações equivocadas de administrações anteriores que geraram uma ação judicial no transporte coletivo que vai resultar em uma dívida de R$ 200 milhões, que já transitou em julgado e estamos tentando buscar uma solução. São R$ 200 milhões que estamos tirando da cidade. Daria para construir sete cidades industriais. Na Caapsml, nós já equalizamos o déficit financeiro. Fizemos o aumento das alíquotas, tanto patronal quanto dos servidores, um aumento em R$ 68 milhões no aporte anual. Foi equacionado, mas à medida que as pessoas vão se aposentando, o déficit volta a acontecer e tem que ficar tirando dinheiro do fundo, que já estava magrinho. Nós temos que resolver a questão atuarial. Nos próximos 35 anos, como teremos recursos para pagar o direito dos aposentados em receber e ao mesmo tempo proteger a cidade? Se quebra a Caapmsl, quebra a prefeitura, que terá que arcar com todos esses custos, o que é inviável. Houve a reforma da previdência, em Brasília, e tivemos que aguardar para ver o que vinha. Com a reforma feita lá, estamos construindo a nossa reforma. Ao longo dos anos, foram empurrando com a barriga, mas nós temos que resolver. Não é uma solução bacana, os prefeitos sabem que politicamente não era o mais adequado, mas temos que fazer esse debate para encontrar a solução. E ela vai ser compartilhada, porque a conta é muito grande. Hoje, o déficit atuarial é de R$ 2,2 bilhões.

MF: No início do seu primeiro mandato, o senhor dizia para as pessoas tirarem uma foto da cidade e compararem quatro anos depois. E agora, qual Londrina o senhor pretende ver na foto quando deixar a cadeira de prefeito em 2024?

MB: Eu estou muito otimista. Londrina está vivendo um momento especial. Tem problema? Muitos! Mas estamos avançando. Eu volto a falar da desburocratização para mostrar como a cidade avança. Em 2016, Londrina liberou 800 mil metros quadrados de construção. Em 2019, saltou para 1,9 milhão e, neste ano de 2020, passa de dois milhões. Vende tijolo, vende areia, vende cimento, a empresa de material de construção contrata mais funcionários, é um círculo virtuoso que está acontecendo em diferentes setores da economia. Eu enxergo Londrina recuperando o protagonismo no cenário estadual.

MF: Para finalizar, uma pergunta de ordem pessoal. Quando o senhor tira a “farda” de prefeito e vira o cidadão comum Marcelo?

MB: Não tiro. É 24 horas, de domingo a domingo, ainda mais com a pandemia. A vida do prefeito é assim. Centenas de mensagens no WhatsApp todos os dias, das mais variadas. É o mesmo número há mais de 20 anos, desde meu primeiro celular. Eu não ligo, porque sempre trabalhei muito como médico. Faz parte, eu gosto, sou um apaixonado pelo que faço. Não é fácil, mas é uma missão. Me realiza fazer algumas coisas que você percebe que impactam de forma positiva na vida das pessoas.


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