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Sorrisos de plantão

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Fernanda Bressan

Janeiro de 2018 marca 22 anos de sorrisos prescritos junto com gargalhadas de medicamentos. Ao longo deste período, boa parte dos hospitais da cidade recebeu a inusitada visita dos doutores-palhaços com nariz vermelho, remédios para chulé, adesivos que tiram frieira e uma infinidade de insanidades que, para eles e para as crianças internadas, viram a mais completa sanidade e ajuda a restaurar a saúde e o bem-estar.

Este é o Plantão Sorriso, projeto que nasceu como uma associação sem fins lucrativos (ONG) pelo trabalho da psicóloga Luciana Bazzo. “A Luciana conheceu o projeto Doutores da Alegria em São Paulo e trouxe a ideia para cá”, recorda Emília Miyazaki, atual presidente do Plantão Sorriso e presente desde a sua fundação. A palhaça Dra. Tulipa, que ela incorporou durante muitos anos, encheu hospitais de alívio, alegria, suspiro. Esta, aliás, é a essência do projeto, levar alívio para quem está sofrendo. E são muitas crianças!

Emília contabiliza que são feitos cerca de 500 atendimentos por semana, o que gera 20 mil atendimentos ao longo de um ano. Apesar das peraltices e piadas, o projeto é sério e exige recursos constantes. “Trabalhamos com atores profissionais que são contratados para atuar nos hospitais. São atores comprometidos com a missão do projeto que é aliviar a tensão presente nestes momentos de dor e enfermidade, levar alegria para crianças, pais e até profissionais da saúde. Muitas vezes quem está precisando deste alívio é também o médico e os enfermeiros”, conta Emília.

Para lidar com toda a delicadeza que o momento exige, é preciso dedicação, preparo e características que são levadas em conta na hora de selecionar o elenco de palhaços. “Não basta ser ator, tem que ser palhaço e ter sensibilidade para entender a dinâmica de um hospital, do paciente. Nem sempre o que eles precisam é do melhor show, da melhor performance. É a sensibilidade que vai definir o que vai acontecer em cada leito, em cada contato. Você pode pensar na melhor piada, na melhor atuação e aquela criança te pedir apenas para soltar bolhas de sabão, se é isso que ela está precisando, é isso que será feito”, pontua Emília.

Gerson Bernardes, coordenador do projeto e também o palhaço Dr. Lambreta Mó, completa que por vezes acontece até o “não” da criança para a visita dos doutores-palhaços. “Ela tem esse direito de escolha. Tem muitas coisas acontecendo em um hospital, é importante perceber quando vem um ‘não’ de uma criança, que nem sempre é verbalizado. Digo que somos a única coisa que a criança pode escolher naquele momento e isso também pode fazer bem para ela, ela saber que pode ‘mandar’ naquele palhaço”, diz.

A essência de ser criança

O poder do sorriso que brota do improviso e das palhaçadas dos médicos do Plantão é imensurável. “Os enfermeiros relatam que o período de internação até diminui por conta disso, sabemos que o estado geral do paciente contribui para a recuperação. Os médicos palhaços levam esse respiro para os hospitais, uma outra forma de enxergar tudo o que está acontecendo lá e isso traz alívio para as crianças internadas. Nós contribuímos para resgatar o lado saudável da criança, quando ela sorri e entra neste universo, ela volta a sua essência, volta a ser criança e esquece que está em um hospital”, descreve Emília. O mundo das crianças é das brincadeiras, e é isso que o Plantão proporciona.

O projeto dá outro significado para a arte. “É preciso despir-se da vaidade de ator para usar a arte como um veículo para a criança. O grande desafio, mais uma vez, é a sensibilidade”, diz Gerson.

Sobre o fato de escolher palhaços e não outros personagens para o cargo de médico, Gerson descreve: “A conexão do palhaço com a criança é imediata, o jogo funciona. O palhaço tem uma lógica mais similar à lógica da criança e ele subverte a lógica do hospital. Palhaço pode fazer tudo ao contrário, trabalhamos as doenças dentro deste imaginário”. O mundo do palhaço é realmente único, nele o erro é motivo de graça, a humanidade se enxerga, pois ali a perfeição simplesmente não existe.

De graça em graça, os doutores-palhaços vão “curando” seus pacientes das doenças inventadas por eles e ai de quem falar que não são médicos! “Somos médicos e afirmamos isso até o fim!”, brinca Gerson. O jaleco branco, aliás, é peça obrigatória da vestimenta deles, junto com o nariz vermelho, símbolos do profissional da saúde e do palhaço, um casamento bem-sucedido.

Para se manter e com qualidade, o Plantão Sorriso conta com verbas públicas e ajuda de empresas privadas e pessoas físicas. “A questão administrativa é um desafio. O Plantão Sorriso é bem definido do ponto de vista administrativo, ele tem perenidade e constância nos atendimentos. Tem uma parte voluntária, mas tem também o trabalho profissional porque temos esse objetivo de ser contínuo, regular, com horários definidos e agendados para entrar nos hospitais”, enumera Emília. A prestação de contas é feita anualmente.

O projeto recebe recursos da Lei Rouanet e também das empresas Unimed, Teixeira Marques, Agrohara, Triunfo Econorte e Veltec. Quem quiser pode colaborar por meio de financiamento coletivo, a Vakinha (www.vakinha.com.br/vaquinha/quero-plantao-no-meu-sorriso), com doações a partir de R$ 20.

Já são mais de duas décadas de um trabalho memorável e que continuará por muito tempo. “Dependemos de recursos, mas o Plantão Sorriso não vai acabar. Pretendemos colocar projetos novos na rua, tem muita coisa pra acontecer e precisamos da comunidade para ter essa frequência nos atendimentos e qualidade artística”, frisa Emília.

Atualmente o Plantão Sorriso faz visitas rotineiras em sete hospitais: Hospital Infantil Sagrada Família, Hospital do Câncer, Hospital da Zona Norte, Hospital da Zona Sul, Hospital Universitário, Hospital Evangélico e Cristo Rei (este último em Ibiporã). Em cada um destes lugares, planta sorrisos e colhe saúde.


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