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Um gole de inovação, outro de sucesso

Fonte: Marco Feltrin – Revista Mercado em Foco/ACIL

Se a pandemia pegou todo mundo de surpresa, foi preciso pensar diferente para fugir dela e voltar a crescer. Um setor em especial deu mostras de como isso é possível: o das cervejas artesanais. Pode até parecer uma tarefa fácil, se pensar que estamos falando da tal “paixão nacional” e das estatísticas que apontaram consumo de 13,3 bilhões de litros de cerveja no ano passado, o maior volume desde 2014, ano de Copa do Mundo no país. Números que parecem um contrassenso, já que os bares ficaram um bom tempo sem poder sequer abrir as portas, e as festas, nas mais diversas formas, estavam proibidas. 

E o segredo estava justamente aí. Se no bar não pode, na balada muito menos, o jeito foi beber em casa. A Brasser Cervejaria, que viu a venda de barris despencar a quase zero no início da pandemia, enxergou nos growlers pet a chance de chegar a um novo público, que agora passa no supermercado e leva chopp artesanal para casa em garrafas plásticas de um litro e meio, dos mais variados tipos.  

“Essa ideia foi nossa salvação. Não estávamos preparados, mas investimos em máquinas de envase, rotuladoras e hoje a venda é muito grande”, afirma o empresário Alcides da Silva, que há cinco anos fundou a Brasser com equipamentos de uma fábrica desativada em Manaus. A retomada nas vendas forçou a necessidade de aumentar a equipe de vendedores, que já atuam em sete estados brasileiros, do Rio Grande do Sul até Mato Grosso, com entrada prevista para Goiás e Bahia, além de um Centro de Distribuição a ser montado em São Paulo, somado ao já existente em Curitiba.  

Marcus Vinícius Przysieny, sócio da Brasser, afirma que a empresa já sente os efeitos do avanço da vacinação, com retomada na venda de barris a partir de julho, o crescimento dos growlers pet e a entrada no mercado de energéticos. Para afastar de vez a crise, a empresa ainda celebra a parceria com microcervejarias que usam a estrutura da fábrica, localizada no início da estrada do Bratislava, para produzir seus rótulos. “Fazemos o volume em grande escala que eles não conseguem fabricar. Temos laboratórios e toda uma estrutura que torna muito mais rentável produzir com a gente do que investir em equipamentos e funcionários, tendo a garantia de um produto de qualidade”. 

Conectando cervejeiros 

A pandemia também deu um tombo em Diogo Hissamoto, que há oito anos atuava como distribuidor de cerveja artesanal para todo o Paraná. Com os principais clientes de portas fechadas, ele decidiu apostar em uma rede social para conectar a cadeia produtiva e os amantes da cultura cervejeira de ponta a ponta.  

Foi aí que surgiu a Nostra Cerva, uma plataforma que funciona como marketplace até mesmo para as produções caseiras em pequena escala. “Você coloca seu lote à disposição, e pela geolocalização, consigo ver onde tem cervejeiro com interesse próximo de mim, comprar aquele lote e ter acesso a outros fabricantes locais”, explica Diogo. “Lançamos em dezembro com a ideia de atuar em Londrina e região, mas ficou muito maior do que a gente imaginava.” 

A experiência criada com produtores locais faz Hissamoto enxergar um cenário de amadurecimento do mercado cervejeiro londrinense. “Você já consegue encontrar cervejas premiadas entre as melhores do Brasil. No meu modelo de negócio anterior, eu era referência porque trazia cervejas fabricadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Não trabalhava com locais porque não tinha muitas, nem tão boas. Hoje já não é um diferencial trazer de fora, porque você encontra muito melhores aqui em Londrina”. 

Santo de casa 

A von Borstel foi a primeira londrinense a lançar cerveja em garrafa e conquistar reconhecimento apostando em um ingrediente que tem tudo a ver com a história da cidade. A Kaffe Bier, cerveja com infusão de café, foi medalha de ouro na South Beer Cup, a “Libertadores” das cervejas sul-americanas e medalha de prata no Brussels Beer Chalenge, concurso internacional considerado um dos mais relevantes do segmento, disputado na Bélgica.  

A ideia da cervejaria surgiu em 2014, quando Fernando von Borstel provou as artesanais pela primeira vez na Oktoberfest de Blumenau, a convite do pai. Durante a graduação de Gastronomia, chegou a vez de retribuir, e ele levou o pai para um curso de férias de produção de cerveja de apenas dois dias, o suficiente para despertar de vez o interesse na família.  

O encantamento foi imediato, e em uma garagem subterrânea saíram os primeiros litros, destinados a consumo próprio e presente para amigos. Até que, em uma noite de degustação, o grau alcoólico falou mais alto e embalou a coragem em comercializar cerveja artesanal, começando pela Little London, uma Pale Ale, a primeira receita da panela testada por pai e filho. 

Em 2017, foi a vez de investir em um gastrobar, conceito de pratos combinados com diversos tipos de cerveja que inclui um projeto de degustação harmonizada todas as quintas-feiras.  

A vanguarda da von Borstel também passou por um projeto aprovado em parceria com o grupo Cervejarias Pé Vermelho, que resultou em uma lei liberando a produção de cerveja em regiões centrais da cidade.  

“Antes disso, só podia se instalar em zonas industrias. Com a lei, ficam liberados em qualquer região os brewpubs, bares ou restaurantes com produção própria de até 20 mil litros por mês. Mas veio a pandemia, que segurou muito o interesse em investimento. Com esse cenário se aproximando do fim, a tendência do mercado é crescer, porque existe uma demanda por experiências diferentes, e não só beber por beber. Londrina tem um espaço enorme que ainda não foi explorado”, projeta Fernando. 

História 

Se servir de inspiração, Londrina produz cerveja desde 1952, quando em meio ao auge da cultura cafeeira chegou à cidade a Maltaria e Cervejaria Londrina, na zona leste. A fábrica chegou a empregar 500 pessoas, foi vendida na década seguinte para Skol e teve a produção encerrada em 1993, mas a influência na região foi tão grande que o bairro à sua volta, oficialmente denominado Aeroporto, é popularmente conhecido como Cervejaria. 

Um brinde ao futuro 

Na opinião do beer sommelier Alinor Querubim Rodrigues, o momento é de expansão total do setor na cidade, fenômeno que já vinha acontecendo antes da pandemia. Apesar da perspectiva otimista, a tendência é de que em um segundo momento haja uma ‘peneirada’ entre as marcas ofertadas. “Toda vez que surge algo novo, é comum muita gente se aventurar. É natural, todo mundo quer explorar. A cerveja artesanal está indo nesse rumo, e o mercado deve fazer uma seleção natural com as melhores, as que realmente entregam o que prometem, tem um bom preço, porque tem mercado para tudo”. 

Cerveja e cultura 

Amadeu Bressan está há cinco anos no mercado com a cervejaria Amadeus, criada em parceria com o irmão. A empresa teve que dar passos para trás, fazer cortes, diminuir a equipe para dar conta da queda nas vendas provocadas pelo fechamento de bares e festas. Agora, é hora de projetar o futuro e esquecer os estragos da pandemia. “O momento é de renascimento cultural e econômico. As pessoas vão voltar com mais vontade de viver tudo o que perderam nos últimos dois anos. E a cerveja artesanal traz um ganho de sabor, qualidade, não dá ressaca. Não tem mais como voltar atrás, é um mercado ávido por novidades, e as pessoas estão optando por beber menos e melhor”, afirma o proprietário da Amadeus, que fortaleceu ainda mais o laço com a cidade ao apoiar uma série de eventos culturais e lançar rótulos em parceria com o Londrina Esporte Clube. 


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