Fonte: Jornal do Commercio
O encontro dos governantes do Brasil, Rússia, Índia e China na cidade russa de Ecaterimburgo constituiu um passo importante para a consolidação e maior interação do chamado grupo Bric, que se destaca entre os países ditos emergentes, o G-20. Quem criou o acrônimo foi Jim O"Neill, economista-chefe do Banco Goldman Sachs. Ele baseou-se na previsão de que, nos próximos 50 anos, esses quatro países, que compreendem hoje 25% da área habitável, 40% da população e 15% da economia da Terra, viriam a dominar a economia mundial. O economista Kenneth Maxwell, que tem coluna em jornais, se pergunta se essa previsão é realista, pois o grupo Bric responde por apenas 12% do PIB mundial. Ele, porém, não tem muitas dúvidas, pois o grupo detém hoje US$ 2,8 trilhões em reservas cambiais, com a participação chinesa de US$ 1,534 trilhão, inferior somente à dos Estados Unidos. As reservas brasileiras chegam a US$ 205 bilhões.
O grupo Bric vem criticando o papel do dólar estadunidense como moeda internacional de reserva, embora tenha tido cuidado, naquele encontro, para não dizer nada que pudesse criar uma crise do dólar. Mas tem a capacidade de causá-la. Na apreciação de Maxwell, o poder de fogo do grupo é, por enquanto, mais retórico que real. A economia do Brasil, por exemplo, embora sendo a 10ª maior do mundo, chega apenas à metade das dimensões da francesa. Mesmo assim, ele afirma que a conferência de cúpula da Rússia e a próxima do Bric, que será em 2010 no Brasil, não devem ser desconsideradas. O grupo busca obter influência maior nos negócios internacionais e tem dado importantes passos para atingir esse objetivo.
Desde junho de 2007, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinha pedindo a realização do encontro que acaba de se concretizar. Seu pensamento, como declarou antes de embarcar para a Rússia, é fazer com que os quatro países que formam o Bric comecem a trabalhar juntos “para mudar os agrupamentos políticos e comerciais do mundo”. De 2007 para cá, em que pese a crise global, as coisas têm melhorado para o nosso País. A própria notícia de declínio de 0,8% do PIB no primeiro trimestre foi, em termos mundiais, uma boa notícia, pois a queda foi muito mais suave que o esperado. Isso permitiu ao Banco Central reduzir a taxa de juros Selic para 9,25%, um recorde de baixa diante da filosofia monetarista do BC. E o Brasil agora, em vez de devedor, é credor do FMI, tendo emprestado ao fundo US$ 10 bilhões destinados a crédito aos países menos desenvolvidos.
Embora evitando excesso de pressão sobre o dólar, o grupo Bric cobrou a constituição de um sistema global de moedas mais estável e discutiu a adoção de moedas locais nas transações comerciais, sem avançar muito. Desde a cúpula do G-20 em Londres, em abril passado, o Brasil e a China já consideram o modelo adotado entre o nosso País e a Argentina de transações externas realizadas em real e peso. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, informou que a experiência sul-americana foi discutida em Ecaterimburgo. Para o presidente russo Dmitri Medvedev, “nenhum sistema monetário pode ser bem-sucedido se nós temos instrumentos financeiros definidos em apenas uma moeda”.
O comunicado final da cúpula também pede um papel maior para os componentes do Bric nas instituições financeiras internacionais, para que uma arquitetura econômico-financeira reformada possa se basear em “uma tomada de decisões democrática e transparente nas organizações financeiras internacionais”. À margem da cúpula, Lula manteve contato com o colega russo Medvedev, a quem se queixou de que o comércio entre seus dois países ainda está muito aquém do potencial, referindo-se especificamente a obstáculos do governo russo à importação de carne brasileira. A Rússia mostrou-se interessada em fornecer ao nosso País equipamentos para a construção de usinas nucleares. Sabe-se que a França, o Japão e a Coreia do Sul produzem tecnologia mais limpa. Concluindo nossas observações, saudemos o fim da submissão brasileira aos interesses dos países mais ricos.
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