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Um projeto para o Brasil

Fonte: PortoGente – Santos

 

Um recente estudo preparado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Projetos e pela consultoria Ernst & Young mostra um cenário para 2030 que merece ser analisado pelos técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) no sentido de se procurar soluções que possam revertê-lo enquanto é tempo. Não é que o cenário seja o pior dos mundos, mas é que mostra um desequilíbrio que pode se tornar desfavorável para a economia brasileira.

 

Segundo as projeções daquele estudo, as exportações de produtos manufaturados deverão crescer apenas 2,7% ao ano, em ritmo abaixo do aumento das importações mundiais (5,6%), o que significa que o Brasil, a médio e longo prazo, pode se tornar basicamente fornecedor de insumos, como no século XIX. De pronto, o que isso mostra é que haveria uma crescente deterioração do saldo comercial, com o País sendo obrigado a importar muito mais do que exportaria. Obviamente, esse cenário não seria confortável para as nossas contas.

 

O estudo prevê ainda que, em 2030, as importações mundiais dos produtos manufaturados chegariam a US$ 19,6 trilhões, mas a participação do Brasil seria de US$ 182,6 bilhões, o que representaria apenas 0,9% do total. Hoje, a nossa participação é de 1,1% e os analistas vivem a considerar essa uma fatia ínfima, levando em conta o tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Quer dizer, em vez de crescer, como sempre almejamos, haveria ainda um decréscimo.

 

Segundo os especialistas, esse não seria o fim do mundo para a indústria brasileira porque haveria um crescimento na demanda doméstica até 2030, em razão da entrada no mercado de consumo de grandes parcelas da população hoje ainda marginalizadas. É o que ocorre agora, depois que a retração econômica mundial obrigou a indústria brasileira a procurar com mais afinco o mercado interno.

 

Mas também não há nenhuma garantia de que esse mercado possa ser abastecido apenas pela indústria nacional ou pelas demais indústrias aqui instaladas. Nada impedirá que fabricantes estrangeiros, mesmo com os custos da importação, não se sintam atraídos por um mercado tão gigantesco.

 

O que importa saber aqui é quais são as razões para a crescente falta de competitividade do produto nacional no mercado externo. Segundo o estudo, essa falta de competitividade se dá pela conjugação de pelo menos quatro fatores: 1) custo crescente da energia elétrica; 2) gargalos na infraestrutura portuária e rodoferroviária; 3) um sistema tributário escorchante que encarece sobremaneira o preço final dos produtos; e 4) investimentos insuficientes em pesquisa e desenvolvimento.

 

Todos esses fatores pressionam para cima o preço final do produto e não se pode apontar qual o mais nefasto deles, mas não há como deixar de reconhecer que a infraestrutura logística não vem acompanhando o ritmo do crescimento do comércio exterior, a ponto de, às vezes, gastar-se mais com frete rodoviário em território nacional do que no frete marítimo para se enviar um contêiner para o Oriente.

 

Portanto, está na hora de o governo federal atacar aqueles quatro fatores que impedem o produto nacional de se tornar atraente ao comprador estrangeiro, o que significa criar um projeto para o Brasil. Sem equacioná-los, o País corre o risco de ver suas exportações ganharem cada vez mais um perfil de produtos básicos. É, aliás, o que está ocorrendo, já que cresce cada vez mais em nossa corrente de comércio a participação da China, país que essencialmente só está interessado em comprar insumos.

 

Em resumo: esse projeto global deve atacar as causas do alto custo portuário e aeroportuário, do longo período para a liberação de cargas, do pagamento de numerosas taxas que oneram o exportador, das péssimas condições das rodovias e da saturação dos portos e aeroportos. E investir mais em projetos criativos, como o drawback verde-amarelo e o drawback paulista (ainda em estudo), para avançar na desburocratização aduaneira, com a simplificação dos procedimentos de desembaraço e a desvinculação da inspeção física da documental, reduzindo assim os custos de armazenagem. Sem contar uma solução mais rápida para a reutilização pelo exportador dos créditos tributários acumulados.

 

Não se pode esquecer também de estimular a universidade pública e privada para que, em conjunto com a indústria, invista mais em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, pois hoje o Brasil aplica apenas 1% do seu PIB nessa área, o que se reflete no baixo progresso tecnológico de nossa indústria manufatureira. Enfim, sem um projeto global, não haverá como reverter essa tendência de transformar o Brasil em grande fornecedor de matérias-primas.


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