Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Ranulfo Pedreiro
Abrir a torneira é um gesto tão cotidiano que mal percebemos seus benefícios. Sequer lembramos que a água ao alcance das mãos, mais do que conforto, é sinônimo de saúde e desenvolvimento. E, neste ponto, Londrina tem o que comemorar. Está entre as 20 melhores cidades grandes do Brasil em saneamento básico. Os números enchem a vista e favorecem setores como turismo, imobiliário, saúde, educação, economia, meio ambiente e espaço urbano.
No mais recente Ranking do Saneamento das 100 Maiores Cidades do Brasil, Londrina aparece em 13º lugar. Produzido com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento do Ministério das Cidades, o ranking é elaborado pelo Instituto Trata Brasil (www.tratabrasil.org.br) em parceria com a GO Associados (goassociados.com.br), tendo 2016 como ano base. Na listagem, Londrina está atrás de Cascavel e Maringá, mas à frente de Curitiba, Campinas, Ribeirão Preto, São Paulo, Sorocaba e Goiânia, entre outras.
Comparado com o levantamento de 2017, cujo ano base foi 2015, Londrina caiu 4 posições. Ainda assim mantém-se em destaque. Uma busca mais detalhada mostra que a cidade, com 553.393 habitantes, possui 99,99% de atendimento total de água. O mesmo número aparece como indicador de atendimento urbano de esgoto, segundo o ranking do Trata Brasil. Ou seja, o saneamento básico acompanhou o crescimento.
Os dados ganham importância quando comparados com índices nacionais. São mais de 35 milhões de brasileiros sem acesso a água tratada, conforme o Trata Brasil. Apenas 51,92% dos brasileiros têm acesso à coleta, totalizando 100 milhões de pessoas sem tratamento de esgoto.
Mesmo nas 100 maiores cidades do país, 3,5 milhões de pessoas despejam seu esgoto fora das redes coletoras. Apenas 44,92% dos esgotos brasileiros são tratados. Das 100 maiores cidades, apenas 10 têm tratamento de esgoto superior a 80% – e Londrina outra vez aparece bem na foto.
Equilibrar saneamento básico e crescimento foi – e ainda é – um desafio. Para se ter uma ideia, apenas as casas dos diretores da Companhia de Terras Norte do Paraná eram abastecidas pelas minas do córrego Água Fresca, na altura da Rua Alagoas, nos primórdios da cidade, em 1933. É o que conta o engenheiro Luiz Alberto Niero em A História do Saneamento Básico de Londrina, livro lançado postumamente pela Sanepar em 2009 – o autor faleceu em 2007.
Com reservatórios espalhados pela cidade – o mais emblemático é a caixa d’água da Av. Higienópolis, inaugurada no início dos anos 60 -, Londrina encontrou o manancial mais perene no Ribeirão Cafezal, a partir de 1957. “Mesmo assim, o abastecimento era deficiente, pois a malha urbana se expandia aceleradamente”, ressalta Niero.
A solução Tibagi
Com a necessidade de encontrar novos mananciais, o prefeito Dalton Paranaguá, em 1971, encomendou um estudo para ampliação do sistema produtor de água. Os resultados apontaram o Rio Tibagi como a melhor alternativa para Londrina, Ibiporã, Jataizinho, Bela Vista do Paraíso, Cambé, Rolândia e Arapongas.
Em 1973, a prefeitura fechou um contrato de concessão com a Sanepar para exploração de serviços públicos de abastecimento de água e coleta de esgoto. No ano seguinte, em 1974, Sérgio Bahls entrava para companhia. Atualmente, é o gerente geral do Nordeste do Paraná. “A Sanepar tem um planejamento estratégico e esse planejamento é importante. Nós sempre trabalhamos com uma visão de pelo menos 30 anos de planejamento futuro”, ressalta.
“O Dr. Dalton era um médico muito ligado à saúde e ao saneamento. Para ele, o Tibagi era o manancial para dar segurança ao abastecimento. Ele pensou nisso porque nós estamos em cima de um espigão. Não há uma grande quantidade de mananciais disponível ao longo daqui até Maringá. Tanto que Maringá passou por crise hídrica. Jandaia do Sul tem problema sério de manancial”, explica Bahls.
Programada para entrar em operação em 1986, a captação de água do Tibagi provocou polêmica. “Gerou uma discussão política muito grande na época, o pessoal não queria água do Tibagi. Nós inauguramos o Tibagi em 1991, com cinco anos de atraso”, relembra Sérgio Bahls.
Hoje a Sanepar capta água do Aquífero Guarani, além do Ribeirão Cafezal (responsável por 35% do abastecimento de Londrina e Cambé) e do Tibagi (mais de 60%). O fornecimento de água tratada é de 100%, inclusive nos distritos. Já a coleta de esgoto fica, segundo a Sanepar, em 93,5%.
As áreas não atendidas pela coleta se localizam em alguns condomínios horizontais e, principalmente, em ocupações irregulares. “O grande problema nosso de saneamento de esgoto está em 65 áreas irregulares, com ocupação de área de proteção permanente, em fundo de vale. Nessas áreas não é permitido fazer o saneamento”, acrescenta.
Para acompanhar o desenvolvimento da cidade, a Sanepar prevê o aumento da captação. “Logo, daqui a 20 anos, nós vamos precisar de outro ponto de captação do Tibagi. Já está sendo feito um estudo para dar essa segurança. Sempre foi assim, prevendo o crescimento e prevendo soluções”, assegura Sérgio Bahls.
A segurança é reforçada por um laboratório que faz análises constantes da água captada. “Só para pegar a água bruta, in natura, nós temos em torno de 74 parâmetros que são analisados. Se houver algum risco para a saúde pública, a gente faz a correção em tempo adequado”, comenta.
Para o pesquisador Pedro Scazufca, as vantagens do saneamento básico são múltiplas: “Londrina está no grupo das 20 melhores cidades do Brasil. Quando a gente compara com as 20 piores, você vê que o gasto com saúde por habitante é cerca de 3 vezes maior do que nas cidades com bons indicadores”.
Sócio-executivo da empresa GO Associados, que presta assessoria para o Instituto Trata Brasil, Pedro Scazufca participou pelo quinto ano seguido da elaboração do Ranking do Saneamento. E vem acompanhando o bom desempenho de Londrina. “Vários estudos mostram que, quando você tem crianças expostas a doenças de veiculação hídrica (provocadas por falta de saneamento), elas faltam mais à escola e têm um desempenho pior. O trabalhador falta mais ao trabalho”, revela.
Vetor de desenvolvimento
Não é só. Os imóveis em locais com bom saneamento teriam uma valorização de 20%. “O saneamento básico é um estímulo ao desenvolvimento econômico. As empresas procuram lugares com água e esgoto. Para o turismo, é melhor. Há uma série de vantagens que estão associadas ao saneamento: saúde, educação, espaço urbano, economia e meio ambiente”, destaca o pesquisador. “Em Londrina, os indicadores são muito bons. Mas vão ter de acompanhar o crescimento vegetativo da cidade. É o primeiro desafio. Para quem já está com o sistema universalizado, é muito mais fácil.”
Mas há o que melhorar. Um problema a ser enfrentado é o índice de perdas de água tratada. “Londrina tem um indicador da ordem de 35% de perda. É próximo da média nacional, mas é elevado. Você tem municípios com indicadores abaixo de 20%. Santos tem 17%. É um desafio que envolve revisar a rede de abastecimento e reduzir as perdas de água”, alerta.
As questões enfrentadas por Londrina, com apenas 83 anos, são velhas companheiras da humanidade. Povos ancestrais já lidavam com elas. Egípcios, gregos, sumérios, romanos, hindus e chineses desenvolveram diferentes tecnologias. Algumas se perderam, outras evoluíram. Foram muitos canais, diques, poços, aquedutos e canos até que a água limpa caísse diariamente em nossa pia como uma conquista da civilização. Mas convém fechar a torneira. Não queremos que todo esse trabalho vá para o ralo.
NÚMEROS
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13º – Londrina está em 13º lugar no Ranking do Saneamento das 100 maiores cidades do país pelo Trata Brasil.
100% – Londrina tem 100% de atendimento total de água tratada, inclusive nos distritos.
35 milhões de brasileiros não têm água tratada.
100 milhões de brasileiros não têm acesso a coleta de esgoto.
44,92% dos esgotos brasileiros são tratados.
10 cidades entre as 100 maiores do Brasil têm tratamento de esgoto superior a 80%. Londrina está entre elas.
35% da água produzida em Londrina sofrem perdas, segundo levantamento do Trata Brasil. Este é um dos desafios do saneamento básico da cidade.