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‘A Reforma da Previdência é o primeiro grande passo’

Por Susan Naime – Revista Mercado em Foco – ACIL

 

Mercado em Foco – Você é enfático ao afirmar que o Estado precisa se organizar para não quebrar a si e a nós também. Qual a melhor saída?

Richard Back – 2019 é o ano para começar a organizar isso. A reforma da Previdência é o primeiro grande passo. Cortar Ministério, viagem de avião de carreira, isso tudo é bobagem no ponto de vista do orçamento federal. Claro que são atos simbólicos, mas não são gastos que, se controlados, resolveriam o problema do Brasil, que é muito mais grave. A parte de organização é muito importante, controlar gastos é fundamental. E tem que haver privatização, um programa de diminuição do estado ou de pelo menos do quanto o Estado atrapalha o empresário brasileiro. Tem que deixar as pessoas livres para empreender, abrir negócios novos, ganhar dinheiro, quebrar, cuidar das próprias vidas. Tudo faz parte da vida econômica que o estado brasileiro hoje trava.

MF – Quais os impactos positivos a reforma da Previdência provocará no Brasil?

RB – O Estado brasileiro, primeiro, vai ter uma perspectiva sobre a sua dívida, ou seja, muda a qualidade da dívida. Ainda terá déficit por algum tempo, talvez, mais um ou dois anos, mas pelo menos haverá um ponto de parada desse déficit. Desta forma, é possível dar o preço dessa dívida, e se o Brasil disser ‘isso eu pago’, os bancos continuam recebendo e sabem que não vão quebrar porque não haverá calote do governo. Com o investidor internacional, por sua vez, atento a isso, reduz também um problema de mudança muito forte no câmbio. Então, você regula na prática os termos macroeconômicos, afasta riscos e traz previsão para três classes de ativos: juros, câmbio e bolsa, que precificam o investimento e o tamanho das empresas. Fazendo isso a economia real consegue receber investimento.

MF – Essa é uma discussão antiga, desde o governo de Dilma Rousseff. Quais as principais barreiras que impedem a votação da reforma da Previdência?

RB – Eu acredito que a primeira barreira da Previdência é o governo. A oposição mesmo não tem criado nada, a oposição não tem tamanho na sociedade, não tem tamanho no Congresso, não tem autoridade, hoje, para barrar o governo. Quem tem criado as dificuldades para o governo é o próprio governo, que precisa parar de brigar internamente. Tem que haver uma relação mais amigável com o
Congresso e, claro, entender o tempo da política, que é um tempo muito diferente da economia real, que também é um tempo muito diferente do mercado. Muito rápido em Brasília é 60 dias, enquanto muito rápido em uma empresa é duas horas.

MF – Além da reforma da previdência, existem outros temas para se considerar ainda esse ano, projetando um aquecimento da economia?

RB – Esse ano o governo está priorizando cortar tudo que é tipo de gasto. A gente tem visto como medida de estímulo para a economia, que começou a ser discutida recentemente, liberar alguma coisa do PIS/PASEP, por exemplo, que seriam R$ 20 bilhões para tentar aquecer um pouco a economia. Mas o Paulo Guedes, antes de mais nada, é um fiscalista, então ele vai focar muito na redução de gastos em 2019 e tratar de dar as condições para o próprio mercado (seja ele da economia real ou financeiro) buscar seu desenvolvimento, com o governo ajudando pontualmente aqui ou acolá, mas sem a indução que a gente viu no passado.

MF – Qual sua visão para o segmento do varejo?

RB – O varejo precisa ter estômago porque será um ano complicado. Nesse setor ainda temos o problema do endividamento das pessoas que é real e o problema de emprego. São duas coisas que não se resolvem rápido. Enquanto o cara não tem emprego, ele não paga as dívidas, e essa é uma situação onde você tem uma massa de gente. Não são apenas os 13 milhões de desempregados, são também os 4,5 milhões que deixaram de procurar emprego, é um monte de gente que está na economia informal porque não tem outra coisa pra fazer, é a criminalidade que aumenta – e tudo isso é custo para o empresário. Não há perspectiva de curto prazo, nem solução mágica. Você tem que fazer o Estado brasileiro não quebrar para não quebrar os empresários e, depois, que esse estado não atrapalhe para que possa existir uma perspectiva de recuperação das empresas por elas mesmas. Não é rápido, mas também não é muito alongado esse prazo. Se o governo fizer a lição de casa esse ano, para 2020 a perspectiva dos economistas do mercado financeiro é que você comece a ter resultado. Resultados ainda não estruturais, mas resultados que comecem a animar as perspectivas da economia. Com isso, as pessoas se autorizam a gastar um pouco mais, pagam uma dívida para fazer outra nova, traz gente que está desempregada para o mercado novamente. Agora, se o governo atrapalhar não tem empresário que resolva.

MF – Além do quadro de empregos, quais outros itens nos ajudam a avaliar a melhora (ou não) da economia?

RB – Acho que os juros do Banco Central. Se o Banco Central tiver que cortar juros é sinal de que o PIB está em queda e que estão tentando arrumar um estímulo. Esse é um sinal que seria, em tese, bom, mas é um sinal trocado. Sobre a inflação nós não temos muitas notícias negativas e mesmo que suba um pouco o patamar, ainda é muito baixo, até porque se você não tem crescimento econômico, também não terá inflação. Já essas informações do mercado que temos sobre bolsa e câmbio são muito relativas porque envolvem outras reações, ou seja, não é uma reação só da economia real, mas também do momento político.

MF – Qual o impacto da queda de popularidade do presidente Bolsonaro?

RB – É ruim porque traz uma desarrumação para a política, uma frustração de quem votou nele acreditando numa resolução mais rápida para o Brasil avançar. O empresário se decepciona, a dona de casa decide gastar menos, então se cria um ambiente mais pessimista no geral. E esse ambiente é o governo que cria quando o presidente comete erros políticos, quando parece que ele está um pouco mais comprometido com uma agenda ideológica do que econômica, que é o clima que estamos vivendo. Claro que os dados econômicos reforçam isso – a indústria caindo, o PIB sendo revisado pra baixo, mas tudo tem um pouco a ver com a queda da popularidade do presidente porque os dados são ligados. O presidente não está em uma ilha. Se ele não puxar o país pra cima, o país puxa ele pra baixo.


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