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Acessibilidade e oportunidades na era digital

Fonte: Susan Naime/Revista Mercado em Foco-ACIL 

O impacto do novo coronavírus evidenciou a internet como uma grande aliada, seja para quem está trabalhando de forma remota, para as empresas que aproveitaram o universo online para reinventar seus negócios, na hora de obter informações ou até mesmo para os momentos de lazer. Mas será que o mundo online está mesmo preparado para todos? Um estudo realizado pelo Movimento Web Para Todos, em parceria com a BigData Corp, revelou que dos 14 milhões de sites ativos no Brasil, 99% não estão acessíveis para pessoas com deficiência. São mais de 45 milhões de pessoas sem acesso a diversos tipos de conteúdo e informação. Olhando por outro lado, são milhões de pessoas que poderiam se informar, estudar e até mesmo consumir a partir da internet, se a realidade deste mercado fosse outra. Para Ronaldo Tenório, cofundador e diretor executivo da Hand Talk, startup que proporciona soluções de acessibilidade para deficientes auditivos, deixar de contemplar a acessibilidade não é só uma falha humana, mas uma falha comercial. Confira a seguir a entrevista que fizemos com o empreendedor.

Mercado em Foco: O que a acessibilidade digital tem a ver com a pandemia da Covid-19 e por que é importante levantar esta discussão, especialmente agora?

Ronaldo Tenório: Mais do que nunca, a comunicação e a informação estão convergindo para os meios digitais. E são justamente nesses meios digitais onde ainda se enfrenta muitas barreiras de comunicação, de acesso à informação, de navegação. A maioria dos sites está totalmente inacessível para pessoas deficientes. Então as organizações e as pessoas deveriam se conscientizar de que o ambiente digital não está inclusivo. Nesse momento, onde estamos todos buscando informações através dos canais digitais, é super importante fazer essa reflexão, justamente porque acredito que hoje em dia as pessoas estão resgatando alguns de seus valores sobre viver em comunidade. Se a gente vive em comunidade, devemos estar acessível para todo mundo, afinal, um quarto da população brasileira tem algum tipo de deficiência.

MF: Um estudo feito pelo Movimento Web para Todos mostrou que dos 14 milhões de sites ativos no Brasil, 99% não estão acessíveis para pessoas com deficiência. Se por um lado o levantamento mostra uma realidade onde o mundo online não está preparado para todos, na outra ponta, as empresas deveriam enxergar esses indicadores como uma oportunidade comercial?

RT: Esse é um estudo que refletiu o tanto de oportunidades que as organizações têm para disponibilizarem os seus canais a mais pessoas. Ao mesmo tempo em que é uma obrigação social e jurídica, uma vez que existe uma lei para ter acessibilidade nos sites, também é uma obrigação de valores, e até mesmo de oportunidades. Quando as organizações passam a se comunicar através de uma ferramenta acessível, é possível atingir diversos tipos de públicos, e não mais apenas um grupo específico de pessoas. Então as marcas estão começando a perceber que existe uma grande oportunidade ao se comunicar de maneira acessível, e quem está sendo pioneiro nesta estratégia, consegue sair na frente e aproveitar esse diferencial.

MF: Sendo assim, podemos dizer que quando a empresa não contempla a acessibilidade, além de ser uma falha humana, é também uma falha comercial?

RT: A conclusão é essa mesma! Além de ser uma falha pessoal, corporativa, social, é um desperdício de oportunidades comerciais, porque as pessoas com deficiências também consomem, também compram, também querem obter informação, e a gente está muitas vezes fechando os olhos como sociedade para se comunicar com todo esse público que é tão carente de informação, de acesso, e que tem isso por direito. Temos a obrigação moral de abrir nossos canais para mais pessoas com deficiências.

MF: É preciso ser um especialista no assunto para colocar a acessibilidade digital em prática? Por onde começar? Quais são as ferramentas, os recursos?

RT: Não é necessário ser um especialista, basta ter força de vontade e iniciativa. Já existem muitos recursos interessantes por aí, então é só dar o primeiro passo. Acho que é muito difícil ter um canal 100% acessível, mas se você der o primeiro passo, já estará fazendo a diferença na vida de algumas pessoas, além de criar um canal de relacionamento com esse público. Existem inúmeras ferramentas, como a própria Hand Talk, que é um plugin de acessibilidade, tornando o site acessível em libras. Existe também ferramenta de legendagem no próprio YouTube. Ao subir um vídeo nesta plataforma digital, você pode fazer sua própria legenda para as pessoas com deficiência auditiva conseguirem ler e obter as informações. Também é possível colocar hashtag para deficientes visuais terem acesso às publicações nas redes sociais, sem custo algum. É possível ainda fazer testes de contraste, do tamanho da fonte e das cores, devido às pessoas com daltonismo e baixa visão, e teste de todo o seu conteúdo. Soluções não faltam. Existem muitos caminhos para seguir, muitas ferramentas e recursos para começar. Basta ter empatia e perceber que um ambiente acessível conquista oportunidades, e não somente com as pessoas que têm algum tipo de deficiência, mas com todos os tipos de públicos.

MF: Qual é o principal caminho para minimizar a falta de acessibilidade digital? Como resolver esse desafio?

RT: Eu diria que existem muitos caminhos, mas acho que o mais simples é tentar entrar em contato com esse público, ouvir a opinião dele, quais as dificuldades está sentindo ao acessar o seu conteúdo. E não é difícil achar pessoas com deficiência. É como falei, uma a cada quatro pessoas no Brasil tem algum tipo de deficiência, ou seja, são 45 milhões de pessoas, de acordo com o censo do IBGE. Portanto, pergunte, entre em contato, veja quais são suas dificuldades, seus desafios e barreiras, e aí você já consegue dar um passo de cada vez. O passo mais difícil é o primeiro. Depois fica muito mais fácil você criar novas iniciativas.

MF: Você poderia citar algumas ações que a Hand Talk tem promovido para tornar conteúdos digitais mais acessíveis às pessoas com deficiência?

RT: Nós estamos promovendo algumas iniciativas, e uma delas é oferecer o plugin para qualquer portal de notícia que esteja cobrindo a pandemia. Acreditamos em nossa missão social de levar a informação para os surdos. Notamos nesse público em especial uma grande barreira para entender tudo isso que está acontecendo, na velocidade em que está acontecendo. Para complementar essa ação, nós fizemos também um vídeo que está disponível no canal do Youtube da Hand Talk [youtube.com/handtalktv], onde o Hugo [o intérprete 3D do aplicativo Hand Talk] dá dicas para a comunidade surda sobre os cuidados na pandemia, por exemplo, como higienizar as mãos e se precaver. Imagine se a gente não tivesse hoje a tecnologia para poder disseminar toda essa informação, como seria o acesso às informações e conteúdos para as pessoas com deficiência? Então a gente se encontra nessa grande missão que é contribuir para a disseminação da informação acessível para pessoas com deficiências, mais especificamente para a comunidade surda.

Serviço: As informações sobre o plugin da Hand Talk estão disponíveis no site http://www.handtalk.me/.


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