Fonte: Susan Naime – Revista Mercado em Foco
Uma
sala cheia de mentes brilhantes nem sempre é o suficiente para o
sucesso de uma empresa. Talvez transpor esses elementos do papel (ou
da mente) para a realidade seja uma das atividades mais desafiadoras
de uma companhia, independentemente de seu porte e segmento. Em
tempos de crise, os problemas tornam-se ainda mais evidentes e o
resultado é assustador. Segundo pesquisa realizada pelo IBGE, de
cada 100 empresas abertas no Brasil, 48 (quase a metade!) encerram as
suas atividades em três anos. Para entender as dificuldades de se
colocar um planejamento estratégico em prática, a revista Mercado
em Foco
entrevistou o consultor organizacional
e Coach especializado em estratégia e Liderança, Fabiano Zanzin.
Ele é fundador e master
coach
da Concept Consultoria – Educação Empresarial. Aproveite as dicas
e boa leitura!
Mercado
em Foco: As empresas sabem qual é o momento de acender a luz de
alerta para algum problema ou dificuldade?
Fabiano
Zanzin: Nem todas as
organizações têm a maturidade de enxergar por si só que precisam
de ajuda. Existem as organizações que só procuram ajuda quando a
situação está insustentável e existem as empresas que seguem ao
pé da letra a máxima de que é em tempo de paz que se prepara para
a guerra. O momento de buscar ajuda é aquele em que o empresário
identifica que os seus desafios e projetos são muito maiores que a
sua própria capacidade de execução. Vivemos um momento no País
que retrata muito bem essa realidade. Empresas que se planejaram há
dois ou três anos hoje sofrem um impacto muito menor. Aquelas que
não se prepararam, não buscaram ajuda ou não se qualificaram
passam por dificuldades – algumas nem vão sobreviver.
Mercado
em Foco: Quando os conflitos são bem-vindos dentro da empresa?
Fabiano
Zanzin: Nós chamamos os
conflitos de caos. E é por meio do caos que se constrói a
maturidade. Os conflitos são os primeiros sintomas de que algo não
está legal e é ali que as pessoas tomam a decisão de buscar ajuda.
Portanto, passam a ser um divisor de águas. O ideal é que não se
precise chegar nesse nível.
Mercado
em Foco: Após entender que existe um problema, qual seria o próximo
passo?
Fabiano
Zanzin: O primeiro passo
é o reconhecimento de que é necessária essa ajuda. É um momento
para identificar realmente qual é o foco, o objetivo, o que incomoda
para só depois estabelecer um objetivo, onde se quer chegar e,
principalmente, desenvolver a responsabilidade de cada parte no
processo. As empresas precisam descobrir o caminho da eficiência que
necessitam.
Mercado
em Foco: Existe uma má compreensão do significado pleno da palavra
“executar”?
Fabiano
Zanzin: Sim. As pessoas
confundem execução com planejamento. As empresas dedicam muito
tempo e dinheiro em montar planejamentos estratégicos. O objetivo de
um planejamento é garantir que uma empresa erre menos. Agora, o
grande desafio não é montar um bom planejamento e, sim, executá-lo.
Por isso vemos empresas que possuem planejamentos maravilhosos e
elaborados, mas não conseguem executá-los, tirá-los do papel.
Mercado
em Foco: E por que é tão difícil executar o planejamento
estratégico?
Fabiano Zanzin: Porque
envolve pessoas. E tudo que envolve pessoas muitas vezes envolve
mudança de comportamento. Todas as organizações, quando
estabelecem uma meta, estão estabelecendo algo novo para ela. Só
que as pessoas têm dificuldade de trabalhar com o novo porque
normalmente atuam com o viés do paradigma daquilo que elas sempre
fizeram na vida.
Mercado
em Foco: Já caiu por terra o conceito de que um chefe deve ficar
aguardando que seus subordinados lhe tragam os resultados?
Fabiano
Zanzin: Esse paradigma
do gestor, líder ou chefe que está à frente da equipe mostrando o
caminho e dizendo o que deve ser feito é um modelo falido. Nada é
mais eficiente do que uma equipe engajada. E o engajamento você só
consegue quando a equipe passa a fazer parte da estratégia de
execução.
Mercado
em Foco: As pessoas até gostam de dar uma infinidade de ideias e
sugestões como soluções de um problema, mas por que acaba sendo
tão difícil torná-las reais?
Fabiano
Zanzin: Às vezes a
organização não tem a cultura do trabalho em conjunto ou do
objetivo comum. As organizações estão acostumadas a trabalhar de
uma maneira onde cada líder de uma área estabelece a sua meta com a
sua equipe. Os departamentos precisam trabalhar em harmonia, como um
time em direção a um objetivo comum, e não como departamentos
autônomos e distintos. Dentro de uma empresa, cada setor é uma
engrenagem que faz parte de um todo.
Mercado
em Foco: Quando um dos grandes problemas é a instabilidade
financeira, como melhorar o clima interno?
Fabiano Zanzin: A
saúde financeira da empresa é vital para o ambiente saudável. A
partir do momento que se detecta a instabilidade financeira, a
primeira coisa que deve ocorrer é uma reestruturação. Também será
preciso aprender a conviver com o novo quadro. É muito importante
que esse ponto não seja atingido porque quando isso ocorre as
pessoas começam a trabalhar sem direcionamento, e isso é perigoso.
Mercado
em Foco: Existe uma periodicidade para a empresa fazer a
autoavaliação de seu planejamento estratégico?
Fabiano Zanzin:
A avaliação deve ser
constante. É como um treinamento de um time. Não é por que você
ganhou um campeonato um ano que você não irá treinar no próximo.
Mercado
em Foco: Se você pudesse resumir, existe um principal fator que faça
com que a execução de um planejamento dê certo?
Fabiano Zanzin:
Existe a receita do
sucesso que são as 4
Leis da Execução.
Primeiro se deve estabelecer a meta que é crucialmente importante,
ou seja, aquilo que é fundamental para a organização. Definida
essa meta, cada departamento assume a sua meta que, juntas, irão
contribuir para a meta principal. O estágio número dois é definir
quais serão as ações que cada departamento irá executar para
levar a sua equipe em direção à meta. Muitas empresas erram aqui:
definem a meta e se esquecem das ações. O terceiro princípio é
estabelecer indicadores de desempenho, ou seja, as equipes devem
observar em que estágio caminham para atingir a sua meta. Isso
também faz com que a equipe não perca o ritmo. E o quarto princípio
é a cadência de responsabilidade através de um fórum semanal para
discutir as metas. É importante dizer que não existe metodologia
perfeita. Tudo passa pela mudança de comportamento.