Todas as previsões econômicas para 2015 apontam um cenário não muito animador. Empresários e economistas demonstram pessimismo em relação à economia brasileira. Pelas previsões de todos os consultados pelo JL, os ajustes que o governo brasileiro terá que fazer – com aumento de impostos e redução nos gastos – deverá trazer um período de inflação alta, desemprego e, se o dólar subir mais, um grande endividamento por parte de quem investiu em modernização de produção.
Se 2014 servir de parâmetro, o novo ano não vai ter boas surpresas, pelos menos nos quatro primeiros meses, que é o “prazo” para que o mercado se acomode. “Depois desse período é que os empresários começam a ter um vislumbre melhor do que vai acontecer e relaxam um pouco. Até lá, no entanto, o quadro será preocupante”, diz a economista e professora da Unifil, Maria Eduvirges Marandola.
Segundo a economista, o cenário é de expectativa negativa para todos os segmentos da economia. “O governo vai ter que fazer a elevação de alguns impostos e até a criação de alguns, como a volta do Cide – a contribuição sobre os preços dos combustíveis -, que está sendo cogitada. Seria o ‘ajuste da casa’ que a União não fez nos últimos anos.” De acordo com Maria Eduvirges, isso gera custos para a população, já que a conta recai sobre ela. “Isso significa arrocho na economia, já que as pessoas vão ter que passar a rever e reduzir seu consumo.”
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Londrina (Sindimetal) e da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Valter Orsi, o “pé no freio” já começou a ser sentido. “O Brasil vem, nos últimos anos, acumulando uma desindustrialização, perdendo competitividade por falta de infraestrutura e alta carga tributária. Em 2015 teremos mais agravantes, com o retorno da inflação e o dólar em alta. Se nos últimos anos o crescimento brasileiro se alimentou de juros subsidiados pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], esse ano isso será engessado.”
Orsi prevê um ano negativo para a indústria porque os empresários terão que buscar mais eficiência e competitividade a todo custo. “Será obrigatório produzir mais com menos. E isso sempre significa corte de pessoal.” De acordo com ele, o empresário terá que dispensar empregados, mantendo um quadro de pessoal enxuto. “E o pior é que a tendência é que a situação vá se agravar. Não há perspectivas de reverter esse quadro logo.”
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Londrina (Sincoval), Roberto Martins, também não está otimista. “Todos nós sabemos que 2015 será um ano difícil. O governo não fez o que devia em quatro anos e agora terá que fazê-lo de uma vez. Vai ter que apertar o cinto e isso traz consequências.” Para ele, o varejo não deve sofrer tanto porque o País é grande e o consumo interno deve segurar os índices de vendas. “Mas sabemos que, se houver crescimento, será muito pequeno e, principalmente, entre os itens de maior necessidade.”
Para Fiep, ano é ‘preocupante’
O coordenador regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) em Londrina, Ary Sudan, diz que vê 2015 como “preocupante”. “Temos conversado com o empresariado e todos preveem um ano muito difícil. De baixo crescimento, muito ajuste fiscal, que vai prejudicar o crédito, e controles de compras do governo federal, que vai influir negativamente porque a União é uma grande consumidora.” Segundo ele, tudo isso deve resultar em desemprego e inflação alta, além de endividamento do empresário, que investiu na modernização da fábrica e comprou equipamento em dólar, se ele continuar subindo. “Todo mundo sai prejudicado com a alta do dólar porque todos os produtos têm um índice de internacionalização em seus preços.”
Porém, segundo Sudan, há um lado positivo: já que está todo mundo esperando um ano ruim, todo mundo se prepara melhor para enfrentá-lo. “Todo ano que a gente entra com expectativa negativa acaba sendo melhor do que esperava. Isso porque o empresário busca alternativas para enfrentar as adversidades. E é bem melhor estar preparado que ser pego de surpresa.”