As chuvas voltaram a provocar problemas graves em municípios do Centro-Sul do país em janeiro, mas para o desenvolvimento das lavouras de grãos o comportamento climático continuou favorável no mês, com reflexos bastante positivos sobre a produtividade de culturas como soja, milho e algodão – e, com isso, sobre a produção total estimada para a safra 2009/10, que está sendo colhida.
Novo levantamento da Conab, realizado entre os dias 18 e 22 do mês passado e divulgado ontem, aponta para uma colheita de 143,095 milhões de toneladas de grãos nesta temporada, 1,2% a mais que o volume projetado a partir da pesquisa anterior e 5,9% acima do total do ciclo 2008/09 (135,135 milhões), que foi prejudicado por uma prolongada e severa estiagem nos Estados do Sul e em áreas de Mato Grosso do Sul.
Como a área plantada manteve-se praticamente estável em relação à safra passada e à previsão anterior para a temporada atual, em 47,652 milhões de hectares, o ganho projetado decorre de elevações de produtividade. No caso dos principais grãos, é até covardia comparar os novos cálculos aos de 2008/09, por causa da seca. Mas em relação às estimativas iniciais para 2009/10 também há incrementos.
Há, entretanto, alguns riscos pela frente. Nas últimas semanas, algumas colheitas sofreram atrasos por causa das chuvas e as perdas de produção dos casos de arroz e feijão são flagrantes. Em São Paulo, por exemplo, produtores de municípios como Avaré e Itapeva acusam quebras entre 30% e 50% em suas produções de feijão, conforme informou a Secretaria da Agricultura dos Estado. No Rio Grande do Sul, arrozeiros preveem a perda de 1 milhão de toneladas.
Para a soja, carro-chefe do agronegócio e das exportações brasileiras do setor, as águas estão tranquilas. Tanto que a Conab, que calcula uma expansão da área plantada de 6,7% no ciclo – o único avanço entre as principais culturas pesquisadas -, sinaliza uma colheita, recorde, de 66,733 milhões, 16,7% superior ao volume de 2008/09. Em média, a produtividade das lavouras espalhadas pelo país deverá mais do que se recuperar e aumentar 9,4%, para 2.875 quilos por hectare. Em Mato Grosso, principal Estado produtor de soja, a Conab ainda estima leve queda de 0,1% na produtividade – no relatório anterior, a previsão era de baixa de 1,4% -, mas agricultores do Estado acreditam em incremento, como informou ontem o Valor.
"Nossa grande preocupação é com os preços. A dos produtores também, porque à medida que a safra apresenta números tão bons, os preços tendem a cair, e preços muito baixos podem complicar", comentou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, segundo relato da Agência Brasil. Se o aumento projetado se confirmar, a produtividade da soja baterá um novo recorde no país em 2009/10.
Em Mato Grosso, a produção do grão deverá crescer 5,6%, para 18,962 milhões de toneladas; no Paraná, segundo maior celeiro de soja do Brasil, a produtividade deverá subir 28,8% e a produção, 42,1%, para 13,517 milhões. Os preços de fato já estão mais baixos. O início da colheita em Mato Grosso, que já cobriu 17,4% da área plantada, aponta cotações até 34% menores do que em fevereiro de 2009, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Na bolsa de Chicago, a curva também é descendente.
No caso do milho, o novo levantamento da Conab, o quarto referente ao ciclo 2009/10, é o primeiro a sinalizar aumento da produção na comparação com 2008/09. O órgão vinculado ao Ministério da Agricultura passou a trabalhar com colheita total de 51,363 milhões de toneladas, 875 mil acima que o estimado no terceiro levantamento e 0,7% mais que na temporada anterior. A produção de verão deve mesmo cair (3,8%) em razão da redução da área plantada, que migrou para a soja, mas a projeção para a safrinha de inverno é de incremento de 9,5%.
O grande ponto negativo entre as projeções do governo é o arroz, sobretudo em terras gaúchas. "Se recuperaram os mananciais que fornecem água para irrigação" na região Sul, analisa o relatório da Conab, "as grandes precipitações prejudicaram as lavouras" com alagamentos e áreas mais baixas próximas às margens dos rios. Com isso, a produção nacional deverá atingir 11,508 milhões de toneladas, 8,7% menos que em 2008/09.
A partir de considerações em geral bastante semelhantes às da Conab, o IBGE divulgou que a colheita brasileira de grãos, leguminosas e oleaginosas deverá alcançar 143,4 milhões de toneladas, 7,2% mais que no ano passado. O IBGE calcula uma área plantada total maior que a estimada pela Conab. O IBGE projeta 48,1 milhões de hectares, 2,1% superior a do ciclo anterior e um novo recorde. O instituto destacou que o fenômeno climático El Niño, responsável pelas chuvas no Centro-Sul do país, está enfraquecendo, o que pode ajudar um pouco o arroz.
Fonte: Valor Econômico
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