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Compartilhamento, um conceito a caminho da massificação

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Celso Felizardo

A economia compartilhada, apesar de ainda estar em fase de consolidação, parece ter chegado para ficar. Se antes o conceito que carrega valores como a troca de experiências, otimização de recursos e sustentabilidade parecia abstrato à maioria da população, com exceção aos mais antenados, hoje já se mostra mais palpável. Isso foi possível graças ao Uber. O serviço de carona compartilhada por aplicativo de celular chegou ao Brasil há quase três anos e, desde agosto do ano passado, opera em Londrina.

A lista de iniciativas baseadas na ideia de compartilhamento, no entanto, é muito mais ampla. Você já pensou em morar em um condomínio onde, por meio de um aplicativo no celular, moradores podem compartilhar ferramentas, bicicletas de uso coletivo, organizar caronas, utilizar equipamentos esportivos, além de outros serviços, como reservar espaços da área de lazer do edifício, churrasqueiras e salão de festas? Isso já é possível. Em dezembro do ano passado, a Yticon inaugurou na zona norte o Norte Park, primeiro empreendimento do Minha Casa Minha Vida do país com conceito de economia compartilhada.

A auxiliar de enfermagem Amanda Bacelar Xavier Pacheco mudou há poucos dias para o apartamento no Norte Park.  Ela baixou o aplicativo e pretende fazer uso frequente dos recursos. "Foi uma coisa que chamou muito a atenção. É uma ideia muito boa, pois não precisamos comprar uma ferramenta cara, por exemplo, para usá-la uma vez na vida", comenta. "Poder compartilhar bicicletas e combinar caronas também é muito útil, pois melhora o trânsito na cidade e os moradores interagem mais", acrescenta.

“O aplicativo funciona como um eficiente canal de comunicação entre os moradores, possibilitando ativar uma nova rede de relacionamento, e mais do que isso: é uma plataforma inovadora que nasce do conceito de economia compartilhada, com foco na preocupação com o meio ambiente, economia e em menos consumismo”, explica Leonardo Yoshii, presidente da Yticon.

Yoshii ressalta que uma das premissas da economia compartilhada é buscar soluções criativas e econômicas. “Moramos em comunidade, mas muitas vezes não conhecemos todos os vizinhos. Acredito que alguns possam trabalhar na mesma região e poderiam, perfeitamente, compartilhar caronas. Uma alternativa que gera economia, menos poluição, além de conectar as pessoas”, comenta. Leonardo Schibelsky, gerente da Yticon, ressalta que o compartilhamento é algo que tem uma identificação muito grande com um público mais jovem, cada vez mais preocupado com a sustentabilidade. Apesar de recente, o aplicativo já deu resultado e deve ser adotado nos futuros empreendimentos da empresa.

Flávio Tavares, diretor de marketing e vendas da GolSat, empresa pioneira do ramo de rastreamento de veículos, também aposta no compartilhamento para soluções internas e, em uma escala mais ampla, para toda a cidade. Na empresa, os funcionários têm à disposição uma estação com cerca de dez bicicletas elétricas para percorrer o trajeto de casa para o trabalho. “Além de ser sustentável, a bicicleta faz bem para a saúde e ajuda a desafogar o trânsito”, comenta Willian Kashiwaki, que todos os dias percorre 7 quilômetros no trajeto de ida e volta entre a casa e o escritório, na Gleba Palhano.

Tavares reúne interessados da iniciativa privada para desenvolver um projeto de mobilidade urbana em Londrina. “Em horários de pico, nossas avenidas param. É preciso buscar soluções. Compartilhar carros, criar uma rede de bicicletas de uso coletivo. Hoje o sonho dos jovens não é mais ter um carro. Isso mostra que a economia compartilhada é muito mais que uma moda passageira. É um processo irreversível”, analisa. Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL), a taxa de ocupação veicular na cidade é de 1,47 pessoas por veículo, uma das mais baixas do país.

Para o entusiasta da economia compartilhada, também chamada de colaborativa, Londrina precisa de mais pessoas pensando o assunto. “A cidade precisa de agentes multiplicadores do pensar compartilhado. Para a nova geração, isso é algo natural, mas pra quem vem de uma era anterior, que são aqueles que, hoje, estão à frente da maioria das empresas, esse processo não é tão natural. A chave é não precisar esperar que os filhos dessas pessoas assumam o negócio para torná-lo sustentável, moderno”, expõe.
 

Consumo colaborativo

O consultor do Senai, André Turetta, explica que a economia compartilhada pode ser aplicada em diversos segmentos, mas o público-alvo precisa estar aculturado neste movimento. “Quando se fala em compartilhar, alguns torcem o nariz. No entanto, a crise, que tem exigido fazer mais com menos, tem despertado por necessidade a conscientização em muitas pessoas de que compartilhar pode ser um bom negócio”.

Turetta explica que da economia colaborativa derivam três vertentes principais: o mercado da redistribuição, em que enquadram exemplos como o Uber e o AirBnB (aplicativo de estadia compartilhada); o sistema produto-serviço, onde a indústria passa agregar serviços aos seus produtos, focando na experiência do usuário e na entrega dos resultados e não mais apenas na venda simples do bem; e, por fim, o estilo de vida colaborativo, onde se enquadram os conceitos como o coworking (espaços colaborativos onde diferentes profissionais compartilham a estrutura do escritório para reduzir os custos fixos como recepcionista, telefone, internet, água, energia elétrica).

Ligada nas novas tendências, há quatro anos a advogada londrinense Alexandra de Paula Yusiasu Santos criou o espaço colaborativo Juntus, no centro da cidade. Em julho do ano passado, ela inaugurou o segundo espaço, na zona sul de Londrina. “Apesar de fantástica, a tecnologia tem feito as pessoas se isolarem cada vez mais. Em um coworking, profissionais de diversas áreas têm o contato olho no olho e trocam experiências, compartilham também o conhecimento”, destaca.

Alexandra lembra que a economia compartilhada vem mudando a relação das pessoas com as coisas. “Estamos descobrindo que não precisamos ser dono de tudo. Um exemplo clássico é o da furadeira, ferramenta que usamos menos de 18 minutos por ano. Se o que queremos, realmente, é o furo na parede, por que não compartilhamos?”, sugere. Segundo ela, as pessoas que trocaram o escritório convencional pelo espaço colaborativo não se arrependem. “São profissionais atentos às novidades, que compreenderam esse novo movimento e incorporaram valores como a capacidade de dividir. Estão abertos à interação”, frisa.

Como as principais vantagens da economia colaborativa, Turetta cita a redução de custo fixo, rateio de investimento inicial em ativos tecnológicos, otimização do uso dos bens que ficam parcialmente ociosos, angariação de fundos para financiar e viabilizar projetos. “Uma fábrica que depende de maquinário pesado ou de alta tecnologia, pode comprar e utilizar o ativo em parceria com outras empresas. Além de ratear o custo do investimento de acordo com o nível de utilização, as empresas poderão renovar seus ativos com mais rapidez”, exemplifica.

A economia compartilhada também tem ajudado empreendedores e inovadores que nem sempre contam com capital inicial para colocar sua ideia em prática. Por meio de permuta (de recursos ou de talentos) o empreendedor pode estabelecer parcerias e alavancar seu negócio. “Não há dúvidas que a internet e as diversas plataformas de interação online facilitam estas conexões. Exemplo disso tem sido os Laboratórios Abertos que o Sistema Indústria (SESI/SENAI/IEL) criou em âmbito nacional. Os empreendedores podem utilizar estes espaços para desenvolver seus protótipos de forma mais barata e testar suas tecnologias junto à indústria tradicional.”

Sobre as características necessárias ao novo empreendedor da era do compartilhamento, Turetta diz que é preciso gostar de interagir e não ter medo de compartilhar ideias e recursos. “As conexões hoje, para se estabelecerem e se manterem, dependem de meios fáceis, ágeis e seguros. Mas as pessoas precisam mais do que nunca desenvolver a empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro para ouvir com humildade e se expressar com assertividade. Economia colaborativa depende de gerar valor para todas as partes interessadas.”


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