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Conciliação entre as rotinas profissional e pessoal: uma busca necessária

Por Marco Feltrin – Revista Mercado em Foco – ACIL

 

Metas, prazos, cobranças, resultados. Em meio à rotina de trabalho cada vez mais acelerada, a sensação é de que o tempo está passando rápido demais. Quem nunca sentiu o desejo de que o dia tivesse 30 horas para poder dar conta de tudo que aparece pela frente?

No meio da correria, até mesmo sem perceber, estamos o tempo todo conectados, acumulando atividades, pensando em um milhão de coisas e, ainda assim, com a sensação de que estamos deixando algo para trás. E o pior é que estamos mesmo!

É a vida, passando enquanto nos perdemos na difícil tarefa de equilibrar vida pessoal e profissional. “Estamos no piloto automático e não conseguimos perceber cada instante da vida. Quanto menos percebemos, menos nosso cérebro registra o que acontece. Daí vem a sensação de que o tempo passou e não conseguimos fazer nada. É a teoria das necessidades humanas: se você não consegue atender as necessidades de duas ou três áreas por dia, não consegue se sentir completo. A vida não é só trabalho”, explica a psicóloga comportamental e palestrante Maria Cristina Orcelli.

A partir disso, a mudança começa em observar detalhes mínimos da rotina, valorizando o que ocorre no presente. “O primeiro passo é se perceber. Tudo bem ter a rotina do trabalho, os compromissos e afazeres. Mas tem que ter a percepção do que está sentindo. Vai almoçar? Senta, dedica um tempo ao seu alimento, perceba o que está comendo. Não almoçar olhando em dois, três celulares. Por isso também estão aumentando os casos de insônia. A pessoa deita na cama e não consegue relaxar. Pensa no que tinha que ser feito, no que vai fazer e não desliga”, completa Maria Cristina.

Para a psicóloga, não adianta colocar a culpa na tecnologia. Somos nós que não sabemos administrar o tempo e manter o foco. Você já deve ter passado por isso: pegou o celular para fazer algo, entrou na rede social, e depois de um tempo não fez o que queria mas gastou a atenção em um monte de informações que não te acrescentaram nada. “Você enche a sua cabeça com muito lixo mental. O acúmulo faz com que você perca o foco. Aí chega à noite você está mentalmente esgotado e não fez nem metade das coisas que queria fazer”.

Fazer o que gosta

Outro desafio do aumento da percepção e do autoconhecimento está em descobrir algo que gosta para tirar um tempo exclusivo para você. “Para cada um é uma coisa. Pode ser um chopp com amigos, uma atividade física ou até se fechar em um canto e ler um livro. O importante é se conhecer bem, saber o que gosta e o que dá prazer. É preciso buscar também o equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Falta um pouco de espiritualidade na vida das pessoas. Cada um tem sua religião, mas é importante definir qual é a sua missão, o que você está fazendo neste mundo. Se não você passa a vida inteira brigando por coisas que você não trouxe e não vai levar”, orienta a psicóloga.

Até pouco tempo atrás, a vida da gerente administrativa Mierilice Osanai era focada excessivamente no trabalho. Atendendo empresas na área de telecomunicações há dez anos, ela tinha horário para chegar, mas nunca para sair. Não foram poucas as vezes em que ela deixou a sede da empresa por volta das 23 horas e ainda levou serviço para casa. Não escapavam os fins de semana e nem mesmo as férias, que tirava obrigada por estarem vencendo.

Como estava solteira, encarava a rotina puxada com naturalidade. Casada há quase um ano, Merilice conseguiu equilibrar melhor o tempo sem deixar de lado os compromissos profissionais. “A gente passa a ter mais responsabilidades em casa, tenta chegar mais cedo, estar mais presente. Mulher é mais detalhista, rigorosa. Tem que fazer tudo com excelência, e estou conseguindo equilibrar bem a minha rotina. Não é fácil quando as pessoas estão acostumadas que você está 100% disponível. Por isso para mim ficou mais fácil depois que eu casei. Elas entenderam a mudança.”.

Apesar dos avanços, ela admite que ainda não consegue desligar totalmente do trabalho. “O momento que passamos é complicado. É tudo para ontem. As pessoas não sabem mais esperar, querem que você responda tudo na hora. Se não se policiar, você acaba trabalhando o tempo todo. Ninguém entende o que é um horário de almoço, que você está indo para casa. Antes no almoço eu sempre acabava resolvendo algum assunto. Hoje não. Se vejo que não é uma emergência, espero para responder. Isso fez bem demais pra minha saúde”, completa.

Válvula de escape

E por falar em saúde, outra mudança foi determinante para a rotina mais leve de Meirilice: a atividade física, tempo em que a dedicação é exclusiva para ela. “É minha válvula de escape. Pelo menos três vezes na semana, um tempo 100% pra mim. No começo até treinava dando umas olhadas no celular, hoje não mais. Tenho disciplina para saber que aquele é meu momento, da minha saúde. Porque sem saúde a gente não faz mais nada. Por isso o foco e a disciplina são fundamentais”.

Quando questionadas sobre a dificuldade em equilibrar vida pessoal e profissional, muitas pessoas preferem apontar o dedo para o lado corporativo: carga de pressão excessiva por resultados em uma ponta e pouco apoio e compreensão na outra.

Para a consultora organizacional Vilma Munhê, a história não é bem assim. Se os valores pessoais e da empresa não batem, o problema pode estar em você. “Se seu ritmo de trabalho é perfeccionista e a empresa quer resultados rápidos, há um sofrimento. Começa a congestionar a mente. Aí acaba levando pra casa não o trabalho físico em si, mas o sentimento ligado à vida profissional. Está muito mais dentro da cabeça do que nos fatos em si. Se eu tenho um ritmo diferente da empresa, como posso alinhar minha expectativa com a dela? Se for da cultura dela e ela enxergar isso como normal, ela não vai fazer nada a não ser contratar pessoas que tenham perfil adequado para esse ritmo”.

De acordo com uma pesquisa do departamento de psicologia da Universidade de Harvard, as pessoas passam 47% do tempo distraídas, sem foco em absolutamente nada. Para Vilma Munhê, trata-se de um traço da natureza humana que precisa ser melhorado. “Você não está presente. E é no momento presente que as coisas acontecem. Quando você está no passado, a tendência é estar reclamando, culpando os outros ou se culpando. Quando olha para o futuro, coloca medo. E se der errado? Não vai ficar bom, não vai dar tempo. É preciso ser mais assertivo. Comece a trabalhar o desperdício de tempo e energia. Crie novos hábitos, competências no cérebro para viver o presente. Está no trânsito? Observe os carros, os detalhes. Foque no presente”, orienta.

Se o autoconhecimento é parte fundamental para o sucesso no equilíbrio entre vida pessoal e profissional, é preciso uma reflexão constante para identificar quando a balança está pendendo demais para um lado ou para o outro. “Pare e comece a perguntar: o que é responsabilidade minha? O que é da empresa, do líder? O que é possível flexibilizar? Se é meu, vou buscar práticas para estar mais alinhado, fazer coisas que eu gosto. Quando a gente diz que não consegue, é porque no fundo não é uma prioridade. Você fala que o que mais quer é um tempo livre, mas vai para casa ficar preso em um modelo mental permanente de cobranças e pressões. Quem está te escravizando? A empresa ou você mesmo?”, questiona.

O segredo é a produtividade

Com essa parte estando bem resolvida, o próximo passo é otimizar a produtividade para garantir mais tempo livre em tarefas mais prazerosas. “Se eu estou focada no resultado, não preciso ficar 24 horas dentro de um escritório. Posso ter uma estrutura flexível e você me entrega os resultados no prazo que for definido. Mas isso só acontece quando o dever de casa está sendo feito por parte das lideranças, com a pessoa certa no lugar certo, desenvolvendo suas habilidades, buscando trabalhar naquilo que ela tem aptidão e identificada com os valores da empresa, para ter energia e equilíbrio no desenvolvimento de suas funções”, finaliza Munhê.


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