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Conjuntura do mercado de capitais estimula comportamento ‘agressivo’

Fonte: Francismar Lemes – Revista Mercado em Foco/ACIL 

O mundo que conhecíamos desapareceu com as certezas políticas e econômicas. Juros negativos no Japão e Europa beiram o surrealismo. Um movimento coordenado globalmente, que derruba títulos dos governos da Alemanha e da França e outros investimentos tradicionais em países como o Brasil. A tempestade perfeita em que, para proteger o dinheiro, o investidor corre mais risco no mercado financeiro.

Alta volatilidade é sinal também de oportunidades. O fenômeno pode ser assustador, como uma cumulonimbus, as nuvens mais perigosas da Terra. Contudo, quem conhece o clima do mercado pode entender que é hora de pegar a prancha e surfar.

“Desde que o investidor saiba surfar a onda. Para isso, é preciso ter com você alguém que entenda os humores do mercado”, afirma o empresário Henrique Loureiro Gritzback, 41 anos, que investe para pessoas físicas e jurídicas.

Olhe para um campo de futebol e, no gramado, está um time com uma escalação de 11 goleiros. Não é difícil imaginar que essa equipe não tomará gol, mas também não aumentará o placar.

Essa alusão futebolística serve para limarmos a figura do perfil conservador radical dos investidores brasileiros, na avaliação do assessor de investimentos Felipe Bernardes, sócio fundador da SVN, credenciada da XP Investimentos. A SVN é a maior investidora do Paraná e administra R$ 2,1 bilhões.

Para Bernardes, os investidores brasileiros são moderados. Não se importam em correr um pouco de risco, mas querem dormir tranquilos.

São esses moderados que estão migrando dos investimentos em bancos e outros mais tradicionais, buscando a assessoria de corretoras.

Trinta por cento dos investimentos do mundo estão em aplicações de juros negativos. No Brasil, a tendência é de que até o fim de 2019 os juros irão para 5%.

Bernardes estica a linha do tempo sobre esses índices e diz que nas décadas de 1980 e 1990, em cinco anos, o investidor dobrava o seu poder de compra, o que hoje pode demorar entre 35 e 36 anos.

“Se a referência está no menor patamar da história, os títulos mais seguros vão render cada vez menos. O brasileiro que quiser ganhar um pouco mais de dinheiro terá que correr mais risco”, afirma Bernardes.

Mais retorno somente com mais risco

O melhor termômetro para medir a capacidade de risco do investidor moderado é uma noite tranquila de sono.

O assessor de investimentos diz que informações suficientes e o tamanho da carteira que estará em risco são fatores que ajudam bastante nisso.

“Os investidores agressivos entendem muito sobre investimentos e, por isso, podem correr risco. Esse investidor não vai precisar do dinheiro agora. O investimento agressivo precisa de um tempo de maturação. Enquanto em renda fixa, eu estou emprestando o meu dinheiro, em aplicação mais agressiva estou investindo. O meu capital só vai dar certo se, no que eu investi, der certo”, orienta Bernardes.

Há 10 anos, Henrique Gritzback investe recursos próprios e também posiciona ativos da empresa.

“Na pessoa física sou mais agressivo porque o capital é meu. O prejuízo é meu. Enquanto, na pessoa jurídica não entro em nenhum investimento arrojado porque tenho sócios. Na pessoa física o prazo é maior, não precisa liquidez grande e posso esperar dois anos. Na empresa, isso não é possível porque é preciso ter capital de giro”, avalia Gritzback.

Os cortes na Selic estão diminuindo o apetite dos investidores na poupança, CDB, LCI, LCA, preferindo os títulos de créditos privados, como os da Rede D’Or, o maior grupo de hospitais do Brasil com crescimento vertiginoso.

Compreender o mercado é um requisito que vem antes mesmo de buscar um especialista que ajude a surfar a onda.

“Os investidores estão indo também para fundos multimercados. Para investir na bolsa tem que começar de leve. Primeiro é preciso acreditar no mercado e aplicar um dinheiro que não vai usar a curto prazo. Porém, se me perguntar qual a melhor aplicação para os três ou quatro próximos anos, eu direi que é a bolsa”, destaca Bernardes.

Sócio da Real Investor, Lucas Moratto afirma que os objetivos do investidor devem anteceder a preocupação com a rentabilidade e aí procurar uma assessoria.

“Nós olhamos para a empresa, o tipo de gestão, o nível de endividamento, cenário, entre outros fatores. Pegamos esse conjunto de dados e confrontamos com o valor de mercado. Se esses números estão se conversando, a gente pode investir”, ressalta.

O Brasil tem um estoque de investimentos de R$ 5,2 trilhões, sendo que em média 9% estão investidos em ações. O auge de 14% foi em 2007. A combinação rentabilidade dos fundos e altas consideráveis das aberturas de capital chamou a atenção de novos investidores naquele ano.

Moratto diz que esses números falam para nós que as pessoas estão cada vez mais investindo em ações, mas que é insignificante se comparados aos dos Estados Unidos em que 50% dos americanos são investidores.

Ainda que esteja tendo um “empurrão” do Congresso Nacional, o Executivo está entregando o que o mercado quer – o que pode dar mais combustível para uma tempestade perfeita pró-investimentos.

Porém, atores políticos mundiais como Donald Trump nos Estados Unidos e sua guerra comercial com a China, além da balbúrdia quase que diária de declarações do governo brasileiro, são ruídos que assustam o mercado.

“O Brasil não vive numa bolha. Se olharmos a rentabilidade que tivemos nos últimos meses é muito parecida com o resto do mundo. O mundo começou a perceber que está desacelerando. Todos os bancos centrais começaram a sinalizar que iam reduzir as taxas de juros. Se acontecer alguma coisa na economia provocada por Trump e China vai nos afetar. Porém, estamos saindo de uma situação ruim, mas temos muito ainda para melhorar. Por outro lado, a liquidez no mundo está alta. No curto prazo isso é positivo para nós. Ficará cada vez mais complexo alocar dinheiro no mundo. Se o Brasil conseguir concretizar as reformas, desindexar a economia até 2026, poderemos ter de novo um grau de investimentos. O que isso quer dizer? Que teremos muito dinheiro entrando no Brasil”, avalia Moratto.

Igual uma aposta no cassino? Não

A filosofia de investimentos do médico Fábio Leite, 39 anos, diz que na vida temos dois riscos: ficar como está ou dar certo.

“Desde sempre tentei correr o número de riscos com a certeza de que pobre eu já era, mas tenho gosto de estar exposto ao risco de melhorar. Todo mundo corre risco de alguma coisa, mas não sabe disso”, afirma.

Investidor pessoa física, Leite sugere que ao investir em empresas é possível pulverizar os riscos e, para isso, recomenda uma carteira de investimentos diversificada.

“Os investimentos que dão muito certo também dão certo muitas vezes e, com isso, a pessoa que investe R$ 1 milhão pode ter R$ 500 milhões. O que atrai no mercado de ações é ser exponencial”, ressalta o médico.

Fábio diz que a pessoa que pretende investir deve perder o medo e parar de achar que investimento em bolsa é uma espécie de aposta num cassino.

“Hoje tem como saber que está fazendo a coisa certa. Porém, o investidor não pode achar que terá um retorno mágico”, conclui Fábio. Otimismo de investidor de sucesso, que reforça as previsões de tempestade perfeita para quem não teme sair na chuva e se molhar ou de pegar onda para surfar no mercado.

 


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