Foi a terceira elevação consecutiva, todas em reuniões após as eleições de outubro. Analistas apontam que o governo busca recuperar a credibilidade da economia, ao priorizar o fortalecimento da poupança pública e derrubar a inflação, que diminui a imprevisibilidade do mercado e hoje ronda os 6,50% do teto da meta estipulado pelo BC.
Conforme o último boletim Focus, do BC, a estimativa média no mercado é de que a alta de preços fique em 6,67% neste ano, já acima da margem de erro da meta. Por isso, não está descartada a possibilidade de novos reajustes da Selic, caso a pressão sobre os preços não diminua.
O chefe do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Renato Pianowski, afirma que o anúncio de hoje está entrelaçado ao aumento na carga tributária anunciada nos últimos dias, por mais que pareça contradizê-lo. “Quando sobem os impostos, jogam fogo na inflação, mas aumentam a taxa de juros para brecar o consumo e manter a inflação comportada.”
Para o professor de economia Pedro Raffy Vartanian, da Universidade Mackenzie, a alta da Selic era necessária, mas a tendência é que a pressão sobre os preços não convirja para o centro da meta tão cedo. O próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, afirma que os 4,5% devem ser atingidos no fim de 2016, em processo de desaceleração que começa neste ano. “O comunicado mostra que o BC está preocupado e que pode ter novos aumentos de juros, mas isso deve estar perto do fim”, diz Vartanian.
Para janeiro e fevereiro, porém, a expectativa é que a alta tributária eleve a inflação a cerca de 1% ao mês. Por outro lado, o professor da Mackenzie lembra que o reflexo acaba por aí e que o preço das commodities tem caído no exterior, o que deve diminuir o custo dos alimentos dentro do País. “No decorrer do ano, o peso do aumento desses impostos não aparece mais e haverá queda no consumo e nos preços.”
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou ontem a decisão de elevar a taxa de juros, porque trará maior dificuldade para a recuperação da economia. A mudança encarece o custo de capital para investimentos e dificulta o acesso ao crédito, tanto para o setor produtivo quanto para o consumidor.
A Força Sindical, também em nota, bateu na tecla de que a alta da Selic vai agravar a situação da indústria, que tem demitido bom número de funcionários desde o ano passado. Ainda, considera que o governo promove uma política conservadora, que privilegia especuladores em detrimento dos anseios dos trabalhadores e do setor produtivo. A entidade também convocou os trabalhadores para um protesto nas ruas, no próximo dia 28.
Pianowski considera que o Produto Interno Bruto (PIB) fique negativo ou no máximo a 0,40% neste ano. Ele concorda que a alta de juros freia os investimentos e diz que o governo precisa fazer a parte dele, de cortar gastos. “É preciso lembrar que, quando baixam os juros, demora uns três meses para o resultado aparecer, mas, quando sobem, é imediato”, diz, sobre o efeito da alta da Selic.