Custo do trabalho na indústria aumenta 11,6% em quatro anos

Peso dos salários cresce acima da produtividade após início da crise e federação do setor pede reformas para País voltar a ser competitivo

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Fonte: Folha de Londrina


O Custo Unitário do Trabalho (CUT) na indústria da transformação brasileira ficou 11,6% mais caro no País entre 2010 e 2014, segundo estudo divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Os números contrastam com o recuo de 1,4% entre os anos pré-crise, de 2004 a 2007, e a conclusão na entidade é que o encarecimento tornou o setor menos competitivo na comparação com outros países. 

Para chegar ao CUT, foram combinados o custo real da hora trabalhada, que teve alta de 11,9%, e a produtividade do trabalho, que subiu 0,2%. Conforme a Firjan, o cenário reforça a necessidade de se fomentar a produtividade no País, com medidas como a flexibilização da legislação trabalhista, políticas salariais que associem reajustes a aumento de produtividade, redução de encargos sobre o trabalho, investimentos em educação, pesquisa e desenvolvimento, além de maior abertura comercial da economia. Por outro lado, o estudo sofreu críticas por culpar o trabalhador pelo custo, sem considerar aspectos históricos e a falta de investimentos em gestão por parte dos empresários. 

O chefe da Divisão de Estudos Econômicos do Sistema Firjan, Livio Ribeiro, afirma que é necessário fazer um pacote amplo. “O aumento dos gastos em infraestrutura e educação não são reformas, mas tornariam o País mais competitivo”, diz. Ele completa que é preciso condicionar renda e crescimento da indústria. “É importante adotar políticas de reajuste salarial que associem, de forma direta e explícita, os ganhos salariais ao aumento de produtividade, além de promover uma redução consistente dos encargos sobre o trabalho”, escreve, no estudo. 

No levantamento, são citados nove países e o Brasil é o que tem a maior elevação do CUT, seguido por França (5,8%) e Reino Unido (5,2%), ambos com elevado custo da mão de obra e fraco desempenho econômico no período pós-crise, enquanto ficaram com as maiores quedas México (-6,3%), Colômbia (-12,7%) e Portugal (-14,8%). Dos três, os dois países latinos fizeram reformas que incluíram redução de custos de produção e política fiscal mais eficiente, mas o europeu se baseou em forte modificação das leis trabalhistas, com corte de férias, redução de feriados e flexibilização sobre horas extras. 

Ribeiro diz que não se trata de tirar direitos trabalhistas no Brasil, mas considera que é preciso aprovar um marco legal seguro para regulamentar a terceirização, além de eliminar a cobrança de 10% adicionais sobre o Fundo de Garantia para demissões sem justa causa, que vão para o governo. “Seria salutar que as duas curvas (renda e produtividade) andem próximas, com crescimento da produtividade acima, porque isso significa ganho de renda e País mais competitivo.” 

O economista Roberto Zurcher, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), afirma que o problema é que a produtividade no Brasil caiu desde os anos 1980, na comparação com a de outros países. Ele diz que em 1978, o País tinha números semelhantes ao tigres asiáticos e 78% do resultado dos Estados Unidos. “Em 2010, já era 52% em relação aos EUA e 67% dos asiáticos”, conta. 

Zurcher considera que não se trata de falar de salários, mas de falta da evolução da produtividade, o que, para ele, depende mais de investimentos em educação e capacitação. Porém, não descarta uma flexibilização sobre direitos trabalhistas, como a evolução do tamanho das férias de acordo com o tempo que o trabalhador tem no mesmo emprego. “Nossa legislação ficou defasada. Em outros países, contrato por hora é normal e aqui não é aceito.”

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