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Decisões adiadas

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – ​Por Celso Felizardo

Após atravessar a pior crise da sua história, o país começa a viver um período de recuperação econômica. Porém, a luta para a retomada dos patamares anteriores à recessão convive com um ambiente de profunda instabilidade provocado pelas incertezas no cenário político. Os meses que antecedem as eleições presidenciais, tradicionalmente, são marcados pela cautela. Até ter uma definição da política econômica a ser adotada nos próximos anos, muitos empresários congelam investimentos à espera de um ambiente mais sólido.

Para analisar o cenário, tendências e, principalmente, avaliar como deve ser o comportamento das empresas neste período pré-eleitoral, a reportagem da Mercado em Foco conversou com especialistas em economia, mercado e administração de empresas. A principal recomendação é de uma boa dose de prudência. "Este é um momento de cautela para as empresas, em especial no que tange a tomada de crédito e grandes investimentos. Isso porque o cenário que se avizinha carrega uma grande incerteza em termos das políticas a serem adotadas pelo candidato vencedor", avalia o economista Marcos Rambalducci.

Para ele, o debate eleitoral está ainda mais pobre do que o habitual. "Temos candidatos com medo de se posicionar em favor de reformas que são fundamentais para a economia e se indispor com o eleitorado. Essa falta de compromisso com as reformas somado a incertezas no ambiente externo em função do conflito político-comercial entre as duas maiores potências econômicas do planeta, deixa o empresário sem fundamentos para tomada de decisões. Por essa razão se manterá muito reticente em relação a ações empresariais de meio e longo prazo".

Ana Paula Cherobim, diretora do Setor de Ciências Sociais Aplicadas da Escola de Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem opinião parecida. Para ela, no momento, o conservadorismo é a melhor estratégia. "Como diz aquela frase atribuída a Pedro Malan: no Brasil, até o passado é incerto". E prossegue: “Para o negócio crescer, gerar empregos e renda o empresário precisa investir. Desde o MEI até a multinacional, o ambiente de negócios precisa trazer garantias mínimas para a continuidade dos negócios. E no Brasil não se sabe o que vem pela frente: novas leis, regulamentos, exigências não apenas atrasam, mas podem implodir negócios, do pequeno ao grande", comenta.

Para ilustrar a insegurança, ela exemplifica: "Alguém abre uma loja em terreno com espaço para estacionar. Algum tempo depois, a prefeitura vem e proíbe a entrada de veículos naquele lugar (terreno privado) porque a fila de entrada está atrapalhando o trânsito. Para piorar, tira o espaço de estacionamento da rua. Acabou o negócio da loja. Ninguém mais vai até lá, não tem onde parar. Isso também ocorre em escalas maiores, com decisões do governo federal. E em função disso as empresas não estão investindo, não estão contratando, não estão arriscando absolutamente nada".

Para o consultor de gestão financeira Marcos Fascina, estas incertezas se fundamentam na falta de saber com exatidão os planos de governo para a economia de cada candidato. "Todos eles [planos] afetam diretamente empresas e pessoas. Sem saber quem podem ser os novos comandantes, temos receio de realizar investimentos", diz.

Para ele, a única forma de entender um cenário pré-eleitoral é acompanhar pesquisas de intenções de votos. "Acredito que um candidato reformista, aquele que pregar mudanças radicais que fortaleçam a economia terá maiores chances, porém o eleitor precisa conhecer o histórico deste candidato, pois não podemos ter promessas de campanhas não cumpridas. Um político reformista não surge repentinamente", adverte.

Mais concorrência, mais instabilidade

Fascina lembra que quanto mais forte é a concorrência eleitoral, maior é a instabilidade. "Isso desponta uma retração na intenção de investimento por parte das empresas, pois não se sabe qual plano de governo vai prevalecer, aumentando o risco do investimento. As empresas, em especial as grandes e as multinacionais, costumam aguardar uma decisão eleitoral nestes casos, ou seja, o resultado do pleito para então definir investimentos. Se falarmos de investimentos para negócios em fase inicial, isto é mais alarmante ainda, o risco é ainda maior", compara.

Uma boa saída para atravessar momentos de instabilidade sem muitos prejuízos é investir na gestão, aponta Fascina. "Normalmente, empresas com uma gestão mais estruturada são menos afetadas por decisões políticas, desta forma, todas as empresas precisam começar a pensar em uma gestão mais profissional, uma vez que isso permite uma análise com mais confiabilidade, baseada em probabilidades estatísticas em suas decisões de investimento. Decisões erradas afetam no curto prazo toda a população com perdas de postos de trabalho, menor geração de impostos, entre outros fatores".

Após o resultado das eleições, mesmo com a definição dos novos mandatários, ainda é necessário tomar cuidados básicos. "Será necessário entender se o novo presidente terá o numero necessário de votos dentro do Congresso Nacional para implementar as reformas necessárias, em especial a da previdenciária, a tributária e quiçá, a reforma política", observa Rambalducci. "Caso estas condições estejam presentes e o governo consiga mostrar compromisso com o equilíbrio fiscal, atenção à inflação e a manutenção de um câmbio flutuante, a economia responderá com investimentos e geração de empregos. Caso contrário, medidas populistas carregarão a descrença na economia e teremos momentos muito conturbados", acrescenta.

Ana Paula Cherobim também demonstra receio a uma possível vitória de um candidato populista. "Caso algum partido conservador, com orientação mais liberal vença as eleições, o empresariado pode ter alguma esperança de 'normalidade institucional'. Se algum com vocação assistencialista, paternalista vencer, dificilmente as empresas vão retomar investimentos", conjectura.

Já Fascina relata que após definição do pleito eleitoral será possível identificar qual plano de governo deve prevalecer nos próximos anos. "O que as empresas querem saber é se as reformas paralisadas serão retomadas, pois podem garantir o crescimento econômico do país para os próximos anos”, lembra. “A crise econômica se intensificou devido à crise política que assolou o Brasil nos últimos anos, desta forma as empresas precisam encontrar mecanismos de diminuir dependência do Estado, fortalecendo-se no mercado com apoio de gestão eficiente e parcerias em sua cadeia de valor".

Ele lembra do papel fiscalizador das empresas. "Com o resultado das eleições firmados, as empresas têm o papel de cobrar dos eleitos os planos de governos firmados em campanha, pleitear reformas e mudanças que contribuam para o crescimento da economia. Se organizar em comunidades empresariais pode aumentar o poder de cobranças, onde um grupo de empresários se organiza para pleitear melhorias que afetam diretamente a economia como um todo", incentiva.

Como lidar com a insegurança

Sobre como administrar a insegurança em relação às mudanças que estão por vir, Ana Paula Cherobim ressalta que é preciso deixar claro que não existe mágica. "O governo não consegue 'fabricar' dinheiro. Mesmo aqueles com visão mais socialista, favoráveis a aumento de impostos, sabem da existência de um limite. Mas naturalmente não divulgam. Sabem que se aumentar as exigências trabalhistas, o emprego diminui. Se aumentar tributo, o investimento diminui. Não existe como administrar as incertezas de longo prazo, exceto pela participação política", defende.

A importância da credibilidade é destacada por Fascina. "O país e os negócios devem estar nas mãos de empresas e pessoas que fazem a diferença, portanto credibilidade é a palavra de ordem. A melhor forma de administrar uma insegurança como esta é não ficar preso a ela, não ficar preso à crise e sim encontrar mecanismos que fortaleçam os negócios. Ao final das eleições saberemos qual plano econômico tende a prevalecer e, aí sim, é hora de investir para que 2019 seja um ano de prosperidade.

Por fim, Rambalducci pondera que a hora é de se preparar para entender o mercado e a capacidade de compra do consumidor. "Sua empresa deve atender o cliente melhor que o concorrente. Enxugue onde puder, reduza custos e ganhe eficiência. Essa é a melhor forma de se preparar, independente do que tenhamos pela frente", aconselha.


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