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Desafios e oportunidades

Fonte: Revista Mercado em Foco -​ ACIL – Por Susan Naime

Educação, tecnologia e eficiência são alguns dos itens fundamentais para alavancar a economia do Brasil, segundo Ricardo Amorim. O autor do best-seller “Depois da Tempestade” e debatedor do Manhattan Connection, da Globonews, foi avaliado pela revista Forbes como o economista mais influente do Brasil. Também é sucesso nas redes sociais pela apresentação de seus panoramas político-econômico. Em entrevista exclusiva, ele falou com a Mercado em Foco sobre as perspectivas para o País em um ano eleitoral. Confira:

Mercado em Foco: Como você avalia o ano de 2018?

Ricardo Amorim: A gente precisa dividir 2018 em três fases: a primeira foi do início do ano até abril, quando a economia, apesar de não estar nenhuma maravilha, teve um desempenho muito melhor do que a maioria das pessoas imaginavam. No final de 2017 a expectativa média dos economistas para o crescimento do PIB em 2018 era de 2%. Em abril essa expectativa havia subido para 3% porque o crescimento vinha sendo mais forte, tinha geração de empregos e os resultados estavam mais positivos. Nos meses de maio e junho tivemos uma mudança em função de três fatores. O primeiro foi a greve dos caminhoneiros que, sozinha, vai roubar um ponto percentual do crescimento brasileiro nesse ano. O segundo fator foi a elevação dos juros nos EUA. As taxas mais altas lá fora fizeram com que o país americano atraísse mais dinheiro, desvalorizando todas as outras moedas em relação ao dólar. Então entra o terceiro fator, que foi a incerteza eleitoral brasileira. E essa incerteza fez com que no Brasil a desvalorização do real em relação ao dólar fosse muito maior que em outros países. Por sua vez, o Banco Central que vinha cortando as taxas de juros e queria continuar assim, foi obrigado a parar porque a alta do dólar significava produtos importados mais caros e inflação elevada. Inflação que foi agravada pela paralisação da produção por causa da greve dos caminhoneiros. Até maio, a inflação no Brasil foi a mais baixa em 20 anos. Em junho, ela foi a mais alta em 20 anos. Isso fez com que o crédito que vinha se expandindo tivesse uma contração, fato que deu uma segurada na economia. Mas, e daqui para frente? Dependemos dos mesmos fatores: a evolução do quadro eleitoral, verificar como evolui também o cenário externo e se isso poderá atrapalhar a economia brasileira.

MF: A recuperação da economia brasileira já está em curso?

RA: A recuperação da economia começou no ano passado. Em 2017, o PIB brasileiro cresceu 1%, o que é pouco, mas é bom levar em consideração que a expectativa no fim do ano anterior era um crescimento de apenas 0,4%. Em outras palavras: em um ano que começou com a delação premiada do Marcelo Odebrecht (que recebeu o nome de delação do fim do mundo), em maio tivemos reprise do fim do mundo com Joesley Batista e, apesar disso tudo, o PIB cresceu duas vezes e meia a expectativa que havia. Se a gente não eleger um maluco e não haver uma crise externa, o crescimento desse ano vai ser maior que o de 2017, ainda que com o impacto negativo gigantesco da greve dos caminhoneiros. Mas o fato é: a gente está numa recuperação, ela poderia estar mais forte do que está sendo, mas ela já vem acontecendo.

MF: Como um ano eleitoral influencia a economia?

RA: Os anos de eleições são sempre anos de incertezas maiores porque do ponto de vista de quem investe em negócios, essas incertezas levam à paralisação. Se as pessoas não sabem o que pode acontecer no futuro, e é o que acontece quando ninguém sabe quem vai ganhar a eleição e, por consequência, quais vão ser as políticas econômicas, e há candidatos com propostas bastante diferentes, na dúvida, elas não vão fazer uma fábrica nova. Ao não fazerem uma fábrica nova, elas não contratam um monte de gente. Essas pessoas que não têm emprego, por sua vez, ficam sem dinheiro para gastar no supermercado ou no posto de gasolina, o que leva a demissões, e isso gera todo um impacto negativo importante. Se houver eleição de alguém que mantenha uma linha de política econômica parecida com a atual, a economia deve acelerar em 2019 no Brasil.

MF: Quais os desafios do próximo governo?

RA: São gigantes, a começar porque há um descrédito generalizado com a política no Brasil. Um estudo recente do Fórum Econômico Mundial colocou que a credibilidade dos políticos brasileiros, entre 137 países, é a mais baixa no mundo inteiro. Ela está mais baixa do que em países como a Venezuela, Nicarágua e Zambábue. O segundo fator é que o presidente vai entrar com a necessidade de fazer reformas importantes e algumas delas impopulares. Por outro lado, até dois anos atrás o Brasil tinha três grandes desequilíbrios macroeconômicos: um problema grave nas contas externas, um problema inflacionário grave e um problema de contas públicas. Os dois primeiros problemas estão resolvidos. Falta resolver o de contas públicas. Mas não quer dizer que a situação esteja boa, e ano que vem ainda não estará também.

MF: Quais fatores você acredita que podem alavancar e prejudicar a economia brasileira nos próximos anos?

RA: O fator mais importante para o desempenho da economia brasileira nos próximos anos vai ser a capacidade do próximo presidente de fazer as reformas que faltam. A primeira delas é a previdência, a segunda é a tributária, a terceira é enxugar o estado brasileiro, reduzir gastos desnecessários porque o Brasil gasta absurdamente com programas ineficientes. Sendo feito tudo isso a gente vai criar condição de reduzir a dívida pública, reduzir a taxa de juros e, por consequência, ter dinheiro mais barato para financiar consumo e investimento.

MF: Qual solução você vê para que o Brasil encontre o caminho da produtividade e da eficiência?

RA: Eficiência só é possível com três fatores que o Brasil precisaria investir. O primeiro deles é qualificar mais as pessoas, melhorar a qualidade da educação e a educação básica. Se isso for feito, não só melhora a eficiência da economia brasileira, mas de quebra a gente vai ter um impacto brutal no problema da distribuição de renda. A má distribuição de renda no Brasil é consequência da má distribuição de capacidades que, por sua vez, é consequência da má distribuição de oportunidades educacionais. O segundo fator é o investimento pesado em tecnologia. A gente só consegue produzir mais quando as pessoas estão melhores preparadas ou quando elas contam com melhores equipamentos, máquinas e tecnologia. O Brasil ainda tem muito a fazer em termos de inovação. Já o terceiro aspecto é acabar com tudo que trava a eficiência desnecessariamente. O Brasil é um país absurdamente burocrático e, para completar, o setor privado carrega o peso de um estado gigante e ineficiente, então isso reduz brutalmente a eficiência da economia brasileira como um todo. A gente precisa combater de forma incansável a burocracia e reduzir muito o tamanho e o custo do estado brasileiro.

MF: Em sua avaliação, quais são os maiores desafios que as pequenas e grandes organizações enfrentam para lidar com o novo cenário econômico e até mesmo com as mudanças tecnológicas e de inovação? Como passar por esse processo?

RA: Estou absolutamente convencido de que o mundo está começando a passar pelo que deve ser nos próximos cinco ou dez anos, que é o maior processo de transformação tecnológica da história da humanidade. Isso significa que os desafios para todos vão ser brutais e os potenciais de ganho também. Em outras palavras, aqueles que entenderem o que isso vai mudar no ambiente de negócios, quais as oportunidades serão geradas, aqueles que souberem se posicionar, provavelmente vão ter resultados melhores do que nunca imaginaram. A contrapartida é que aqueles que não conseguirem fazer isso, ou que não tentarem, ou não perceberem a devida importância, muito provavelmente vão passar por grandes dificuldades. No Brasil, o desafio é maior porque nos últimos anos as pessoas precisaram focar simplesmente em sobreviver, manter o nariz acima do nível d´água. Com a crise econômica ficou mais difícil ainda as pessoas olharem para a tecnologia, mas se elas não dedicarem algum tempo a entender tudo isso, provavelmente vão ter dificuldades maiores no futuro.

MF: Qual conselho você deixaria a quem deseja empreender neste momento conturbado da economia brasileira?

RA: Ao contrário do que a maioria acredita, as grandes oportunidades de negócios, de investimentos, surgem nos momentos de maior descrença, nos momentos de maior dificuldade, nos momentos em que a grande maioria não tem coragem de fazer nada. O que acaba acontecendo é que a competição diminui exatamente nos momentos de crise, e isso faz com que aqueles que ousam consigam ter os melhores resultados. Mas precisa ser algo inovador, diferente do que já existe, algo que de fato consiga cuidar melhor das necessidades dos clientes desse negócio. Então, o que eu diria é que quem quer empreender, mais do que nunca, precisa cuidar do caixa porque em momentos de crise pode ser que seu negócio demore mais pra “pegar”. Em segundo lugar, é preciso oferecer algo que realmente tenha valor para o seu cliente e são nesses momentos que a inovação se torna mais importante. Se você tiver todos esses requisitos a chance de dar certo é maior do que em momentos onde a economia está mais estável.


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