Irmãs e Irmãos,
Hoje, o Moringão vai se transformar em uma grande Catedral, para que possamos viver a Semana Santa e recordar tantas mensagens que nos são gratas, tais como: Bênção dos Santos Óleos, Renovação das promessas sacerdotais. A Campanha da Fraternidade com seu lema: Eu vim para servir – O Ano da Paz com a meta de lutar contra a violência e a impunidade – A Palavra de Deus nas leituras bíblicas e as mensagens dos Bispos para a Semana Santa.
Mas, um tema nos chamou a atenção de modo especial – a doença da corrupção, em todo o Brasil e qual a Palavra da Igreja sobre o assunto.
Sabemos que no mês de março, depois de protestos e passeatas, o Brasil fez um grande exame de consciência nacional de seu pecado:
Somos uma nação mal cheirosa, com os maus odores da corrupção que se instalou em todos os ambientes, acusando a má educação da consciência de tantos maus brasileiros.
Diante dessa situação, surge uma pergunta: Qual a palavra e a posição da Igreja diante da corrupção?
Por sorte, o Papa Francisco já escreveu um livreto intitulado: A corrupção e o pecado e ele vai nos orientar na resposta.
Neste livreto, como bom médico das almas o Papa Francisco começa revelando que a corrupção não se encontra apenas nas estruturas políticas – (lá é o terminal do esgoto, onde se despeja a corrupção que se encontra em toda parte, a saber, dentro de nós, nos lares, nas empresas, nos governos, nas cidades).
Então o Papa diz que a corrupção não é apenas um ato esporádico, mas um estado de espirito pessoal, social, no qual as pessoas acabam acostumando-se a viver no erro.
Como um bom cirurgião o Papa com o bisturi descobre que a corrupção nasce do pecado do egoísmo e de corações mentirosos que não respeitam a verdade, mas avisa também que ela nasce e cresce inicialmente nos lares.
A corrupção é consequência e fruto de uma má educação de um povo – o povo com o pecado nacional do jeitinho e da lei de levar vantagem em tudo.
Vocês sabem que gosto de contar pequenas histórias para esclarecer e provar as mensagens.
Para provar que a corrupção nasce dentre dos lares brasileiros, contarei uma história:
Uma criança dos seus 7 anos estava viajando num carro com seu pai e ele furou o sinal vermelho do trânsito e a criança pergunta: Mas o sinal não estava vermelho? Não se preocupe filho todo mundo faz assim.
Aos 11 anos, essa mesma criança escuta numa reunião de família que é preciso dar um jeito de não pagar o imposto de renda. Diante do espanto do menino, um tio lhe diz: Não se espante, todo o mundo faz assim.
Aos 18 anos este mesmo jovem foi trabalhar numa feira e o patrão lhe ensina a esconder as frutas estragadas no meio das frutas boas.
Quando o jovem fez uma cara de interrogação, veio a mesma resposta: Aqui todo mundo faz assim.
Aos 21 anos esse mesmo moço foi fazer o vestibular e comprou os gabaritos da prova. Mas foi pego pelos fiscais. Ao voltar para casa todos se desculpavam da má sorte dele. E que isso nunca tinha acontecido na família.
Na hora faltou alguém que denunciasse tudo.
Ele foi um bom aluno da triste escola familiar que lhe ensinou a levar vantagem e dar um jeitinho em tudo, acreditando que o dinheiro e a propina resolvem tudo.
Foi assim que nasceram os grandes políticos corruptos de Brasília, que foram ajudados ainda mais nos seus erros pela influência de partidos abortistas.
O Papa denuncia os escalões, onde se encontra a corrupção, mas surpreendentemente sabemos, pelos jornais, que o Papa denuncia também os erros das pessoas da Igreja.
Quem não se recorda de suas denuncias recentes de corrupção existente entre Cardiais e Bispos que se apresentam como príncipes e com a doença do carreirismo?
O Papa denuncia também a corrupção que se instalou em alguns grupos de padres que se tornaram mais funcionários do que padres, pois não tem mais tempo para acolher os penitentes na hora exata que pedem a confissão ou não fazem a visita pastoral a um doente da família.
O papa reprendeu as religiosas mal vestidas e com cara de quaresma em vez de alegria de gente que escolheu a melhor parte.
O Papa repetidas vezes denuncia a corrupção de tantos leigos com a cara de pimenta azeda e que não revelam a alegria de ser missionários do Senhor.
Mas o Papa não fica apenas em denuncias e lamentações. Bem no seu estilo de Bom Pastor ele diz que a corrupção deve ser curada, à luz do Evangelho que fala de tantas curas e conversões como a do Publicano, de Zaqueu e de tantos outros.
Depois como Bom Médico Espiritual o Papa apresenta – os MEIOS de cura e fala:
Não podemos deixar as coisas como estão.
Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada a uma Igreja fechada.
Vejo a Igreja como um Hospital de Campanha depois de uma batalha.
Quero Bispos e Padres que tenham cheiro de ovelhas.
Não deixem que lhes roubem a esperança de um mundo melhor em Cristo.
Ao lado das orientações do Papa, temos também uma mensagem desta semana dos Bispos do Paraná:
Nossos Bispos na sua mensagem recordam os escândalos do Paraná e de Londrina e dizem corajosamente: Precisamos encontrar juntos, luzes e soluções.
Vou ler no original, um trecho da mensagem.
Como meios de solução apresentamos algumas sugestões:
A Campanha da Fraternidade deste ano, cujo lema é: Eu vim para servir…
O cuidado com os mais pobres para diminuir as desigualdades sociais.
Ainda sofremos, no Paraná, com o êxodo rural, a violência, as migrações (lembremo-nos dos haitianos), os conflitos da terra, o desemprego, etc. estas dores do povo, doem também em nós.
Esperamos que o Ano da Paz, proposto pela CNBB colabore para a superação dos nossos conflitos, pois quem toca num pobre toca na carne sofredora de Jesus.
Por último, não podemos esquecer como remédio contra a corrupção a grande graça que vem chegando para a Arquidiocese de Londrina que serão as Santas Missões Populares, que irão ajudar os católicos a sair pelas ruas e se tornarem discípulos-missionários de Jesus.
Aqui está o Manual com orientações preciosas para a realização das Missões.
Neste manual encontramos motivações de mensagens do Papa Francisco dizendo. Não quero uma Igreja tranquila, quero uma Igreja missionária. E recordo também um aviso do saudoso Papa João Paulo II: Uma Igreja que não é missionária é como uma Igreja doente.
Conclusão: É verdade que todo o Brasil está cheirando mal com a corrupção instalada em todos os setores.
Mas o Papa, no Rio de Janeiro pediu aos jovens: Não permitam que lhe roubem a esperança, pois somos seguidores de Jesus Ressuscitado.
Com humildade, mas também com ousadia e coragem, vamos dar nosso grito de guerra contra a corrupção, assinando na porta das Igrejas, as pesquisas que pedem uma Reforma Política urgente e necessária, mas como católicos e patriotas vamos assinar ainda com mais seriedade, em nossas consciências, o compromisso missionário de fazer todo um país voltar a viver os valores do Evangelho dizendo: Sim à honestidade – à verdade – à justiça e não ao jeitinho – não à corrupção – não às mentiras politicas.
Está na hora da Igreja cumprir sua missão e fazer que a renovação da consciência moral do Brasil, renasça de dentro da Igreja – da Palavra de Deus e do fundo dos confessionários, onde todos iremos pedir perdão do nosso grande pecado – levar vantagem em tudo, dando um jeitinho para tudo.
No final desta meditação, depois de pedir perdão por todas as vezes que colaboramos com a corrupção no Brasil ou pelo nosso silencio culposo diante dos fatos, só nos resta agora apelar pela força da oração: Senhor, iluminai a Igreja do Brasil, seus dirigentes e fiéis para que o pecado da corrupção seja destruído em toda a nação e o povo brasileiro volte a viver a verdade, a justiça e a honestidade e o Brasil ressuscite para uma vida nova segundo o Evangelho de Jesus Cristo. Deus salve o Brasil.
Amém!
Dom Albano Cavallin
Arcebispo Emérito de Londrina