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É dada a largada

Fonte: Ranulfo Pedreiro – Revista Mercado em Foco/ACIL

As eleições municipais de 2020 vão levar Londrina a sua 23ª gestão e ao seu 20º prefeito, levando-se em conta as três gestões de Antonio Belinati, duas de Milton Ribeiro de Menezes e os interinos, que assumiram o cargo para completar mandatos de prefeitos afastados ou cassados. Os desafios para administrar a cidade são inúmeros. Muitos deles, porém, tornaram-se inadiáveis, exigindo que o próximo chefe do Executivo coloque a mão em alguns vespeiros.

Uma vez empossado, qual a medida primordial que o novo prefeito deve tomar para recolocar Londrina na rota do desenvolvimento? Quais são as ações imprescindíveis para a próxima gestão? As respostas dos representantes da sociedade civil organizada variam tanto quanto os problemas, mas alertam para os principais entraves administrativos.

“É fundamental que o próximo prefeito tenha a capacidade de pensar a cidade a partir de suas demandas locais, porém, sem deixar de refletir a integração com o Estado, o País e, sobretudo, com o futuro. Isso significa que é essencial alguém que disponha de habilidade para gerir as questões de ordem local, como saúde, educação e demais serviços públicos, mas sempre atento ao planejamento futuro da cidade”, comenta o cientista político Clodomiro José Bannwart Júnior, professor de Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Enquanto o Executivo se debate para resolver problemas crônicos, a origem da cidade guarda uma dica atualíssima: o planejamento. Olhar para o futuro significa antecipar-se aos entraves e vislumbrar oportunidades sobre perspectivas diversas. Não há, porém, como ignorar a política. Daí a importância de se escolher gestores qualificados.

“Londrina é o que é em razão de sua gênese planejada. E hoje, mais do que no passado – até em função das mudanças aceleradas que a sociedade sofre –, é indispensável antecipar o futuro de forma planejada. Londrina tem um grande potencial. E o aproveitamento desse potencial passa pela escolha de gestores públicos qualificados. O retrocesso, a estagnação ou o desenvolvimento de uma cidade passa necessariamente pela política. E a eleição é sempre uma oportunidade de o cidadão avaliar e indagar qual cidade ele deseja”, destaca Clodomiro Bannwart.

Há quem enxergue a industrialização como opção para o desenvolvimento, associada à melhoria dos acessos rodoviários. “O novo prefeito deve trabalhar na construção de um parque industrial para indústrias maiores, que demandam áreas superiores a 30 mil metros e que tenha acesso fácil a rodovias. A região sul pode ser mais apropriada para esse tipo de empresa industrial. Essa área deverá ter um licenciamento prévio dos órgãos para evitar burocracia e demora na liberação das áreas”, sugere Ary Sudan, ex-vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) e membro do Fórum Desenvolve Londrina.

Para ele, a cidade precisa de uma divulgação voltada à atração de empresas. “Deve-se criar um setor especializado em buscar empresas, divulgando Londrina por todo o Brasil e no exterior como uma excelente cidade para o empresário instalar sua indústria. Este setor deverá ter verba para produzir material de excelência, tanto gráfico como vídeo, além de utilizar a rede social, mostrando Londrina como um lugar ideal para as empresas industriais. A melhor forma de ‘vender’ a cidade é indo ao encontro do empresário”, acrescenta.

A receita também inclui uma revigorada no cenário urbano, tornando-o mais convidativo. “O prefeito deveria lançar um plano paisagístico para cuidar da arborização e das áreas verdes. Londrina perdeu parte da flora urbana e conta com uma arborização em parte inadequada para conviver com fiação, calçadas estreitas, iluminação e todo o equipamento e mobiliário urbano. A cidade merece um plano paisagístico arrojado, que encante o residente e atraia visitantes. A cidade bonita também é fator de desenvolvimento. O setor de promoção da cidade deve ficar dentro da Codel, que tem a missão de promover o desenvolvimento de Londrina”, completa Ary Sudan.

Uma solução passaria pela atualização tecnológica da própria Prefeitura, agilizando serviços e fornecendo informações atualizadas, facilitando a tomada de decisões. “Londrina precisa de uma reforma administrativa que contemple a informatização. O próximo prefeito terá que trabalhar nisso para conseguir uma gestão eficaz. A Prefeitura precisa de um dashboard [interface gráfica onde se visualiza indicadores] mostrando a situação completa da administração, para ganhar agilidade. Pelos números da CAAPSML, a tendência é ter mais aposentados e não poder contratar mais. A solução seria aumentar a produtividade por intermédio da informática, que é um grande gargalo da Prefeitura”, alerta Fernando Moraes, presidente da ACIL.

A CAAPSML – Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais de Londrina – também é elencada, ao lado da Sercomtel, como um problema de primeira ordem na pauta administrativa do futuro prefeito. “Precisa ser feita uma reforma, porque, pelo que estou entendendo dos gestores da Prefeitura, o setor público vai ter que aumentar imposto para fechar a conta para o orçamento de 2020”, revela Moraes.

Expectativas versus Realidade

Como o tema é polêmico, o diálogo com representantes dos diversos setores produtivos de Londrina deve ser colocado entre as soluções viáveis. “O prefeito precisa estar junto com as entidades, com quem quer fazer a cidade crescer e ser desenvolvida. Um ponto que a gente sempre trabalha é a revitalização do Centro, que é sempre a nossa bandeira e também envolve o plano de mobilidade urbana da cidade. Hoje, Londrina é considerada uma das melhores cidades no Ecossistema de Inovação e não pode ter uma Prefeitura sem desenvolvimento de TI”, acrescenta.

Para Antonio Sampaio, presidente da Sociedade Rural do Paraná, a cidade precisa mesmo é de uma visão macro, dirigida às conexões com outras regiões, especialmente São Paulo e o Porto de Paranaguá, para agilizar o escoamento da produção. “Londrina não deve mais ser encarada como uma cidade, mas como uma Região Metropolitana. É importante isso, pois é como ela funciona na prática. A saúde e a educação, nos níveis mais altos, vão se concentrar nos grandes centros. Isso por uma razão operacional mesmo”, ressalta.

As rotas de comunicação, sejam rodoviárias ou aéreas, são dois grandes gargalos para escoamento da produção e integração com outras cidades importantes. “O aeroporto de cargas seria uma estilingada para o crescimento da região, além das ligações rodoviárias com São Paulo e Porto [de Paranaguá]. Seria pensar nos próximos 50 anos. Se nós pensarmos no volume de carga da nossa região que entra e sai do Porto, é brutal”, assegura.

Outro problema, já apontado por Fernando Moraes, estaria na previdência municipal. “A federal está mais ou menos equacionada. Mas as estaduais e municipais vão ter que se adequar. Não podemos deixar de enxergar que a CAAPSML é um buraco negro onde ninguém quer mexer, porque é muito delicado. Mas tem que mexer, porque senão vai engolir a administração num prazo curto de tempo. Está num ponto que todo funcionário público esclarecido e consciente sabe que não dá mais. Não tem outra saída”, alerta.

Pensando em uma Região Metropolitana que também é polo de educação e saúde, o próximo prefeito precisaria contemplar esses dois setores. “Não se constrói uma nação sem educação e sem saúde. Todos os países bem-sucedidos saíram desta base, com uma população educada e saudável. E o saudável não é apenas saúde médica, mas também alimentação. É um contexto inteiro”, argumenta Antonio Sampaio, para quem o Plano Diretor e a falta de liderança na região de Londrina se configuram como dois outros empecilhos para o desenvolvimento.

Como se vê, os problemas são tão amplos quanto as possíveis soluções. Há muito a ser feito e reestruturado. Uma cidade com o dinamismo de Londrina não comporta mais uma gestão correndo atrás do prejuízo. O ideal seria inverter a lógica, antecipando os fatos com planejamento e foco em longo prazo. As administrações contemporâneas investem no futuro, na prevenção, no conhecimento, na inovação. É importante o eleitor ter tudo isso em mente na hora de votar.


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