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Economia Circular: Planejar para reaproveitar

Fonte: Revista Mercado em foco – ACIL – Por Michelle Aligleri

Uma pesquisa realizada pela Nasa em 2014 aponta que se todos os países adotassem o estilo de vida americano, seria preciso contar com cinco planetas Terra para atender as necessidades da população. As mudanças climáticas, tão estudadas por cientistas do mundo todo, reforçam a tese de que o planeta pode estar à beira de um colapso. As poucas reservas de alguns minerais e a contaminação da água, especialmente pelas indústrias, também reforçam o apontamento da Nasa: o planeta pede socorro. Diante deste cenário, que pode ser considerado catastrófico, há pessoas e instituições que nadam contra a maré e buscam um estilo de vida alternativo, que permite que a economia continue se desenvolvendo sem comprometer mais a qualidade de vida dos indivíduos.

O tema é… economia circular. Na teoria, um ciclo sem fim onde o produto (ou parte dele) pronto, usado e uma vez descartado, vira matéria prima para compor outro produto, que por sua vez também será usado, descartado e transformado. Na prática o conceito não é tão simples e nem tão direto. É preciso planejar e adaptar as empresas para que elas possam aproveitar pelo menos parte do produto em um novo item. O professor responsável pelo Laboratório de Estudos sobre Sustentabilidade em Sistemas Produtivos e chefe do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Marco Antonio Ferreira, explica que teoricamente tudo seria insumo, mas o processo produtivo sempre resulta na geração de algum resíduo. “Mesmo que seja mínimo”. Ele aponta que apesar desta filosofia propor aproveitar os resíduos ao máximo possível, na prática alguns itens não se encaixam neste processo.

A aproximação da perfeição na aplicação do conceito pode ser praticada se houver planejamento, investimento e cooperação. A cidade de Kalundborg, no litoral da Dinamarca, é um exemplo de sucesso. “Nesta localidade, as empresas e indústrias foram pensadas para que uma aproveite o resíduo ou a geração de energia da outra. A isso se dá o nome de simbiose industrial, a cidade já foi planejada com o objetivo de reaproveitamento”, explica Ferreira.

No entanto, o professor aponta que o restante do planeta está longe de encontrar soluções definitivas. “Há soluções pontuais, algumas pequenas ações em algumas partes do mundo com resultados bem práticos”, salienta. No Brasil, conforme ele, os destaques vão para a reciclagem do lixo e para o reaproveitamento do chumbo, que chega a 100% na produção de baterias automotivas.

Para analisar esta questão um pouco mais a fundo é preciso olhar o ciclo de vida dos produtos e identificar os impactos causados pela produção. “Falamos de análise de ciclo de vida, o ideal é que o produto tenha mais de um loop. Uma camiseta feita de garrafa pet está no segundo loop, o primeiro é a garrafa e o segundo é a camiseta”, explica o professor.

Colocar em prática parte da filosofia que abrange a economia circular não exige um alto investimento, a substituição de maquinários ou uma revolução dentro das fábricas. Basta, segundo Ferreira, adotar algumas práticas simples. “Qualquer empresa que quiser adotar ações voltadas ao aproveitamento de resíduos pode fazer adequações no seu processo produtivo. Pode captar água da chuva e reutilizar a água do processo produtivo, por exemplo. Essas pequenas ações não fecham o ciclo propriamente dito, mas melhoram a gestão dos recursos”, afirma.

Conforme ele, o objetivo ideal seria que as indústrias chegassem ao ponto de gerar apenas resíduos que pudessem ser reaproveitados. “Quando eu falo de economia circular como um todo, estou falando de políticas macroeconômicas que estão voltadas para o desenvolvimento de uma economia que considera o reaproveitamento dos resíduos”, resume Ferreira.

No Brasil

No Brasil, a legislação tem sido direcionada para a implantação de técnicas sustentáveis nas indústrias. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, consolidada na lei 12.305/2010, determina que a prática da reciclagem seja implantada em todos os municípios brasileiros. “Já é um começo”, defende Ferreira. Ele cita o exemplo do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InPev), que recolhe e possibilita a transformação de embalagens de defensivos agrícolas vazias em artigos utilizados em determinadas áreas da construção civil, como caixas de passagem de fiação elétrica, por exemplo. “O reaproveitamento é limitado por conta do produto inicial, mas o plástico pode ser usado em algumas funções”, explica.

O professor também lembra que a rotulagem ambiental e alguns selos incentivam a adoção de práticas que reduzem o impacto negativo sobre o meio ambiente e que algumas empresas estão se adequando para receber este tipo de certificação. “Hoje existem consumidores que consideram a gestão ambiental da produção na hora da compra. Vejo o consumidor como um propulsor das práticas sustentáveis nas empresas”, destaca.

Conforme Ferreira, a conscientização das pessoas a este respeito está aumentando e as empresas que estiverem preparadas serão mais competitivas. “O ideal é que as empresas se adiantem. Não é preciso surgir uma lei para então se adequar”, defende. O professor lembra que o conceito de desenvolvimento sustentável envolve o desenvolvimento econômico, social e ambiental de uma localidade. “Na economia circular, o ponto social precisa ser melhor trabalhado, mas a lei brasileira considera este fator como prioritário e este é um grande diferencial. A inclusão socioprodutiva de catadores e catadoras de materiais reciclados é um avanço da legislação brasileira”, conclui.

A evolução depende de cada um

Conforme a promotora do Meio Ambiente de Londrina, Solange Vicentin, o primeiro passo para evoluirmos na economia circular e aproveitarmos melhor os resíduos começa dentro das casas, empresas e indústrias. “Nossa maior deficiência ainda é na segregação do material. Enterramos muita coisa que poderia ser reaproveitada”, afirma, referindo-se à grande quantidade de resíduo que é enviada ao aterro sanitário e que poderia ser destinada para a reciclagem.

Ela afirma que de nada adiantaria dominar a tecnologia necessária para fazer o reaproveitamento dos resíduos se não tivéssemos matéria prima para fazer rodar a engrenagem. “As pessoas ainda não têm o hábito de segregar, portanto, não adianta termos tecnologia para reaproveitar. Cada gerador é responsável por dar o destino correto ao seu resíduo”, complementa.

A promotora lembra que, apesar do Brasil ser o país que mais recicla alumínio das latas e de conseguirmos reciclar 100% do chumbo usado na produção de baterias automotivas, ainda precisamos avançar muito. “Estes pontos são importantes, mas ainda é muito pouco perto da quantidade de material que poderia ser reaproveitado”, conclui.


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