Por Giovana Chiquim
A adoção de softwares e aplicativos para aperfeiçoar os modelos de gestão, o atendimento aos clientes e até mesmo para treinar os funcionários, se tornou uma necessidade para os empreendedores que desejam aumentar a competitividade do negócio. E é exatamente a busca pela inovação dos processos, produtos e serviços, que alimenta a indústria de TI, responsável pela criação de ferramentas capazes de implementar melhorias no cotidiano de empresas de todos os portes e segmentos.
No cenário brasileiro o Paraná se destaca na produção de softwares e está apenas atrás de São Paulo no números de empresas que receberam a certificação MPS-BR, que garante a qualidade dos produtos. Das 38 certificações paranaenses, 19 delas foram conquistadas por empresas que fazem parte do Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação de Londrina e Região, o que comprova o potencial do território geográfico na fabricação de produtos de alto valor agregado.
Segundo o presidente do APL de TI de Londrina e Região, Gabriel Henríquez, uma das características que favorecem o desenvolvimento do mercado de softwares na região norte é o porte das empresas. “Grande parte são microempresas e o fato de serem pequenas contribui para a identificação de oportunidades de negócios”, diz. Para ele, a vantagem das pequenas empresas é a facilidade para mudar a configuração do negócio sem esbarrar em burocracias, como acontece nas grandes corporações.
A Oniria é um exemplo de empresa que nasceu com a vocação de produzir games de entretenimento e que mais tarde investiu nos simuladores virtuais. “Em 2006 a empresa praticamente quebrou e se reergueu em 2007 quando olhou para o mercado corporativo”, conta Nícholas Bender Haydu, um dos sócios da Oniria. A empresa surgiu na Intuel, uma incubadora tecnológica de empresas dentro da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e formalizou o negócio em 2002. O mercado de games ainda era incipiente no Brasil e a Oniria foi uma das pioneiras. Em 2005 chegou a vender para clientes na Europa. Em 2006, a empresa tentou investir em um próprio jogo, inspirado na estética de desenhos japoneses, mas o projeto não decolou em virtude de mudanças no mercado mundial de games.
Diante de um cenário de incertezas, a Oniria focou em soluções para treinamentos corporativos e engajamento com simuladores virtuais e gamificação. “Um simulador virtual aborda o realismo para criar um ambiente de treinamento ideal, já a gamificação usa estratégias iguais as dos games para engajar as pessoas no treinamento e no trabalho”, explica Rodrigo Martins de Souza, sócio da Oniria.
Foi a nova plataforma de negócios que trouxe o reconhecimento. O primeiro troféu veio em 2009, quando a Oniria ficou em 2º lugar no “Prêmio Petrobras Melhores Fornecedores de Serviços”. Um dos produtos desenvolvidos para a petrolífera foi um simulador de guindaste offshore para treinamento de operadores. “As variáveis para a simulação do equipamento eram tão grandes que o próprio cliente afirmou que depois que terminássemos tal simulador seríamos capazes de fazer qualquer outro”, relata Nícholas Haydu.
E o cliente estava coberto de razão. De lá pra cá a Oniria acumulou diversos cases de sucesso e se tornou uma colecionadora de troféus: já são nove prêmios que refletem o reconhecimento dos projetos inovadores por parte dos clientes e do mercado.
Em 2013 a Oniria conquistou a Imagine Cup, competição de tecnologia da Microsoft, com a criação do simulador “InsuOnline”. A ferramenta será utilizada pelos médicos para prescrever insulina e melhorar o controle de pacientes diabéticos. O game foi vencedor na categoria Cidadania Mundial e durante a cerimônia de premiação o projeto foi o escolhido, entre os três finalistas, para representar o Brasil na etapa mundial da competição, que aconteceu no ano passado, na Rússia. O “InsuOnline” será lançado no mercado no próximo ano.
Na opinião de Nícholas e Rodrigo, o reconhecimento mais importante é o “Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas – MPE Brasil 2012”, realizado em parceria pelo Sebrae, Fundação Nacional de Qualidade (FNQ), Movimento Brasil Competitivo (MBC) e Gerdau. O prêmio teve mais de 90 mil inscritos e entre os 127 finalistas de todo o Brasil a Oniria sagrou-se campeã na categoria “Destaque Inovação” e foi reconhecida como a pequena empresa mais inovadora do Brasil.
Nícholas Haydu explica que o MPE Brasil estimulou a implementação do “Modelo de Excelência em Gestão” (MEG) na corporação, que aborda os nove critérios de qualidade da FNQ. “Implantamos o MEG na cultura da nossa empresa e o prêmio é o reconhecimento do nosso trabalho”, acrescenta Nícholas Haydu.
Redução de custos e agilidade no atendimento
Ser reconhecido como um parceiro na área de tecnologia capaz de ajudar o cliente a encontrar soluções que podem melhorar sua performance é o objetivo das empresas LB2 Consultoria e Inovare, dirigidas pelo empresário Luister Bonzanini. A LB2 comercializa softwares fabricados por multinacionais e a Inovare atua no desenvolvimento de softwares.
Bonzanini apresentou no IBM Connect 2014, um evento em Orlando, nos Estados Unidos, o case de um produto desenvolvido para a Sercomtel. A ferramenta ajudou a organização a armazenar e proteger um dos seus ativos corporativos mais preciosos: seus dados.
Com a implementação do produto a empresa de telefonia ganhou na agilidade do atendimento e economizou aproximadamente R$ 100 mil por ano. O diferencial na ferramenta, de acordo com Luister Bonzanini, é a concentração do conhecimento da empresa numa única plataforma para facilitar a comunicação. “É como se fosse uma rede social corporativa. Todas as informações são centralizadas no mesmo espaço.”
Outro destaque da Inovare é o desenvolvimento de um software para o Hospital Evangélico, de Londrina, para a manipulação de imagem para cirurgias de alta precisão, principalmente nas especialidades de neurocirurgia e ortopedia. A adoção do videogame em salas de cirurgia ajuda a diminuir o risco para o paciente e demonstra que a tecnologia traz resultados imediatos na rotina das organizações.
A TI também está presente nos negócios de pequeno porte. A Kiwano Tecnologia criou o Cuke, um aplicativo gratuito dirigido para os profissionais de vendas diretas para ajudá-los no fluxo de caixa. Trata-se de uma ferramenta que armazena as informações dos clientes, as vendas, os produtos, as compras e o estoque. “A solução afeta positivamente o cotidiano de milhões de pessoas que tem como única fonte de renda a venda de porta em porta. Essa é a proposta dos profissionais de TI: fazer a diferença na vida das pessoas. Para isso, a TI cria aplicativos que oferecem facilidades, como aqueles que ajudam a pegar um táxi ou a pedir uma refeição em casa”, relata Gabriel Henríquez, proprietário da Kiwano.
Espelho virtual
Os empresários londrinenses Leandro Martini e Luís Carlos de Albuquerque Silva criaram um provador virtual que utiliza a tecnologia 3D para codificar peças de roupas e uma câmera que filma o cliente. Com o Digiglass as pessoas podem escolher os modelos à distância a partir do posicionamento das mãos em frente ao totem e visualizar como ficariam vestidas com as roupas selecionadas. Além de facilitar a prova, o dispositivo armazena informações sobre o perfil dos clientes e gera relatórios. “Não identificamos outro produto parecido no Brasil, que forneça um pesquisa de mercado”, comenta Leandro Martini. O projeto recebeu aporte financeiro do Senai, que também colaborou no desenvolvimento do dispositivo.