Notícias

|

Entrevista: “Cooperação e competição podem andar juntas”

Fonte: Revista Mercado em Foco – ACIL – Por Michelle Aligleri

O Presidente e CEO da Great Place to Work no Brasil, Ruy Shiozawa, em entrevista para a ACIL, falou sobre a força do associativismo para o mercado. O empresário, que é influencer no Linkedin, ressaltou ainda a importância da nova geração de líderes.

Mercado em Foco – De que forma as entidades associativistas podem contribuir com o mercado e com as empresas de modo geral?

Ruy Shiozawa – Estamos passando por um período bem complicado politicamente e eu acredito que as associações têm a função de fazer uma provocação ao mercado. Para a gente mudar de patamar sempre teremos duas escolhas: ou sentamos e ficamos lamentando o problema, ou tomamos a iniciativa e viramos protagonistas da mudança do processo. Num país tão grande como este e com tantas possibilidades, é obvio que temos muitas coisas a serem feitas e muitos espaços a serem ocupados. O papel do associativismo é fundamental para mostrar que há outro caminho. A função não é só mostrar que tem uma luz no fim do túnel, mas que tem um trem lá dentro e que há pessoas se movimentando, comprando, vendendo..

MF – O associativismo talvez seja um caminho futuro para reverter este momento difícil do País?

RS – É um caminho presente e ele já está fazendo isso. Neste momento, ele ganha mais relevância ainda. Esta troca de experiências entre as empresas, que o associativismo permite e estimula, é muito produtiva. Um empresário pode aplicar na sua empresa um exemplo que ouviu de outra instituição. Nesta palestra vou dar duas notícias: uma boa e uma má, ambas baseadas em pesquisas internacionais. A boa notícia fala que colaboradores comprometidos produzem mais, atendem melhor o cliente, postam nas redes sociais que gostam da empresa e dão exemplo positivo. Quando conseguimos o engajamento do colaborador, ele trabalha pela empresa 24 horas. Estas pessoas não encerram o expediente quando dá o horário, encerram quando resolvem o problema do cliente. O associativismo tem esta vocação porque estamos falando de um trabalho que em parte é voluntário. As pessoas se reúnem porque querem, ele estimula este espírito de ajudar e aprender.
A outra notícia que vou dar é que esta pesquisa mundial aponta que apenas 13% da força de trabalho das empresas ou instituições está realmente comprometida. Este é um número muito baixo e é muito preocupante. O desfio agora é aumentar estes 13%. Engajamento é a palavra chave. Ter pessoas engajadas faz com que elas façam muito mais sem precisar promover uma revolução dentro da empresa. Isso parece óbvio, mas estamos no século XXI e temos apenas 13% das pessoas realmente envolvidas com as empresas em que trabalham.

MF – O associativismo está repleto de exemplos positivos, de gente que luta por um bem comum de modo espontâneo. O que pode ser feito para despertar este interesse em um número maior de empresários?

RS – A gente precisa vencer a visão de que para eu ir bem alguém tem que ir mal. Ter um espírito competitivo é muito positivo, mas não quer dizer que para você ganhar alguém tem que perder. Cada vez está se falando mais na cooperação associada à competição. Cooperação e competição podem andar juntas. A competição tem que ser com você mesmo, buscar ter uma empresa melhor, melhor gestão, melhores práticas e a cooperação tem a ver com o grupo e com a sociedade. Não teremos uma sociedade melhor se um está querendo destruir o outro. Quando as pessoas se associam para fazer coisas em conjunto todos ganham força. A sociedade só tem condição de evoluir se manter o foco na visão de cooperação e o associativismo é uma cooperação. Ele pode mostrar o caminho. Quando há trabalho em conjunto todos ganham.

MF – Uma das queixas atuais das empresas é sobre a dificuldade de se encontrar líderes. Esta também é uma realidade em instituições que não têm perfil associativista?

RS – Acho que existe uma mística na questão da liderança. Quando se fala em líder as pessoas exemplificam Steve Jobs, Gandhi, Bill Gates… Talvez aí esteja o erro. Líder é qualquer pessoa que exerce influência, pode ser uma pessoa da comunidade, alguém dentro de casa. Não precisa ser um grande nome. Está na hora de percebermos que o líder não é um cara que tem superpoderes, ele é um cara normal. Para fazermos uma mudança no país precisamos de milhares de líderes. O líder ajuda a levar seus liderados para um caminho melhor e fortalece o espírito de cooperação. Precisamos reconhecer os líderes naturais e estimular estas pessoas a fazerem mais.

MF – As pessoas fogem do cargo de líder, da responsabilidade que isso exige?

RS – Às vezes a pessoa pensa que quando vira chefe passa a mandar. Não é isso. O líder é uma pessoa que exerce influência e que a única diferença dele para os demais é a responsabilidade de cuidar das pessoas.

MF – A inteligência emocional ainda é o ponto fraco?

RS – As empresas precisam cobrir este buraco, elas não estão preparadas para cuidar de pessoas e simplesmente querem ser chefes. Líder é o cara que trabalha mais que os outros, chega mais cedo, sai mais tarde, dá exemplo e inspira equipes todos os dias. Temos uma lacuna brutal, inclusive na formação dos profissionais. Toda faculdade deveria ter uma disciplina de gestão de pessoas e liderança.

MF – Qual a melhor maneira de uma instituição associativista despertar confiança?

RS – Em todos os aspectos da nossa vida a confiança é a peça mais importante, ela embasa as demais relações. Por que dentro de uma empresa, uma instituição ou uma associação, não seria a confiança a questão chave? É preciso trabalhar todos os dias para gerar um ambiente de confiança e tudo começa pelo exemplo. Se quero pessoas dedicadas, preciso me dedicar. Se quero pessoas transparentes comigo, preciso mostrar transparência. Como posso trabalhar em uma organização que não é transparente mas quer que as pessoas deem a sua vida por ela? Se eu não confio nas pessoas para passar informações a elas, como vou querer que elas confiem em mim? A confiança começa pela transparência e passa pelo alinhamento de valores. As pessoas só querem se juntar a grupos que tenham valores compatíveis. Confiança é praticar seus valores e dar o exemplo, o líder deve ser o primeiro a dar o exemplo. Um modelo de gestão injusto não gera confiança. Outra palavra chave na construção da confiança é justiça ou meritocracia. Estes conceitos a gente pode aplicar dentro da empresa, mas também vale entre os associados de uma organização. Isso vale para qualquer organismo social.

MF – Então, a confiança é a base da longevidade de uma empresa e de uma instituição associativista?

RS – A competição tem que ser comigo mesmo e para isso eu vou colaborar mais ainda com o outro. Esta troca que envolve a cooperação está intimamente ligada à confiança e ao fortalecimento das instituições. As organizações que não estiverem pensando em pessoas vão desaparecer. Transpondo isso para o ambiente do associativismo, as associações que não estimularem a cooperação entre os associados vão desaparecer. O fator chave para construir um excelente ambiente de trabalho e de negócios é a liderança. Mas devemos lembrar que qualquer pessoa pode exercer a liderança, independentemente de cargos ou títulos.


Compartilhe com o universo

Compartilhar Entrevista: “Cooperação e competição podem andar juntas” no Facebook Compartilhar Entrevista: “Cooperação e competição podem andar juntas” no Twitter Compartilhar Entrevista: “Cooperação e competição podem andar juntas” no Linkedin

Deixe seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *