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Fusões geram oportunidades para startups londrinenses

Fonte: Francismar Lemes – Revista Mercado em Foco/ACIL

O crescimento das fusões e aquisições de empresas no Brasil, as Mergers and Acquisitions (M&A), aumentou 54% de janeiro até setembro deste ano. No mesmo período, essas transações financeiras em que empresas de todos os tamanhos se abraçam para consolidar o negócio, conquistar mais clientes e expandir, movimentaram R$ 376,2 bilhões. Operação desse tipo alcançou a startup IDTech unico, que recebeu – quase de uma pancada só – três aportes potentes para entrar para o grupo dos unicórnios brasileiros, com faturamento de U$ 1 bilhão.

Você provavelmente não sabe, mas a unico pode ter passado pela sua vida digital, já que 60% dos brasileiros foram impactados por algum dos seus produtos.

Em 2016, a unico incorporou a startup londrinense Arkivus. A empresa surgida na Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina (UEL- Intuel), trabalhava com gestão eletrônica de documentos e, posteriormente, com soluções de biometria facial.

Crescimento

A unico tem um poder de escalabilidade gigante. Com a fusão, a startup de Londrina passou de uma volumetria de 30 mil consultas por mês para 20 milhões de consultas ao mês. O que equivale a sete brasileiros serem autenticados por segundo pela plataforma. Em dez meses, a empresa saltou de 160 funcionários para quase 1 mil.

Ao olharmos para esse crescimento, a gente se pergunta:

Quanto vale uma boa ideia?

No caso da empresa londrinense, valeu a Marcelo Zanelatto, um dos fundadores da Arkivus e diretor de produtos da unico, ver o nome da empresa nos painéis da Time Square, em Nova York.

É de se esperar que a unico escale ainda mais até se colocar ao lado das Big Techs – grandes empesas de tecnologia que dominam o mercado mundial, como o Facebook, Amazon, Google, Apple e Netflix.

“Quando eu abri a Arkivus, nunca me passou pela cabeça que iria ver o nome da nossa empresa, a unico, na Time Square. Hoje, o nosso sonho é se transformar numa big tech. Se alguém falasse isso para mim há cinco anos, quando já estava na unico, eu diria: ‘De maneira alguma. Isso jamais vai acontecer’. Agora, eu vejo de uma maneira totalmente diferente. Conheci essas empresas, conheci as pessoas que trabalham lá. Não têm nada diferente da gente. Têm pessoas boas, gênios e um monte de pessoas supernormais. Conheci um profissional sênior do Google, mas que alguém de Londrina pode fazer o mesmo. Não tem nada diferente. É mais a vontade de fazer acontecer”, afirma Zanelatto.

Ele ressalta que o momento é de grandes oportunidades para as startups. As empresas estão se digitalizando e é possível oferecer soluções que simplifiquem essa relação, com rapidez e segurança.

Aportes

Ao atender essas necessidades, a unico está atraindo fundos de investimentos. Em 2020, teve o primeiro aporte de R$ 40 milhões da e.Bricks, empresa incorporada pela Igah Ventures.

No mesmo ano, a unico recebeu o aporte de R$ 550 milhões do Softbank e General Atlantic, que são os dois maiores fundos de investimentos do mundo em empresas de tecnologia.

“A destinação desses recursos, em boa parte, é para a aquisição de novas empresas. A gente faz isso para crescer mais rápido, através dessas aquisições. O segundo objetivo foi contratação. Vamos crescer time, crescer time, crescer time e trazer gente superboa do mercado. Fizemos várias contratações de peso ao longo do ano. O que é muito bom, porque a gente acredita que para ter uma boa empresa precisa de pessoas. Saímos, no ano passado, de 160 para quase 1 mil colaboradores. Tivemos um crescimento bem elevado. O terceiro pilar são tecnologias proprietárias com a criação de tecnologias próprias. Usamos parte desse dinheiro para isso, para que possamos ser um diferencial, como uma startup tecnológica e não só uma empresa de produtos”, conta Zanelatto.

Retorno

Em dez meses, a unico deu um retorno em torno de R$ 1 bilhão para os dois fundos que, este ano, fizeram um novo aporte de R$ 625 milhões, o que escalou a empresa à condição de unicórnio.

O diretor da unico considera a visão de longo prazo um dos fatores que contribuiu para a aceleração do crescimento da startup.

“Quando a empresa tem um bom produto, a receita é consequência, mas, com o passar do tempo, nós tomamos decisões de longo prazo, que a maioria das empresas não tomariam. Demos passos para trás, sabendo que a gente daria passos para frente. Porém, muitas vezes, esses passos para trás são doloridos. Ao dar um passo para trás, perdemos clientes, deixamos alguns clientes insatisfeitos, perdemos gente do time, mas sabemos que é um pilar importante que está se construindo para fazer não um prédio de cinco andares, mas um de 100 andares. Decisões de longo prazo foram fatores de crescimento. O outro, que eu acho que é o principal para a gente ter tido esse crescimento tão rápido, é que estávamos com o produto certo, na hora certa. O mundo inteiro já estava vindo de uma frente de digitalização pesada. Nós já éramos líderes de mercado e, quando chegou o momento em que teve que se digitalizar de forma obrigatória, porque a pandemia trouxe isso, a gente estava com a solução certa, na hora certa. A gente surfou”.

Cenário

O tsunami da pandemia do Coronavírus, que varreu a economia e tantas certezas que se tinha, não pegou empresas como a unico. Zanelatto avalia que a capacidade de movimentação da startup é uma característica importante em todos os cenários, ainda mais nos adversos.

“Essa é uma característica das startups: conseguir fazer mudanças de direções rápidas e de forma agressiva. O caminho está vindo pra cá, então vira pra cá. Mira o canhão, foca e vamos embora. Vou dar um exemplo. A gente tinha uma solução de identificação eletrônica e contratação de forma remota. O candidato recebe um link no SMS ou e-mail e faz todo o processo de admissão ali dentro. Com isso, reduzimos a jornada de admissão em média de 21 dias para três dias. Quando a pandemia chegou, as empresas passaram a contratar remotamente de qualquer lugar do planeta. Quando todo mundo foi para as suas casas, a gente identificou essa oportunidade. Vamos virar o canhão e fazer esse crescimento acontecer. O nosso produto aumentou em 80 vezes em menos de um ano”, conta o diretor da empresa.

Zanelatto trabalha com a certeza de que tudo vai mudar e avalia que as startups londrinenses precisam enxergar esse horizonte. Ele diz que pode haver outras empresas de Londrina com potencial de crescimento, mas que é preciso extrapolar a visão regionalista.

“Falta o pessoal começar a olhar de uma maneira muito mais ampla, pensando como fazer para resolver um problema global. É superimportante pensar na contratação de mão de obra. Isso vai ficar cada vez mais difícil. Esse profissional está muito valorizado. Agora, com as empresas contratando de tudo quanto é lugar, é natural que venham buscar profissionais aqui. Uma startup que está começando, possivelmente, não vai ter dinheiro para acompanhar o salário de um profissional de tecnologia que está recebendo proposta de uma fintech. É preciso saber logo no começo que vou ter que ir atrás de uma forma para engajar meus colaboradores e trazer gente boa para me ajudar a escalar. Isso vai ser um baita desafio para as startups. Outra dica é focar muito no problema que você quer resolver e verificar se é realmente relevante”, afirma.

Concorrência

Zanelatto tem a mesma avaliação que Thiago Spiri Ferreira, gerente da Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da UEL (Intuel), sobre a importância da troca de experiências.

“Acredito que as empresas que estão começando deveriam compartilhar as ideias, mas com as pessoas certas, órgãos corretos, como Sebrae, incubadoras e universidades. Às vezes, você acha que algo é brilhante, mas pode haver concorrentes à altura que já estão no mercado. Outra dica é o que ofertamos na Intuel: comece com o pé direito. Comece formalizado, buscando fazer o CNPJ e o registro da marca para que outros não registrem primeiro e você tenha que mudar o nome”, orienta Spiri.

Marcelo Zanelatto enxerga muito potencial no ecossistema de startups londrinenses e afirma que é preciso abrir a mente para olhar para fora de Londrina e ter um sonho maior do que os atuais, buscando seniores para ajudar como mentores, advisers.

Thiago Spiri vai na mesma linha e acredita também que é preciso ainda fortalecer o potencial de comunicação do Arranjo Produtivo Local de TI (APL), conectando todos os atores com informação.


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