Investidor deve manter cautela

Mercado sofre turbulência com nova crise política e Tesouro chega a suspender venda de títulos.

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Fonte: Folha de Lodnrina

A crise que atingiu em cheio o governo Michel Temer fez os mercados brasileiros acionarem travas de proteção contra fortes volatilidades nesta quinta-feira (18). O dólar comercial encerrou o dia com forte alta de 8,16%, para R$ 3,390. A Bolsa desabou 8,83%, aos 61.575 pontos, depois de acionar, pela primeira vez desde 2008, a trava que interrompe seus negócios em caso de forte instabilidade, o circuit break. O Tesouro Nacional suspendeu leilões de títulos. 

Economista da Guide Investimentos, Ignácio Crespo diz que o momento exige calma. "Ninguém deve sair por aí desfazendo posições. Não pode seguir a manada. A aversão a risco nem sempre faz sentido", afirma. Para ele, tudo leva a crer que a solução da crise não será rápida. "A percepção de risco pode subir e a Bolsa operar num patamar ainda mais baixo." 

Por isso, segundo Crespo, só o investidor "mais arrojado" deve aproveitar o momento de baixa para comprar ações a bom preço. "A tendência é de incerteza elevada por mais tempo." 

O professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e sócio da Voking Investimentos, Guilherme Ribeiro de Macêdo, é um desses investidores arrojados. Ele aproveitou esta quinta-feira para comprar papéis. Mas, para quem pede uma orientação, a dica é outra. "Meu conselho para quem estiver investindo é continuar investindo. Quem não está deve esperar o cenário clarear", declara. 

Macêdo diz que o escândalo em torno do presidente Temer pegou o mercado de surpresa. "O que tínhamos no radar era a possibilidade de uma cassação do presidente (pelo Tribunal Superior Eleitoral). Mas a probabilidade era muito baixa", ressalta. 

Segundo o professor, nenhum analista sério deve arriscar uma projeção de cenário de curto prazo. "A incerteza é muito grande. Tudo depende das notícias que virão, de quanto o presidente estiver envolvido. Ontem (quinta-feira), em seu pronunciamento, ele demonstrou estar confiante e acalmou os mercados." 

TESOURO 
A professora de finanças do Instituto Educacional da BM&FBovespa e sócia da BSG Duo Prata Treinamentos, Betty Grobmann, ressalta que o impacto do escândalo sobre o mercado de renda fixa também foi muito grande. E dá um exemplo: "O título NTN-B, do Tesouro Nacional, pagava 5,14% de juros reais na véspera e passou a pagar 6,01 (nesta quinta-feira)." 

Para quem quiser investir agora, ela indica o LFT, com vencimento em março de 2023. "Aconteça o que acontecer esse título está seguindo a taxa de juros (Selic)." Betty diz que o momento pede um ativo "mais líquido, que não amarre" o investidor por prazo muito longo. "Não sabemos o reflexo desse monte de delações", justifica. Os investimentos devem estar atrelados à Selic ou pagarem taxa de 100% ou mais da taxa DI. 

Atendendo o mercado corporativo, o planejador financeiro Maicon Putti, da Ideia Consultoria, aconselha os empresários a manterem os investimentos se tiverem um bom projeto. "As taxas de juros hoje não estão absurdas como antes. A equipe econômica deste governo tem credibilidade", justifica. 

SUSPENSOS 
A instabilidade gerada nas taxas de títulos públicos fez o Tesouro cancelar os leilões previstos para a quinta-feira. "O Tesouro Nacional informa que, em razão da volatilidade observada no mercado, não realizará os leilões de venda de Letras do Tesouro Nacional – LTN, com vencimentos em 01/04/2018, 01/04/2019 e 01/07/2020 e Letras Financeiras do Tesouro Nacional – LFT, com vencimento em 01/03/2023, programados para hoje (quinta-feira)." O risco-Brasil medido pelo CDS (credit default swap) tinha alta de 29,39%, para 266,67 pontos. (Com Folhapress) 

Fundo de investimento tem dia agitado 
A quinta-feira (18) foi de muita agitação na sede do Fundo de Investimento em Ações (FIA) Real Investor. O índice da Bolsa, o Ibovespa, terminou a sessão em queda de 8,8%, mas o FIA londrinense perdeu apenas 4% do valor da carteira, conforme garante o gestor César Paiva. 

Isso só foi possível, de acordo com ele, devido a uma combinação de medidas tomadas nas últimas semanas. Paiva diz que, desde o final de março, o fundo adotou postura mais conservadora. "Não que soubéssemos o que iria acontecer, mas havia um ambiente político ruim, o governo Temer tem um teto de vidro, é impopular e estava com dificuldade para aprovar as reformas", justifica. 

O gestor diz que, analisando o cenário, o FIA optou por vender nas últimas semanas parte dos ativos que haviam se valorizado bastante nos últimos tempos. "Vendemos alguns para aumentar nosso caixa e aproveitar novas oportunidades." 

Ele também conta que comprou contratos futuro de dólar e de Ibovespa. Devido a isso, segundo Paiva, o novo escândalo político pegou o fundo "bem posicionado." "Quando o mercado abriu em queda de 9%, a gente vendeu os contratos de dólar e recomprou os do Ibovespa", afirma. Com isso, de acordo com ele, o fundo compensou parte das perdas causadas pela depreciação de suas ações. 

E, ao mesmo tempo em que roubou parte do valor da carteira do FIA, o caos desta quinta-feira abriu oportunidades para o fundo. "Aproveitamos o dinheiro em caixa para comprar ações que tiveram quedas expressivas. São papéis do setor agrícola, de entretenimento, de varejo e bancos." Os deságios, de acordo com Paiva, variaram de 8% a 15% em relação ao preço da véspera. 

Com isso, o FIA, que tinha 70% da carteira em renda variável, elevou essa participação para 85%.

Economistas já preveem corte menor para Selic 

São Paulo – Nem bem a leva de economistas mais resistentes se dobrou às projeções da maioria e passou a contar com um corte na taxa básica de juros (Selic) de 1,25 ponto percentual, o tsunami que atingiu o governo mexe novamente com as previsões para os juros no País. Já há quem diga que o Banco Central deve optar por um corte de apenas 0,75 ponto percentual na próxima reunião, no fim de maio – metade do que chegaram a esperar os mais otimistas. 

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, diz que é bem provável que o corte de 1,25 ponto percentual não se realize porque a previsão se ancorava tanto na alta probabilidade de que a reforma da Previdência fosse votada no início de junho quanto em um câmbio relativamente estável. 

As expectativas de inflação, lembra ela, são muito influenciadas pelo câmbio, cuja trajetória agora é bastante incerta. "E a única certeza que dá para ter neste momento é que a reforma não será votada quando se esperava." Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp, fundo de pensão com R$ 27 bilhões sob gestão, avalia ser possível que a autoridade monetária opte por um corte menor, de 1 ponto percentual, no fim de maio. "Quem apostou em 1,5 ponto está fora do jogo e certamente vai arcar com prejuízo", diz. 

Lucas Marins, analista da Ativa Investimentos, concorda e vai além. Marins não descarta a possibilidade de o BC esperar o cenário ficar mais claro para só depois definir que atitude tomar. "Quem se posicionou apostando que o BC ia cortar 1,25 ou 1,50 ponto percentual pode ter perdido dinheiro". Já o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, avalia que há uma posição de cautela e, ao longo de duas semanas, se tiver um sinal de mudança rápida, sem grandes desgastes, é possível que o recado seja mais moderado e que haja um corte na Selic entre 75 pontos e 100 pontos.

O EFEITO NA ECONOMIA 

Como ficam as reformas trabalhista e da Previdência?

Em um primeiro momento, a crise deve paralisar o Congresso, travando o andamento das reformas, consideradas essenciais para restaurar o equilíbrio das contas do governo e recuperar a confiança dos investidores no país. "O governo estava na direção de conseguir a maioria dos votos, e uma denúncia dessa faz o governo perder a força junto aos deputados", disse Flávio Conde, analista da WhatsCall. "O Congresso vai parar", disse o economista Nelson Marconi, da FGV.

Qual será o impacto sobre a retomada da economia?

O aumento da incerteza política deve prejudicar o frágil processo de recuperação que se desenhava e afastar investimentos. "Se as denúncias se confirmarem, a atividade econômica vai levar mais tempo para sair do buraco", disse Rodrigo Melo, economista da Icatu Vanguarda. O setor agropecuário, que vinha apresentando índices positivos, deve manter o bom desempenho, segundo Marconi, da FGV.

O que pode acontecer com a Bolsa e o dólar?

A reação imediata do mercado tende a ser brusca, segundo analistas. "O dia seguinte é sempre o dia do exagero: a Bolsa cai muito mais do que deveria cair e o dólar sobe mais do que deveria subir porque o cenário fica nebuloso", afirma Conde.

Os juros vão subir?

A mudança do cenário político pode levar o Banco Central a rever o ritmo de corte da taxa básica de juros, a depender do comportamento do dólar e da expectativa de inflação. "O governo vai tentar manter o Banco Central imune a isso. Ele pode acabar não conseguindo baixar tanto a taxa de juros", avalia Fábio Klein, consultor da Tendências.

O que pode ser feito para amenizar efeitos negativos?

O melhor neste momento seria blindar a agenda econômica, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Para ela, seria importante se o Congresso tivesse "maturidade" e preservasse as reformas.

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