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Juntar para crescer

Por Marco Feltrin – Revista Mercado Em Foco – ACIL

 

Somar forças em torno de um objetivo comum. É assim que a humanidade age desde os tempos mais remotos através do associativismo.

Bastam duas pessoas com os mesmos interesses para que esteja formada uma associação voltada a atingir maior alcance social, político ou econômico.

Nos primórdios, as pessoas se juntavam para aumentar sua capacidade de caça e cultivo. Na era industrial, foi preciso se associar para enfrentar condições precárias de trabalho. Hoje, na era do conhecimento, o associativismo se faz necessário para se desenvolver e ganhar voz por meio de grupos mais bem estruturados.

“A polarização entre estado e mercado abriu um novo caminho para a sociedade civil se organizar e buscar seus interesses, até mesmo pressionando o próprio estado ou o mercado. Estes novos arranjos escapam à própria formalização jurídica. Podem ser grupos formados pela internet, mas que se constituem em um algo orgânico, vivo, mesmo que representem uma bandeira momentânea”, analisa o economista e doutor em Ciências Sociais Luis Miguel Luzio dos Santos.

Se o interesse comum é fator determinante para o associativismo, como levar isto para o mundo corporativo, onde a concorrência muitas vezes grita mais alto? Luis Miguel cita o exemplo da Fundação Abrinq, que reuniu as principais fabricantes de brinquedos do país em prol da garantia dos direitos da criança e do adolescente, com projetos de acesso à educação, saúde, cultura e lazer para pessoas em situação de risco. “São atores que aparentemente não conversariam, ou estariam em campos opostos por conta da disputa de mercado. Mas isso não impediu que elas se unissem em favor de uma causa coletiva”.

Ainda dentro do mercado, o associativismo ganha forma com a expansão de Arranjos Produtivos Locais (APLs), clusters e consórcios corporativos que se unem para ganhar em escala. São diversas empresas bancando centros de pesquisa e outras ferramentas que abastecem o conjunto, em um investimento praticamente impossível caso fosse bancado por apenas uma delas.

Segundo o economista, este modelo está consolidado na Europa e Estados Unidos, mas ainda engatinha no Brasil por conta de questões culturais. “Não dá para pensar em associativismo sem fortalecer o capital social. É uma questão de visão de conjunto, de bem comum, e isso é construído lentamente. Temos uma trajetória histórica de uma sociedade hierarquizada que sempre viu isso como positivo. Falta uma visão de que, se o outro não está bem, eu não posso achar que está tudo certo”.

DNA Associativista

O associativismo foi fator fundamental para o crescimento da Angelus, que oferece soluções tecnológicas na área da odontologia e exporta produtos fabricados em Londrina para 65 países.

Quando a empresa dava os primeiros passos, em meados da década de 1990, o então dentista Roberto Alcântara buscou a Incubadora Comercial e Industrial de Londrina (INCIL) para obter informações de como desenvolver sua ideia. “Neste momento, como uma empresa nascente, foi fundamental ter acesso a estes mecanismos do mundo dos negócios, abriu possibilidades de contatos e benchmarking. Se tivesse isolado minha empresa, certamente não teria os mesmos resultados”.

Com o crescimento da Angelus, aumentou também o espírito associativista da empresa. Em 2008, Alcântara foi selecionado para participar da Endeavor, organização com sede em Nova York que reúne empreendedores de alto impacto em todo o mundo. “A Endeavor trabalha como um catalisador, identifica seus pontos fracos, diagnostica seus gargalos e te dá caminhos para encontrar outros empreendedores, cursos, eventos e várias ferramentas para estruturar seu negócio para o crescimento”, explica o empresário.

Na opinião de Alcântara, estar associado a outros empresários, ainda que pertencentes ao mesmo setor, só fortalece o potencial da marca. “Amanhã pode ser seu parceiro, seu sócio. O associativismo quebra barreiras. Quem se esconde não é visto, perde oportunidades de negócios. Sozinho você até pode ir mais rápido, mas em grupo você vai mais longe”.

Para o empresário Marcelo Quelho Filho, presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje), parte do setor ainda tem uma visão de que informação não deve ser compartilhada, ficando preso a uma época onde ainda era possível se vangloriar de um segredo industrial. “Não tem mais fórmula do sucesso. O que diferencia um do outro é fazer, pôr em prática. Compartilhar conhecimento e trocar experiências faz ganhar muito mais, o bolo cresce. É muito melhor ter a fatia de um bolo maior do que tentar comer um bolinho pequeno sozinho”, exemplifica.

Quelho ainda reforça a união como sinônimo de representatividade. “A categoria que me representa precisa de um projeto de lei que tramite no Congresso em Brasília. Eu, empresário de Londrina, sozinho, não consigo chegar lá. Quem se associa ganha voz. É como a história da formiguinha: quando elas se juntam, carregam até um elefante”, compara.

União especial

Não é apenas no mundo dos negócios que o associativismo traz resultados positivos. Causas sociais movidas por interesses comuns também podem render bons frutos, como no caso da Associação das Famílias Especiais de Londrina (AFEL).

Em 2016, um grupo de mães de crianças com necessidades especiais procurou o Ministério Público para uma série de reivindicações como fraldas e medicamentos que não estavam sendo fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Elas ouviram do promotor que a causa era, obviamente, legítima, mas a forma de reivindicar estava desordenada. Caso as mães não se organizassem, não seriam mais ouvidas.

A partir daí, a entidade ganhou corpo e hoje conta com 135 famílias representadas. “Houve uma mudança na forma como somos vistas pela sociedade e principalmente pelos órgãos públicos. Conseguimos uma resposta muito mais rápida das instituições”, conta a vice-presidente da AFEL, Michelle Berbert.

Entre as conquistas estão uma parceria com a Companhia Municipal de Trânsito (CMTU) e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL) para melhorias na acessibilidade urbana, como a ampliação de guias rebaixadas na calçada e a participação na confecção de editais do sistema de compras da saúde, garantindo melhor qualidade nos remédios recebidos.

“Juntas somos mais fortes. Sozinho você não consegue nada. E nós lutamos por esta causa, é um propósito de vida: buscar uma vida melhor para eles e mudar todo este conceito da sociedade. Basta tratar tudo com muito amor que eles terão seus direitos preservados, como qualquer outra pessoa”, aponta a mãe da Valentina, de seis anos.

Apesar das batalhas superadas, a AFEL ainda tem muito caminho pela frente. O próximo passo é a conquista de uma sede própria. “Trabalhamos muito no virtual. Quando necessário, fazemos reuniões em cafés, espaços de coworking. Mas falta um local para atendimento terapêutico, que poderíamos fazer em grupo e reduziria sensivelmente os custos. Fazemos rifas, sorteios, mas com o apoio de parceiros e empresas conseguiríamos dar um salto e por em prática vários projetos”, afirma Michelle.


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